O que os 'airbags mortais' da Takata têm em comum com explosão em Beirute
A mega explosão que matou mais de 600 pessoas e deixou mais de 5 mil feridos em Beirute (Líbano) no início deste mês está relacionada a uma grande quantidade de nitrato de amônio.
De acordo com investigações, uma carga estimada em 2.750 toneladas da substância química estava guardada desde 2013 no porto da cidade e explodiu, provavelmente ao ser atingida por um incêndio.
Utilizado como fertilizante e também como explosivo de mineração, o nitrato de amônio originou pelo menos 30 explosões graves e tem conexão direta com o maior recall de veículos da história - o dos airbags defeituosos da fornecedora Takata, que já afetou mais de 100 milhões de veículos em todo o mundo e está associado a dezenas de mortes.
De acordo com investigação divulgada em 2016 pela Orbital ATK, feita sob encomenda de um grupo de montadoras, o sal vendido em forma de pó foi utilizado pela Takata no insuflador de boa parte dos airbags problemáticos.
O insuflador é o mecanismo responsável por inflar o airbag em uma fração de segundos, por meio de uma micro explosão controlada, que produz gases.
Conforme a empresa apontou na época, a exposição prolongada a alta umidade e calor, combinada com problemas de projeto, resultam em uma reação química com intensidade maior do que a esperada.
Além disso, a umidade causa degradação de peças metálicas, que se rompem com a força excessiva e projetam fragmentos no interior do veículo, capazes de matar.
Mais de 4 milhões de veículos afetados no Brasil
No Brasil, há dois óbitos comprovadamente causados pelos "airbags mortais" - que motivaram o recall de mais de 4 milhões de automóveis no País, segundo o DPDC (Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor), órgão vinculado ao Ministério da Justiça.
De acordo com o órgão, a adesão às convocações para reparo é baixa: 1.549.295 veículos já foram reparados ou 38,6% do total. Ou seja: mais de 2,4 milhões de automóveis continuam rodando com airbags capazes de matar no Brasil.
Hector Gil, professor de química e coordenador do ciclo básico do curso de engenharia do Instituto Mauá de Tecnologia, explica que o nitrato de amônio não é um produto inflamável nem instável, pronto para explodir.
Na verdade, o sal se decompõe, liberando nitrogênio e outros gases, que rapidamente se expandem. O fenômeno químico acontece apenas sob intenso calor, muito acima da temperatura ambiente - sua ebulição acontece a partir de 210º C.
O professor Gil esclarece que nos airbags em geral um sensor detecta a rápida desaceleração decorrente de uma batida e aciona um dispositivo que esquenta o sal, decompondo-o.
"No caso dos airbags da Takata, o acúmulo de umidade faz com que o sal forme cristais maiores, ficando mais suscetível a uma explosão descontrolada", explica o especialista.
Por esse motivo, o nitrato de amônio deve ser acondicionado de forma adequada, longe da umidade e de produtos inflamáveis, capazes de potencializar uma explosão.
"A maioria das fabricantes de airbags utiliza até hoje no insuflador o nitreto de sódio, mais conhecido como azida de sódio. Esse sal é bem mais caro, mas, em contrapartida, não há relato de que sofra os mesmos efeitos decorrentes da umidade", complementa o professor de química.
Após a constatação das causas do problema, passou-se a adicionar um elemento secante em airbags com nitrato de amônio para impedir sua contaminação pela umidade.
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