De Fox 1.0 a Ferrari: como Neymar passou sufoco em teste de CNH há 10 anos
Neymar hoje possui e dirige carrões de marcas como Ferrari. Porém, o início da sua trajetória como motorista habilitado foi ao volante de um Volkswagen Fox 1.0 sem direção hidráulica nem outros confortos.
Foi nesse modelo, de uma autoescola de São Vicente (SP), que o então jogador do Santos fez as aulas práticas em 2010. Também foi no Fox preto que o craque passou no teste para tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) em março daquele ano, na mesma cidade do litoral paulista.
O exame virou evento, com cobertura da imprensa e uma multidão assistindo, relata a UOL Carros o delegado de polícia Jorge Álvaro Gonçalves Cruz, hoje titular do 7º DP de Santos.
Cruz foi o examinador na temida prova de baliza e recorda que o então atleta do Santos estava tenso e perdeu dois pontos de três possíveis para receber a sonhada habilitação.
"O Neymar tinha apenas 18 anos e havia cerca de 200 pessoas em volta dele, entre fãs, instrutores e outros alunos. Notei que estava com a perna tremendo. Para descontrair, disse que ele tinha recentemente marcado gol de pênalti no São Paulo do Rogério Ceni, com paradinha e estádio lotado, e não iria tremer ali", conta o delegado, que na época também era diretor da 112ª Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito).
Torcedor do Peixe, Cruz referiu-se à vitória do Santos sobre o São Paulo por 2 a 1 em fevereiro daquele ano, na Arena Barueri, pelo Paulistão.
Na baliza, o atleta colocou o carro na vaga direitinho, mas ameaçou sair do veículo antes de tirá-lo de lá. Mas não foi isso que fez Neymar perder os dois pontos, diz o delegado.
"Ele foi muito bem na baliza e o desconto na pontuação aconteceu durante o teste de percurso, com outro examinador. Não lembro quais infrações cometeu, creio que deixou de dar seta. Não demos qualquer moleza, o tratamento foi o mesmo dado aos demais alunos".
Grito de alerta
UOL Carros também conversou com Fábio da Silva Bullo, de 52 anos. Ele foi o instrutor de Neymar nas aulas práticas e acompanhou o atacante na prova.
"Aquele dia foi um alvoroço. Quando o pessoal viu que era o Neymar, começou a gritar o nome dele, pedindo foto e autógrafo. Geralmente, durante o teste de baliza, os demais alunos ficam no outro lado da rua para dar um espaço. Porém, com ele não foi assim".
Ao perceber que o jogador ensaiou abrir a porta após encaixar o carro, Bullo tratou de alertá-lo:
"Não! Você não pode sair antes de tirar o veículo da vaga!", gritou para o aluno famoso.
"Durante as aulas, ele sempre saía do carro para conferir se tinha feito a manobra corretamente. Acredito que teve o impulso de fazer o mesmo naquela hora, por nervosismo".
Depois de ser informado que passou, conta o instrutor, Neymar "ficou todo contente" e foi logo mostrar a folha de aprovação aos pais, que o acompanhavam na ocasião.
"Eles se abraçaram. Acho que começou ali a liberdade dele. Com apenas um ano como atleta profissional, já tinha um Volvo XC60. No entanto, até então dependia do pai, do segurança ou de amigos para levá-lo a tudo quanto era lado".
Bullo lembra que Neymar contava com o auxílio do amigo e colega Paulo Henrique Ganso, que constantemente dava carona para os treinamentos.
'Volante pesado'
Na profissão desde 1997, o instrutor conta como foi o convívio durante as aulas, que levaram cerca de dois meses - por conta da necessidade de conciliar os horários com os treinos e os jogos do Peixe.
"Ele desempenhou bem, seguia tudo o que eu falava. Aprendeu facilmente. Acredito que a habilidade como jogador e o fato de gostar de carros contribuíram para isso", opina.
Bullo acredita que a maior dificuldade foi com o volante "pesado" do Fox e descreve a então revelação do futebol como alguém "simpático com todo mundo", que "atendia a todos os pedidos" de selfies e autógrafos.
"Eu sou palmeirense e a chave do Fox tinha um chaveiro do meu time do coração. O Neymar sempre brincava, dizendo que me daria um chaveiro do Santos para eu trocar".
O instrutor diz conhecer o craque desde os 13 anos, quando ele começou a frequentar as festas de fim de ano da autoescola onde mais tarde iria estudar - Isaías Júnior, o proprietário da empresa, é amigo de Neymar pai, com o qual atuou como jogador.
"O Neymar já treinava no Santos e chamava a atenção o chute forte. Falávamos que no futuro iria dar trabalho, mas não imaginávamos que se tornaria um atleta do nível que atingiu".
As fotos que ilustram esta reportagem, incluindo a licença de aprendizagem devidamente autografada, são do arquivo pessoal do instrutor.
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