Como dono de Escort venceu Chiquinho Scarpa para ter 1ª placa cinza do País
No início de 1990, o então presidente Fernando Collor tinha acabado de tomar posse, a moeda brasileira era o cruzado novo e o País se preparava para substituir a placa veicular amarela pela cinza. Por trazer uma letra a mais, o novo padrão permitiria um número maior de combinações, de forma a atender a frota em expansão.
Além disso, a novidade marcaria a implementação do Renavam, o Registro Nacional de Veículos Automotores.
Coube ao Paraná a missão de lançar a placa cinza, ao receber em fevereiro daquele ano a sequência inicial de AAA 0001 a BEZ 9999. Na época, o governo paranaense anunciou nos jornais que leiloaria exemplares do primeiro lote - despertando enorme interesse de fãs de carros em geral.
O arremate aconteceu em Curitiba (PR) no dia 15 de março de 1990, quando o empresário Jaime Nunes da Silveira Filho completou 30 anos de idade. Ele participou do leilão e saiu de lá com quatro placas - incluindo a primeiríssima AAA 0001, que até hoje está instalada em seu Ford Escort XR3 1.8 1990 conversível com pintura cinza Londres.
Em conversa com UOL Carros, Jaime conta que foi ao evento sem grandes esperanças de levar a primeira placa cinza do Brasil. Ele relata que, antes de realizar o leilão, o Detran-PR já estava recebendo ofertas, que iriam definir os lances iniciais. O socialite e milionário Chiquinho Scarpa ofereceu 200 mil cruzados novos pela 0001, diz.
Para se ter uma ideia, o Escort 1990, que então pertencia a seu pai, custou pouco mais do que 630 mil cruzados novos.
"Tratava-se de muito dinheiro, quase um terço do valor de um XR3 novo. Meus planos eram de levar a placa com final 1000, já que meu pai estava prestes a pegar uma Ford F-1000 zero-quilômetro. Também queria a combinação AAA 0011, pois foi em um dia 11 que comecei a namorar minha mulher. Queria dar a ela de presente".
Silveira Filho foi ao arremate no lugar do pai, que não pôde comparecer porque tinha acabado de passar por uma cirurgia.
"Foi a maior disputa. Havia muitos despachantes representando empresários e colecionadores. A placa com final 1000 passou de 100 mil cruzados novos e parei de dar lances, por achar que era demais".
A certa altura, o empresário tinha arrematado três pares de placas, pagando bem menos por eles: AAA 0011, AAA 9000 e AAA 8888. Eles foram instalados, respectivamente, em um Escort XR3 azul, uma Ford F-1000 branca e um Volkswagen Santana, também branco - todos de modelo 1990.
"Já pensava em ir embora e o salão começava a esvaziar quando alguém do Detran informou que o Chiquinho Scarpa estava fora da disputa, pois só poderia adquirir as placas quem tinha domicílio fixo no Paraná. A placa 0001 ainda não tinha sido leiloada e fiquei. Um amigo me instigou e resolvi abrir o bolso. A 'briga' ficou entre mim e outra pessoa. Acabei levando por 230 mil".
Outra curiosidade: um dia após ele adquirir as placas, o governo federal anunciou o Plano Collor - a iniciativa bloqueou cerca de 80% do dinheiro então disponível em cadernetas de poupança, contas-correntes e aplicações financeiras e limitou os saques a 50 mil cruzados novos.
"Os cheques só foram descontados porque sua data era do dia anterior a 16 de março de 1990".
Consultado, o Detran-PR confirma a ocorrência do leilão e informa que o dinheiro arrecadado foi destinado ao Provopar (Programa do Voluntariado Paranaense).
Hoje, quem desejar adquirir uma placa específica no Estado, caso ela esteja disponível, paga uma taxa de R$ 150 e a quantia também vai para o programa social.
XR3 está à venda
Mais de três décadas depois, Jaime mantém orgulhoso o Escort XR3 cinza conversível com placas AAA 0001 - os demais veículos já foram passados adiante.
O esportivo, relata, está como saiu da concessionária e tem apenas 1.050 km rodados.
"Guardo o carro protegido com uma capa e raramente saio com ele. Faço o motor funcionar todas as semanas e a manutenção está em dia. Todos os pneus e até as borrachas do limpador do para-brisa, que protejo com uma espuma, são originais".
"O XR3 nunca pegou chuva nem foi lavado. Só é encerado de vez em quando", destaca o empresário, que hoje está com 60 anos de idade.
Jaime não sabe a razão, mas afirma que, volta e meia, recebe multas de trânsito por conta de infrações cometidas em outros veículos. Ele acredita que a razão disso sejam justamente as placas.
"Já chegou multa de moto, por pilotar sem capacete, e de caminhão, por trafegar com excesso de carga. Veio notificação até do Ceará e tive de provar que não foi o meu veículo".
Silveira Filho quer vender seu XR3, alegando "não ter mais tempo para cuidar dele". Mas não aceita qualquer oferta.
"Não vendo por menos do que R$ 300 mil".
Um detalhe: se o Escort for efetivamente vendido, permanecerá com as placas atuais - desde que o novo proprietário mantenha Curitiba como município de registro.
Caso a cidade seja alterada, aí as chapas terão de ser substituídas pelo padrão Mercosul - e a sequência de caracteres ficaria AAA 0A01.
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