Fusca da Telesp resiste 22 anos após privatização e mantém até escada
Em meados de 1998, quando a Telesp e outras empresas da Telebras foram privatizadas, uma linha telefônica custava cerca de R$ 5 mil, os orelhões ainda eram bastante utilizados e poucas pessoas tinham telefone celular.
Passados 22 anos, um Volkswagen Fusca 1984 a álcool, que pertenceu à empresa de telefonia paulista, continua rodando e exibe orgulhoso a pintura amarelo Manga com detalhes azuis, bem como o logotipo na mesma cor com três bocais que marcou época.
O carro em questão mantém a escada no teto e até o número de matrícula utilizado por Antônio Henrique Estefani quando trabalhava na Telesp como instalador e reparador de linhas e aparelhos. Ele entrou na empresa em 1984, quando ainda era estatal, e saiu de lá em 2008.
O Fusca da Telesp não é o mesmo carro que Estefani dirigia na época, embora ele tenha convicção de que pertenceu à companhia, hoje incorporada pela Vivo.
O ex-funcionário e o sobrinho Guilherme Rocha compraram o carro em Sorocaba (SP) há cerca de um ano para deixá-lo do jeito como era há mais de três décadas. Recentemente, poucos meses após a conclusão da reforma, eles venderam o veículo ao colecionador Alexandre Badolato.
Morador de São Roque, no interior paulista, Rocha conta a UOL Carros que o Fusca trazia pintura branca quando ele e o tio o adquiriram.
Contudo, relata que foi possível comprovar que o carro, de fato, já pegou no batente a serviço da Telesp.
"Cheguei lá e o Fusca estava branco. Como a Telesp realmente teve automóveis nessa cor, fiquei naquela dúvida. Segundo o vendedor, o veículo foi da empresa, mas não tinha documentos para comprovar o que dizia".
Após fecharem negócio, tio e sobrinho rasparam uma parte da tinta branca e encontraram embaixo a familiar pintura na tonalidade amarelo Manga.
"Aí a gente teve certeza. Além disso, encontramos vestígios da instalação de uma caixa de ferramentas de fibra de vidro que ficava no lugar banco traseiro em automóveis da frota", afirma Guilherme Rocha.
Reforma caseira
Segundo ele, que é funcionário da Prefeitura de São Roque, apesar da ligação sentimental, desde o início a ideia era reformar o Fusca, curtir o carro durante um breve período e depois vendê-lo.
O trabalho foi realizado pela dupla na garagem de casa, da mesma forma que projetos anteriores de restauração de veículos. No caso do Fusca, os únicos detalhes terceirizados foram a pintura e a aplicação dos grafismos.
"Iríamos pintar o logotipo e as inscrições, mas decidimos usar adesivos já pensando que o futuro dono talvez quisesse remover essa caracterização. Saiu mais caro do que pintar. Por outro lado, não encontramos o suporte de escada original, então construímos um nós mesmos.
A principal referência para reproduzir fielmente a aparência do Fusca da Telesp foram fotos de época encontradas na internet, além de uma miniatura.
O visual ficou completo com a adição de alguns cones, da escada de fibra de vidro original e de dois terminais telefônicos que Estefani usava na época.
O ex-instalador, que atuava na cidade de São Paulo, relembra como eram os veículos da Telesp antes da venda da companhia para a espanhola Telefônica, controladora da Vivo.
"A Telesp tinha na época frota de veículos própria, composta por Fusca, Fiat 147 e Kombi na cor amarelo Manga com faixa azul nas portas e no teto", explica.
"Por volta de 1987, houve uma renovação da frota, que passou a ter VW Saveiro e Chevrolet Chevy 500, que trocaram o amarelo pela tonalidade branca, mantendo a mesma faixa azul com o logotipo da empresa. Os antigos Fuscas e Kombis foram reformados e também pintados de branco", diz Antônio Henrique Estefani.
Pouco depois da privatização, quando a Telesp passou a se chamar Telefônica, vários serviços passaram a ser terceirizados.
"Com o tempo, a Telefônica preferiu se desfazer de sua frota e passou a alugar veículos ou utilizar carros de firmas contratadas", complementa Estefani.
Diversão é garantida
Também conversamos com o novo dono: Alexandre Badolato, que possui a maior coleção de modelos nacionais da Dodge no Brasil, além de veículos antigos de outras marcas.
Sua coleção é mantida no interior paulista.
Badolato, que cedeu a maioria das fotos que ilustram esta reportagem, confessa que não é o maior fã de Fusca, embora tenha se encantado pelo exemplar alaranjado recém incorporado à frota.
"Esse Fusca é pura nostalgia e o preço estava convidativo. Ele tem alguns pequenos defeitos de pintura e acabamento, mas é muito autêntico e está absolutamente dentro da proposta e do contexto. Foi muito bem restaurado", elogia o colecionador, que também administra o canal Agbadolato no Youtube.
Confira o vídeo que ele fez da nova aquisição:
Badolato afirma que o Fusca da Telesp com escada no teto tem proporcionado momentos divertidos.
"Onde vou com ele é só risada. Já apareceu gente perguntando se eu iria consertar telefone fixo. Há alguns dias, visitei amigos com o Fusca. Pouco depois de estacioná-lo, a segurança do condomínio ligou, dizendo que naquele horário não poderia ser realizado serviço de manutenção ali. Dei risada".
Embora não tenha documentos para comprovar, o colecionador e youtuber acredita que o Fusca seja autêntico.
"Tem todas as características dos automóveis usados pela Telesp. É um "pé de boi", não tem nenhum opcional e o motor é a álcool".
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