VW que alemães nunca tiveram: brasileiro SP2 vira febre e preços disparam
Baixo, esguio e diferente de qualquer outro Volkswagen da sua época, o SP2 estreou no Brasil em 1972 com projeto assinado pelo designer Marcio Piancastelli, o pai da Brasília.
Produzido até 1976, o esportivo teve pouco mais de 10 mil unidades produzidas e hoje é febre entre colecionadores e também um produto de exportação.
Nos últimos cinco anos, os preços dobraram, a reboque do interesse de clientes de outros países - principalmente da Alemanha, onde o cupê nunca foi oferecido oficialmente. Na semana passada, um exemplar recebeu oferta de R$ 80 mil em leilão na capital paulista, recusada pelo vendedor.
Em setembro, em outro leilão, realizado em Belo Horizonte (MG), um SP2 foi arrematado por R$ 140 mil antes de ser enviado para a Europa. Segundo especialistas do mercado de carros antigos, o agora clássico já atinge preço na faixa de R$ 200 mil - se for 100% original e apresentar excelente estado de conservação.
Os valores sobem um pouco mais se o veículo for o SP1, variante mais simples e menos potente que também chegou em 1972 e é ainda mais rara: cerca de 60 exemplares foram fabricados até o modelo sair de linha, no ano seguinte.
"Da mesma forma que a Kombi, o SP2 sempre foi forte no exterior Agora, o real desvalorizado o deixa ainda mais atraente lá fora. É raro, tem visual único e foi fabricado só no Brasil", explica José Paulo Parra, dono da empresa Circuito de Leilões e responsável pelas vendas citadas, em parceria com a Picelli Leilões.
Segundo Parra, hoje o preço médio de um SP2 em bom estado e sem restauração ronda os R$ 100 mil, mas a "régua sobe" para unidades ainda melhores. Ele explica outro fator que valoriza o modelo 100% original:
"É um carro muito difícil de ser restaurado, pois a carroceria é praticamente uma peça única, com exceção das portas e das tampas dianteira e traseira. Além disso, é complicado encontrar peças originais ou mesmo reproduzi-las, como as faixas laterais refletivas e os borrachões nos para-choques".
'Quem manda no preço é o mercado externo'
Silvio Luiz, proprietário da loja Old is Cool Motors, é outro a atestar a elevada valorização do SP2.
"Você tem de olhar para o SP2 como uma commodity de exportação. Quem manda nos preços é o mercado externo, principalmente o europeu, mas também o norte-americano. Com a alta valorização do euro e do dólar, o pessoal vai pedindo cada vez um pouco mais. Sei de carros vendidos por mais de R$ 140 mil. Dentre aqueles que compram, a maioria revende, inclusive no exterior", diz.
Robson Cimadon, o Alemão, dono da loja Século XX, prefere ir na contramão do mercado para não inflacioná-lo e afirma que não compra o modelo pelos preços que estão pedindo atualmente. Porém, admite que o SP2 hoje vende como "pão quente".
"É extremamente desejado. O que você tiver, vende rapidamente. Já vendi três. O mais recente foi neste ano, por R$ 80 mil, e saiu em menos de cinco minutos. Anunciei e nem deu tempo de chegar à loja. Dependendo da vontade do cliente e das suas possibilidades, ele paga o que estão cobrando mesmo. Mas eu não pegaria um por R$ 140 mil".
Considerados por muitos os Volkswagens mais bonitos da história, o SP2 e seu "irmão" SP1 nasceram no começo dos anos 70, com a missão de concorrer com esportivos fora de série com mecânica VW e carroceria de fibra de vidro.
Um dos seus rivais era o Puma, que fazia sucesso naquele tempo, apesar da baixa produção.
O design arrojado da dupla da Volks até hoje chama a atenção e contrasta com o desempenho modesto. O SP1, que durou pouco, traz a mesma base mecânica da Variant, com motor 1.6 boxer refrigerado a ar traseiro de apenas 54 cv.
Já o SP2 é 1.7, 10 cv mais forte. Também exibe interior mais luxuoso, com bancos e outros revestimentos de couro.
A transmissão é sempre manual de quatro marchas.
"Por trazer carroceria de aço, o SP2 pesa mais do que o Puma e anda menos. Tecnicamente, SP1 e SP2 são bastante inferiores aos modelos a ar feitos na Alemanha naquela época, porém atraem pelo visual e pelo prazer de guiar", relata Parra, que já teve dois SP2 na garagem.
Tem SP2 no museu da VW na Alemanha
Desde meados de 1985, quando já tinha saído de linha havia quase dez anos, o SP2 tem um lugar cativo na galeria de modelos icônicos da Volks.
Na época, um carro branco com faixas vermelhas foi doado pela Volkswagen do Brasil ao museu da marca em Wolfsburg, onde fica a sede mundial da montadora.
O exemplar foi entregue pessoalmente por Ronaldo Berg, que trabalhou durante três décadas na filial brasileira.
Hoje com 73 anos, ele era gerente de assistência técnica de produto e comandava a Ala Zero, como era chamada a oficina "VIP" da VW - encarregada da manutenção de veículos da frota interna.
Ele também chefiava a VW Motorsport, departamento de competição que tinha o jornalista Bob Sharp no cargo de supervisor.
O SP2 que virou peça de museu saiu loja do piloto Egydio "Chichola" Micci, conta Berg.
"Ele me procurou, perguntando se a VW queria comprar o veículo para integrar o acervo de um futuro museu da empresa. Tinha baixíssima quilometragem. Eu sabia que a resposta seria negativa, então sugeri a Paulo Dutra, então diretor de Relações Públicas, doar o SP2 ao museu em Wolfsburg, que já tinha Karmann-Ghia e Fusca brasileiros", relembra.
Wolfgang Sauer, então presidente da Volkswagen do Brasil, gostou da ideia, desde que o preço cobrado fosse justo.
No fim das contas, o SP2 foi adquirido em troca de uma Quantum zero-quilômetro, perua que tinha acabado de ser lançada.
Após o negócio ser fechado, decidiu-se que a cor original violeta Pop teria de ser substituída para transformar o esportivo em um carro de exposição.
"A cor era muito feia. O SP2 foi completamente desmontado e recebeu pintura branca na Ala Zero. Substituímos pneus, para-choques e as faixas refletivas laterais. O veículo ficou praticamente zerado".
Segundo Berg, o chefe Sauer ficou tão satisfeito com o resultado que autorizou sua viagem à Alemanha para entregar o SP2 ao museu, onde permanece até hoje.
Mas não sem alguma dose de polêmica.
"Após a entrega, colocaram na lateral dianteira, próximo à porta do motorista, um emblema da Karmann-Ghia. Isso revoltou alguns antigomobilistas, já que o projeto do SP2 é um produto legítimo da VW do Brasil. A Karmann, de fato, montava e finalizava a carroceria, para posterior montagem final na fábrica da Volks em São Bernardo Campo [SP]. Mas era só uma prestadora de serviço".
Ronaldo Berg diz que o emblema polêmico não foi removido.
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