Time feminino do Sertões tem Alok como parceiro e ajuda de campeão do Dakar
O Rally dos Sertões, que tem largada marcada para esta sexta-feira em Mogi-Guaçu (SP), contará com uma equipe especial em 2020. A piloto de UTV Helena Deyama e sua navegadora Joseane Koerich irão compor um time feminino no evento, que contará também com a piloto Moara Sacilotti na categoria motos.
Batizado de MUSA (sigla para Mulheres Unidas Sertões Adentro), o projeto entra em seu primeiro ano e entre os UTVs estará nas garagens da equipe da Can-Am em companhias bastante ilustres.
Elas serão assessoradas pelo experiente piloto Reinaldo Varela, campeão do Dakar (maior rally do mundo) entre os UTVs em 2018 e detentor de dez títulos nos Sertões. Além dele, elas também terão outros companheiros de peso no time, com um trio formado pelo DJ brasileiro Alok, o ex-piloto de Fórmula 1 Nelsinho Piquet e o empresário e apresentador Álvaro Garnero em outro carro.
O time MUSA é uma ideia antiga de Helena Deyama para empoderar e incentivar mulheres a competirem nos eventos de rally.
"Eu comecei a fazer rallys há 20 anos, e não comecei cedo - já tinha 39 anos quando fiz meu primeiro Sertões. E foi algo difícil para mim, já que corria sozinha. Era a única mulher", disse ao UOL Carros.
"Há quase dez anos veio a ideia de unir as mulheres montando uma equipe feminina. Porque para uma mulher que não tem irmão, pai ou marido envolvido neste meio, é complicado começar. Com a experiência que eu adquiri, comecei a alimentar cada vez mais esse sonho de unir as mulheres experientes dentro deste meio para incentivar outras mulheres a participarem do evento. Assim, finalmente a equipe nasceu neste ano."
"Graças a Deus tive apoio de amigos e parceiros no meu começo, mas foi complicado porque foi sem apoio e incentivo da família e sem ter experiência neste meio. Com o time, queremos encurtar o caminho para as próximas mulheres."
Empoderamento
Helena parte para seu 16º Rally dos Sertões em 2020, e depois de conquistar seu espaço no mundo machista do automobilismo, ela espera ter uma boa performance no evento deste ano para expandir o time em 2021 também para a categoria de carros. Apesar das dificuldades, ela espera a médio prazo solidificar um caminho para que mulheres se sintam confiantes o suficiente para competir.
"Já temos muitas mulheres no meio off-road, mas no âmbito competitivo ainda são poucas", disse.
"Acho que temos às vezes um preconceito das próprias mulheres, que acham que não são capazes. Muitas mulheres acham que não dão conta, e isso não é verdade. O preconceito, de que mulheres não pilotam bem, já é um pouco passado - as mulheres já provaram que podem. Agora, acho que é mais da cabeça de cada uma."
A navegadora Joseane Koerich, que está partindo para seu 14º Rally dos Sertões, concorda. Tricampeã no evento, ela afirmou que teve que provar seu valor inúmeras vezes em seu início no mundo competitivo.
"Temos que nos virar sozinhas. Somos competentes como qualquer pessoa, já me provei em todos estes anos muitas vezes", iniciou. "É muito gostoso, mas é complicado até pela forma física - querendo ou não sempre há uma diferença."
"Acho que a equipe vai ajudar muito. Em 2000, quando comecei, ainda havia um pouco deste machismo. Posso dizer que fui muito mais testada que os homens, apesar de ter grandes amigos neste meio. É uma coisa sutil, mas meio que sempre precisei mostrar que sou capaz de fazer alguma coisa. Algo como trocar pneu no mesmo tempo de um homem, ou uma ponta de eixo."
"No rally, onde um erra, todos erram. Mas aí quando isso aparecia, sempre era meio que eu a culpada. Mas isso ficou para trás, tenho realmente hoje em dia uma história. A mulher também tem que saber que está em um universo masculino, e que isso pode acontecer. Mas comigo nunca foi um problema."
Ajuda campeã
A garagem na qual ficará alocado o UTV de Helena e Joseane será a mesma na qual o campeão do Dakar na categoria UTV, Reinaldo Varela, terá os carros de suas equipes principais - além do UTV no qual o DJ Alok, Nelsinho Piquet e Álvaro Garnero estarão.
Helena vê a ajuda de Varela - com 37 anos de experiência - como de grande valia não só para o projeto MUSA, mas como para toda sua empreitada no mundo off-road.
"O Varela sempre me ajudou pela experiência dele e com os contatos", afirmou.
"Ele nos ajudou neste ano com a Can-Am, e conseguimos este suporte - é meu primeiro ano com eles. Isso foi extremamente importante para o nosso projeto."
Varela acredita que a persistência e a grande vontade de tirar do papel o projeto MUSA trouxe a dupla feminina para sua estrutura em 2020.
"Sempre gostei de ensinar as novas gerações. Pessoas que querem aprender e nos procuram. Isso em qualquer área da vida encurta o caminho do sucesso. É mais difícil sozinho", disse.
"E a Heleninha sempre me pediu ajuda. Hoje é um motivo de orgulho ela estar aqui neste projeto. Acho que a mulher tem que ser muito forte para competir em um lugar que é 98% masculino. Mas - é claro - temos espaço para todos. Hoje em dia, se a pessoa quiser e for determinada, ela chega."
"Meu relacionamento com a Can-Am vem desde antes do título do Dakar. Hoje temos duas equipes e quatro carros: a Monster Cam-Am - na qual corro com meus filhos - e o time dos clientes."
"E foi muito legal neste ano que pudemos abrir para uma dupla feminina, ao lado do outro carro, que terá o Nelsinho Piquet, o Alok e o Álvaro Garnero. A Heleninha está há muitos anos no rally conosco, e merecia estar em um time bom. O trabalho delas foi muito bem feito, e acredito que conseguirão colher muitos frutos."
Efeito coronavírus
A ideia inicial da equipe MUSA para 2020 era de contar com mais patrocinadores e até com uma participante na categoria Turismo, que foi cancelada devido ao fato de o "circo" do Rally dos Sertões ter de permanecer em sua própria bolha durante o evento.
Além disso, acordos de patrocínio também foram perdidos devido ao impacto financeiro trazido pela COVID-19, segundo diz Helena Deyama.
"Nossa amiga Karina Simões faria o rally na categoria Turismo pela equipe, mas como ela foi cancelada pela pandemia pelo fato de não passarmos por hotéis e lugares assim, ela vai nos apoiar remotamente com produção de conteúdo."
"A pandemia também nos atrapalhou na captação de patrocínios, o nosso foco era de unir mulheres para atrair empresas fora do segmento esportivo - como setores de cosméticos e eletrodomésticos."
Um dos pilares do Sertões também ficou inviabilizado pela questão de saúde global vivida neste ano: a ajuda a moradores de áreas afastadas do Brasil, principalmente mulheres.
"Um de nossos focos era também ajudar no lado social, ter contato com as mulheres dos sertões, nos vilarejos e lugares isolados. Queríamos ajudar essas mulheres tanto no empoderamento, como na parte de educação e saúde.
"Mas, tudo bem: com a cara e a coragem nós vamos plantar a semente desta equipe e no futuro faremos isso", finalizou.
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