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Motor possuído? Como carros a diesel não desligam mesmo após virar a chave

Motores a diesel têm ignição por compressão, sem necessidade da centelha de velas; vazamento do combustível ou do óleo lubrificante na admissão pode fazê-los disparar - Divulgação
Motores a diesel têm ignição por compressão, sem necessidade da centelha de velas; vazamento do combustível ou do óleo lubrificante na admissão pode fazê-los disparar
Imagem: Divulgação

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

04/10/2020 04h00

Basta fazer uma pesquisa na internet para encontrar relatos de veículos a diesel cujo motor começa a acelerar sozinho e não desliga após girar a chave de ignição.

A rotação pode subir de forma descontrolada, lançando uma grande quantidade de fumaça branca pelo escapamento. Quando isso acontece, não é raro o motor ser inutilizado em poucos minutos, com quebra do respectivo bloco.

Ele pode, literalmente, explodir em casos extremos.

É como se um "fantasma" estivesse pressionando o pedal do acelerador, sem que nada pudesse ser feito para impedi-lo.

Na verdade, trata-se de um fenômeno conhecido como motor disparado.

Land Rover Defender soltando fumaça pelo escapamento - Renato Stockler/Folhapress - Renato Stockler/Folhapress
Motor a diesel disparado geralmente solta fumaça branca e risco de quebra em poucos minutos é elevado
Imagem: Renato Stockler/Folhapress

De acordo com Erwin Franieck, mentor de tecnologia e inovação em engenharia avançada da SAE Brasil, os propulsores a diesel têm uma característica única que explica o problema: sua ignição acontece mediante compressão, sem a necessidade de uma vela que gere faísca - como em automóveis flex ou a gasolina.

"Os motores de ciclo diesel não têm ignição por centelha. Portanto, basta que haja combustível em seu interior para que eles continuem operando", explica.

Portanto, qualquer vazamento de diesel nos injetores ou no coletor de admissão irá manter o motor em operação de acordo com o volume deste vazamento, aponta o engenheiro.

O defeito também pode ser decorrente de dosagem excessiva do combustível injetado.

Em sistemas de injeção mais modernos, a "disparada" geralmente não está relacionada à queima do diesel e, sim, do lubrificante do motor.

É neste caso que "o bicho pega" e a chance de prejuízo cresce consideravelmente.

O óleo pode "invadir" a admissão por meio do turbocompressor - caso o eixo da turbina se rompa, o lubrificante, que deveria ficar contido nos respectivos mancais, vaza sob alta pressão e entra em combustão.

O desgaste dos anéis dos pistões é outra causa comum de entrada de óleo nos cilindros.

É por isso que não adianta tentar desligar "na chave": enquanto houver algo para queimar, o próprio movimento dos pistões mantém a compressão e a temperatura necessárias para a combustão descontrolada.

E como se faz para parar um motor "possuído"?

Caso a rotação não esteja elevada demais, Franieck recomenda engatar uma marcha alta para fazer o propulsor "apagar".

Mas isso pode não ser suficiente.

Outra saída seria bloquear a admissão de ar, de forma a parar a combustão. Mas, por motivos óbvios, isso deve ser feito preferencialmente por um profissional ou alguém com conhecimentos técnicos.

E tem de ser o mais rápido possível.

Caso as medidas descritas não surtam efeito, o ideal é se afastar do veículo e aguardar, a fim de evitar o risco de ferimentos em uma eventual explosão.