Etanol deixará de valer a pena com a nova gasolina? Não é bem assim
Desde o dia 3 de agosto, começou a valer a nova especificação da gasolina, que deverá estar disponível em 100% dos postos do Brasil até o início de novembro - embora já seja comercializada há muitos meses em boa parte do território nacional.
Segundo a Petrobras, maior produtora do combustível derivado do petróleo no País, a nova gasolina traz mais eficiência energética e a promessa de reduzir o consumo em até 6%. Além disso, informa a ANP, a novidade facilita identificar eventual adulteração.
Com a alegada melhoria no rendimento, acompanhada de preço mais alto, fica a questão: vai mudar a histórica relação 70/30 para calcular qual é a opção mais vantajosa, entre gasolina e etanol?
Desde o surgimento dos carros flex, há mais de 15 anos, a escolha tem sido feita por meio de uma conta simples.
Tem funcionado assim: como o combustível de origem vegetal apresenta consumo aproximadamente 30% maior ante a gasolina "antiga", só vale a pena usá-lo quando a diferença no preço superar percentualmente o gasto extra de combustível.
Para saber se o cálculo mudou, UOL Carros consultou o engenheiro mecânico Renato Romio, chefe da Divisão de Motores e Veículos do Centro de Pesquisas do Instituto Mauá de Tecnologia.
De acordo com o especialista, a conta não muda por um motivo simples: o ganho em consumo da nova gasolina é muito pequeno e, além disso, depende de fatores como modelo do veículo, condições das vias, manutenção e estilo de condução.
Isso sem contar que, segundo a ANP e a Petrobras, os benefícios da nova formulação são mais perceptíveis em motores modernos - especialmente os equipados com turbo e injeção direta de combustível, que ainda representam uma parcela relativamente pequena da frota.
Também vale destacar que o percentual de etanol anidro foi mantido em 27% para as gasolinas comum e aditivada e em 25% para a gasolina premium com a nova formulação.
"Em relação à autonomia proporcionada pela nova gasolina, o consumidor não vai notar diferença alguma no dia a dia", afirma o especialista.
De acordo com Romio, "mesmo que o usuário perceba melhora no consumo, não vai identificar a razão disso, pois a diferença é irrisória".
E o desempenho?
Renato Romio explica que o etanol hidratado, aquele usado para abastecimento de veículos, apresenta maior consumo porque sua densidade energética é cerca de 30% menor ante a gasolina. Portanto, requer maior gasto de combustível para percorrer a mesma distância.
Por outro lado, explica o engenheiro, o derivado da cana-de-açúcar queima mais rapidamente do que a gasolina - essa é a razão de muitos motores flex entregarem mais potência e torque ao serem abastecidos com etanol.
Rogério Gonçalves, especialista em novos produtos da Petrobras e diretor de combustíveis da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), destaca que a nova gasolina pode reduzir essa diferença na performance entre os dois combustíveis em carros flex.
Por outro lado, a nova especificação não proporciona potência ou torque acima dos valores máximos informados pela montadora para determinado modelo de veículo, esclarece.
Como é a nova especificação
A nova especificação determina que a gasolina comum, seja importada ou fabricada no Brasil, tenha massa específica mínima de 715 kg/m³ e octanagem de pelo menos 92 octanas de acordo com a metodologia RON (research octane number ou método de pesquisa).
Rogério Gonçalves explica que massa específica, em linhas gerais, é a densidade, enquanto a octanagem mede a resistência do produto à combustão - quanto mais alta, o combustível aceita maiores taxas de compressão e entrega mais desempenho.
Por sua vez, quanto maior for a massa específica, maior será a densidade energética.
A partir de janeiro de 2022, a gasolina comum nessa metodologia sobe para 93 octanas - a Petrobras, no entanto, adiantou-se e já produz esse combustível com a octanagem maior.
Já a gasolina premium deve ter pelo menos 97 octanas, seguindo a nova metodologia.
Esse novo parâmetro de octanagem, de acordo com a Petrobras, é "mais adequado às tecnologias de motores" mais recentes.
A terceira mudança é o ajuste na curva de destilação, termo técnico para dizer que a nova gasolina é menos volátil, proporcionando funcionamento mais uniforme do propulsor.
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