Como furacão e covid mudaram destino de navio tombado com 4.000 carros
O comando das equipes encarregadas de cortar em oito pedaços o cargueiro que encalhou em setembro do ano passado com 4.000 veículos zero-quilômetro nos EUA decidiu adiar a operação.
De acordo com o site "First Coast News", da rede ABC, o fatiamento do navio sul-coreano MV Golden Ray, que tombou nos arredores do porto de Brunswick, na Geórgia, terá de ser postergado por dois meses, no mínimo, devido à pandemia do coronavírus e à temporada de furacões.
Com isso, a retirada do navio gigante e da respectiva carga deverá começar cerca de um ano após o naufrágio.
O atraso rendeu críticas de ambientalistas, preocupados com o risco de contaminação da água por conta dos fluidos no interior dos automóveis e dos mais de 160 mil litros de óleo que ainda permanecem no interior do navio.
Há o temor de que furacões possam movimentar o cargueiro gigante, que mede quase 200 m de comprimento e tem a altura de um prédio de sete andares - embora Efren Lopez, comandante da Guarda Costeira, descarte essa possibilidade.
Além disso, até o momento pelo menos dez trabalhadores da Guarda Costeira testaram positivo para a covid-19, de um total de aproximadamente 300 funcionários. Mais de 50 que tiveram contato com pessoas contaminadas foram colocados em quarentena.
Enquanto isso, a máquina VB-10.000, que será usada para fatiar o navio com os veículos no seu interior, permanece ancorada no porto à espera do início dos trabalhos.
Quais veículos estão dentro do cargueiro
Quais são os modelos de automóveis que estão dentro do navio? E qual será o destino dos carros?
De início, é importante dizer que, apesar de a empresa responsável pelo navio ser a Hyundai Glovis (braço de logística da empresa sul-coreana), porta-voz da empresa afirmou que a carga não conta com carros da marca, e sim com automóveis da Kia e de outras montadoras globais.
Oficialmente não foi divulgada uma lista com os modelos atingidos, mas alguns indícios ajudam a trazer luz sobre quais os carros que aguardam dentro do navio.
Fotos divulgadas sobre o interior do navio mostraram alguns dos veículos submersos e danificados. E as imagens permitem constatar que, dos mais de 4.000 carros nunca rodados, há exemplares fabricados pela General Motors. Analisando duas fotos, conseguimos identificar os SUVs grandes Tahoe e Suburban, da Chevrolet.
Muito populares nos EUA, os dois utilitários esportivos não são comercializados oficialmente no Brasil. No mercado norte-americano, o Tahoe tem preços sugeridos a partir de US$ 49 mil (R$ 252,7 mil no câmbio de hoje) e o Subarban, com chassi alongado, custa desde US$ 51,7 mil (R$ 266,6 mil).
Ambos podem ser equipados com até nove assentos e motor 6.2 V8 de 426 cv na linha 2020.
Quanto aos carros da Kia, o local do acidente ajuda a deduzir quais são os modelos atingidos. O porto de Brunswick fica bem próximo à fábrica da montadora em West Point, Geórgia, onde são fabricados os modelos Telluride e Sorento, outros SUVs de grande porte; e o sedã Optima.
Dos três, apenas o Sorento é vendido no Brasil, com preço a partir de R$ 199.990. O destino do MV Golden Ra era Baltimore, nos Estados Unidos, de onde os carros seriam exportados a países do Oriente Médio.
Qual será o destino dos veículos
Durante o processo de desmontagem do MV Golden Ray, que será cortado em partes com o auxílio de uma espécie de motosserra enorme, parte dos automóveis no seu interior será também fatiada.
Estima-se, inclusive, que haja incêndios durante o processo, por conta do atrito das correntes contra o metal e da presença de fluidos inflamáveis nos carros, como gasolina e lubrificantes.
A Hyundai Glovis informa que vai tentar salvar quantos veículos for possível, embora a maior parte deva ser transformada em sucata para reciclagem.
Quanto ao MV Golden Ray, após ser cortado em fatias, o barco será encaminhado a um estaleiro na Louisiana para ser reciclado ou eventualmente remontado.
Outro navio já foi fatiado com carros dentro
Essa não será a primeira vez na qual um cargueiro naufragado com automóveis zero no seu interior terá de ser cortado em fatias.
Em dezembro de 2002, o navio MV Tricolor foi atingido por outra embarcação após deixar o porto de Zeebrugge, na Bélgica, rumo a Southampton, na Inglaterra - de onde seguiria viagem para os Estados Unidos.
A cerca de 30 km da costa francesa, o Tricolor tombou com uma carga de centenas de carros de luxo das marcas Volvo, BMW e Saaab.
Para tirar o navio gigante do local, e evitar mais danos ambientais após a constatação de um vazamento de óleo, o cargueiro também foi cortado em fatias, igualmente com os automóveis no seu interior, utilizando técnica semelhante - também aplicada no resgate do submarino russo Kursk, em 2001.
No caso, os carros foram vendidos como sucata após o resgate.
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