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Peugeot 208 e-GT: versão elétrica traz padrão europeu que faltou ao 'irmão'

Leonardo Felix

Colaboração para o UOL

10/09/2020 04h00

Saio do interior do novo Peugeot 208 Griffe 1.6 automático. A impressão havia sido boa: a nova geração do hatch é (muito) bonita; o acabamento interno, correto, embora simples; o motor 1.6 flex de 115/118 cv responde surpreendentemente bem, praticamente anulando o desejo pelo tão aguardado (e ignorado) 1.2 turbo.

Mas aí eu entro no novo 208 e-GT, nome pelo qual a versão elétrica do compacto, conhecida como e-208 na Europa, será chamada no Brasil. Diferentemente das versões a combustão, que virão da Argentina, a configuração movida 100% a eletricidade será importada do Velho Continente.

Por isso mesmo, possui um padrão de sofisticação que o novo 208 argentino, infelizmente, não é capaz de acompanhar. E olha que não estamos falando nem do desempenho ou da dinâmica de condução.

Afinal, é descabido comparar motorizações com propostas tão diferentes. O propulsor elétrico do e-GT entrega 136 cv de potência e abundantes 26,5 kgfm de torque, prometendo fazer o compacto ir de 0 a 100 km/h em apenas 8,1 segundos.

É mais rápido do que os 8,4 s de 0 a 100 km/h anunciados para o Volkswagen Polo GTS e seu 1.4 TSI de 150 cv e 25,5 kgfm. Isso dá uma noção do nível de esportividade e diversão que se encontra a bordo do 208 elétrico.

E se o novo 208 térmico tem suspensões 1 cm mais altas, calibração pensada para fazê-lo encarar com mais valentia as (muitas) imperfeições de nossa malha viária, o e-GT preserva a calibração europeia, mais baixa e dinâmica.

Alie isso ao posicionamento no assoalho das baterias de íon-lítio com 50 kWh de capacidade, o que ajuda a reduzir seu centro de gravidade, e às rodas aro 17 com perfil mais largo. Voilà: temos um hatch muito assentado no chão e capaz de fazer curvas com incrível destreza.

Um rival à altura do Polo GTS, sem dúvida. E se não fosse a ausência de ruído de motor, nem perceberíamos que se trata de um elétrico. Porque não há qualquer intenção de destacar o fator "carro elétrico" no exterior do 208 e-GT. Ele passa tranquilamente por um hatch invocado, mas comum. Essa talvez seja uma de suas maiores vantagens.

A propósito, a autonomia do 208 e-GT é estimada em 350 km no ciclo WLTP. Em um carregador rápido DC de 100 kWh, é possível recarregar 80% das baterias em apenas 30 minutos. Em um wall box AC de 7 kWh, o tempo sobe para sete horas e meia (carga completa). Numa tomada doméstica, são 24 horas.

Por fora, o elétrico traz como diferenças em relação ao 208 convencional a possível pintura amarela, exclusiva desta versão, além de filetes amarelos nas pequenas divisórias da grade em cascata, molduras em preto brilhante nas caixas de roda, para-choque traseiro exclusivo (e com menor ângulo de saída) e o emblema e-GT na tampa do porta-malas.

Mas também não é isso que queremos comparar com o 208 argentino. Afinal, as características estéticas vão do gosto de cada freguês, enquanto a famosa "tropicalização" das suspensões é comum e até necessária para qualquer carro rodar em nossas vias de qualidade tão ruim.

O ponto está no refinamento que se encontra na cabine dos passageiros. Quer dizer: há também os freios traseiros a disco, que no 208 a combustão insistem em ser a tambor. Mas o grosso dos elementos discrepantes fica mesmo dentro do habitáculo.

Impossível não entrar no 208 e-GT e observar, de cara, que o console central é elevado e possui freio de estacionamento elétrico. Ou que o painel possui todo o revestimento superior suave ao toque, e não apenas a faixa horizontal ao centro, como no 208 térmico.

Ou que a central multimídia flutuante tem 10 polegadas, e não 7. Além da tela maior, possui resolução melhor e respostas mais rápidas aos comandos. Ou, ainda, que a manopla de câmbio estilo joystick é muito mais moderna e legal. Ao menos o teto panorâmico é igual nos irmãos europeu e sul-americano.

É bem verdade que o 208 e-GT não enfrentará uma valeta (e são muitas por aqui) com a mesma maestria do 1.6, mas não seria perfeito se tivéssemos na América do Sul um hatch compacto construído com esse esmero e refinamento?

Importante ressaltar que o novo 208 argentino não tem um interior ruim. Pelo contrário, faz até bonito para os padrões do segmento nacional de hatches compactos. A questão é que o europeu está um degrau acima, o que seria perfeito para ele, mas sabemos que, em nossa realidade de mercado, chegar a tal nível não passa de um sonho.

Uma pena, também, saber que a configuração elétrica terá preço bem mais proibitivo do que as versões térmicas, e que suas vendas, provavelmente, serão restritas a um lote pequeno de unidades. Ou seja: o sonho de ter um 208 "padrão europeu" na garagem se tornará realidade para pouca gente.