Por que carros da década de 90 estão com os preços nas alturas
Em julho, um Volkswagen Gol GTI 1993 com pintura cinza Spectrus foi leiloado no interior paulista por R$ 118,5 mil.
O valor pode parecer elevado para um carro nacional fabricado há quase 30 anos, mas saiba que existem exemplares comercializados nos últimos tempos por muito mais do que isso.
Dependendo da quilometragem e do estado de conservação, há casos em o hatch da Volks atingiu R$ 150 mil.
Primeiro carro brasileiro equipado com injeção eletrônica, o GTI é apenas o exemplo mais famoso da escalada de preços verificada em veículos nacionais e importados da década de 90.
UOL Carros noticiou recentemente que o VW Fusca Itamar virou "febre" e já passa de R$ 100 mil, especialmente se for da Série Ouro, edição especial de despedida.
Mas não são apenas as edições limitadas que têm ficado extremamente valorizadas.
Um Itamar padrão com mais de 100 mil km, porém bem cuidado, hoje está custando na faixa de R$ 20 mil a R$ 25 mil. Se for de cor metálica como vermelho Dakar, verde e prata, o valor sobe para R$ 35 a R$ 38 mil - conta o leiloeiro Joel Picelli, da Picelli Leilões, responsável pelo arremate do Gol GTI de quase R$ 120 mil.
De acordo com Picelli, o fenômeno da valorização de carros dos anos 1990 também é verificado em uma série de outros modelos, com destaque para os esportivos brasileiros Ford Escort XR3, Chevrolet Kadett GSI e até Fiat Uno 1.5 R.
Ele cita, ainda, as versões norte-americanas da Ford Ranger com motor V6, a geração E36 do BMW Série 3, o Mitsubishi Eclipse e a perua Audi RS2.
Picelli dá uma ideia do quanto os preços têm subido.
"Uma RS2 1994 com apenas 10 mil km rodados foi negociada há pouco por R$ 500 mil, o dobro do preço que vinha sendo praticado. Há cerca de dois anos, o Escort XR3 dificilmente atingia R$ 20 mil e, neste ano, leiloei uma unidade na cor amarela por R$ 32 mil. Já vi a Ranger na versão Splash, trazida via importação independente, passar de R$ 100 mil", aponta o negociante.
Segundo o leiloeiro, trata-se de um fenômeno cíclico.
"Quem hoje tem idade entre 30 e 60 anos era jovem ou criança na época do lançamento desses automóveis. São pessoas que sonhavam com determinados carros e hoje têm dinheiro para comprá-los e saúde para mantê-los e curti-los. Por outro lado, veículos dos anos 30 a 70 têm sofrido desvalorização ou mantido preços estáveis, pois seu público já morreu ou tem outras prioridades, por conta da idade avançada".
Picelli destaca, ainda, que os preços dos carros lançados 30 anos atrás têm aumentado também por outra razão: com muita pesquisa e alguma sorte, ainda é possível encontrar exemplares pouco rodados ou em bom estado guardados por aí - ao passo que veículos mais antigos, daqueles nos quais valeria a pena investir, só trocam de coleção e praticamente desapareceram do mercado convencional.
Original e com baixa quilometragem
O negociante de carros antigos Reginaldo Ricardo Gonçalves, o Reginaldo de Campinas, concorda com o colega.
Ele, que se especializou em garimpar automóveis clássicos pouco rodados, diz que é cada vez mais difícil achar exemplares 100% originais conforme a idade do carro pretendido cresce. E isso faz os preços subirem.
"Meus clientes querem veículos predominantemente do final dos anos 1970 até os anos 1990, originais e com baixa quilometragem. Mais velhos do que isso, 99% dos que você encontra foram restaurados", conta.
Picelli complementa, apontando outro fator que contribui para a alta valorização.
"Restaurar um carro da década de 90 costuma ser muito mais caro, por conta da eletrônica embarcada, tem muita peça importada. Daí, muitos preferem adquirir algo original e já pronto, principalmente os colecionadores".
Ao mesmo tempo, diz, existem pessoas que adquirem o veículo para rodar, curtir em um fim de semana, e não fazem questão de um carro praticamente zerado. Por isso, acabam desembolsando menos dinheiro.
'Antigoportunismo'?
O leiloeiro discorda daqueles que acusam negociantes como ele se unirem para combinar e "inflacionar" preços, cobrando muito mais do que os carros realmente valeriam.
"Funciona como qualquer tipo de produto, os preços variam de acordo com a oferta e a procura. Trata-se de um mercado pequeno, no qual as informações sobre determinado modelo e seu respectivo preço correm rapidamente, são compartilhadas nas redes sociais, como em grupos de WhatsApp".
Picelli afirma que não existe manipulação.
"Quem deseja certo carro e tem dinheiro para gastar entende que haverá muita variação nos valores, dependendo das condições daquele carro, e paga se estiver disposto".
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