Chevette País Tropical: carro raro 'do Jorge Ben Jor' é caçado em cemitério
Fã e restaurador de carros nacionais antigos, Rafael Finardi desconfiou ter encontrado uma raridade enquanto dirigia do trabalho para casa, em 2017. Na ocasião, ele avistou um Chevrolet Chevette bege estacionado em frente a um cemitério na cidade onde mora - Jundiaí, no interior paulista.
Na hora, seu faro lhe disse que o velho sedã poderia ser um exemplar da série limitada País Tropical, comercializada durante apenas dois meses em 1976 e que, estima-se, teve cerca de 300 unidades produzidas. Hoje, a maior parte delas já virou sucata.
"Perto do carro, havia um homem pintando o anúncio de uma pet shop no muro do cemitério. Segui meu caminho e me arrependi de não ter parado. Uma semana depois, voltei e o Chevette ainda estava lá", conta Finardi a UOL Carros.
Ele, então, aproveitou para ver o veículo de perto e tirar fotos. Foi quando teve certeza: tratava-se mesmo de um País Tropical, nome que homenageia a famosa música de Jorge Ben Jor - que, na década de 1970, ainda se chamava Jorge Ben.
Imediatamente, surgiu aquela coceira que só os colecionadores entendem: Rafael estava decidido a comprar aquele que, na sua avaliação, talvez seja o Chevette mais raro já fabricado.
"Consegui o telefone do proprietário, que era o pintor do muro do cemitério. Porém, não queria vender. O carro foi adquirido pelo pai dele em 1992, diretamente do primeiro dono, e todos os filhos aprenderam a dirigir nesse Chevette. Mas eu nunca desisti. A cada primeiro dia do mês, eu passei a mandar mensagem, perguntando 'você vai vender o carro?'"
Ele recorda que, no dia 1º de junho de 2019, finalmente o pintor concordou em passar o País Tropical adiante.
Finardi é dono da Matching Numbers Restaurações, em Jundiaí, e tem uma coleção de 11 carros, que adquire para depois reformá-los com o máximo de peças originais possível, incluindo itens de lataria e acabamento - de preferência, novos de estoque antigo.
É o que pretende fazer com o Chevette 1976, que entrou na fila de restaurações e vai precisar de um bom trato.
"Ele atualmente não está muito bonito. Apesar de tudo, não tem podres, foi bem preservado e será prazeroso de fazer. Eu já tenho maioria das peças e todas foram catalogadas. Inclusive, o raro toca-fitas Nissei que ganhei de um amigo que coleciona rádios antigos", relata.
Rafael Finardi explica que terá de desmontar o Chevette e refazê-lo do zero.
Para tal, diz ter reunido fotos e padrões corretos da fabricação do modelo, com o objetivo de fazê-lo voltar a ser "exatamente como era quando saiu zero".
Chevette foi 1º nacional com toca-fitas de série
O restaurador pesquisou em jornais e revistas da época, incluindo um anúncio do País Tropical, para não deixar nenhum detalhe passar.
As publicações informam que o raro Chevette foi o primeiro modelo nacional a ganhar uma edição limitada e também o pioneiro ao trazer de série rádio AM/FM com toca-fitas - que, aliás, incluía um cassete com a música que deu nome à série e fez sucesso nas vozes do autor Jorge Ben Jor e de Wilson Simonal.
Curiosamente, a canção menciona um rival do Chevette na época: "Tenho um Fusca e um violão", diz parte da letra.
A edição especial foi disponibilizada apenas nos meses de maio e junho e tinha como diferenciais, além do sistema de som com dois alto-falantes, revestimento interno monocromático, espelho externo, rodas esportivas semelhantes às do Chevette GP e pintura com faixas.
Trazia, ainda, bancos com encosto de cabeça inteiriço e o mesmo motor 1.4 das demais configurações vendidas em 1976.
No início da trajetória como restaurador, Rafael teve a parceria de Luciana, sua mãe, que inclusive participou em 2014 do programa "Encontro com Fátima Bernardes", da TV Globo.
Com apenas 28 anos, ele gosta mesmo é de carro antigo, especialmente os brasileiros e em configurações raras - que costuma caçar nas ruas, como o País Tropical.
"Eu sou fã não só de automóveis nacionais, mas também de bicicletas feitas aqui, que coleciono desde os 11 anos. Tento viver uma época que eu não vivi", diz.
Embora já tenha comprado carro zero, Finardi não vê graça em adquirir veículo em concessionária.
"Eu gosto disso. De encontrar o carro, saber sua história antes da compra, passar noites sem dormir e economizar dinheiro para fechar negócio. Você conhece o antigo dono, ele te conta a vivência que teve com o veículo e você leva adiante, soma com a história que vai ter com ele também. Colecionar coisas antigas é isso".
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