Peugeot e Citröen: concessionários se rebelam e atacam até o novo 208
Alegando problemas como baixas vendas, margem de lucro insuficiente, imposição de metas irreais e produtos pouco competitivos, a rede de concessionários Citroën e Peugeot organizou uma "rebelião" e tem encaminhado reivindicações à PSA, proprietária das duas marcas.
Além disso, os revendedores oficiais reclamam de suposta manobra da fabricante para forçá-los a abandonar a operação, que hoje conta com 217 concessionários no Brasil, sem pagamento de indenização.
A Abracop (Associação Brasileira de Concessionários Peugeot) e a Abracit (Associação Brasileira dos Concessionários Citroën), que encabeçam o movimento, solicitaram neste mês ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a suspensão temporária da fusão da PSA com a FCA, que já foi aprovada pela autarquia.
Para embasar o pedido ao órgão regulador, as associações afirmam que a PSA já está negociando com revendas autorizadas Fiat a absorção das marcas francesas em detrimento das suas associadas, antes mesmo de a fusão vigorar.
UOL Carros teve acesso a correspondências enviadas recentemente pela Abracop e pela Abracit à direção da PSA, com diversas queixas, e também recebeu cópia da petição endereçada ao Cade.
Procuramos as associações, que confirmaram a autenticidade dos documentos, porém não quiseram se manifestar até que o Cade se posicione. O conselho, por sua vez, não deu retorno até o momento e a PSA diz que "não fará nenhum comentário" a respeito.
Na petição, os concessionários buscam demonstrar "o estrago que a PSA perpetrou e vem perpetrando à própria rede".
O documento, com data de 10 de dezembro e endereçado a Alexandre Barreto de Souza, presidente do Cade, afirma o seguinte:
"Hoje, nem mesmo concessionários Citroën e Peugeot, dividindo operações, têm condições de sobrevivência! Concessionários Fiat têm sido procurados pela PSA para também dividir suas lojas com as marcas Peugeot e Citroën, sendo que pelo menos um desses já teria iniciado obras em suas instalações".
"As redes de concessionários Citroën e Peugeot, que sobreviveram e investiram pesado nas marcas da PSA nos últimos anos, vêm sendo preteridas num tal plano de expansão da PSA, que nunca nos foi apresentado e que parece ter os concessionários Fiat como fator de "cavalo de carreta", que daria sustentação as operações Citroën e Peugeot no Brasil", complementa a solicitação.
Atualmente, a rede Fiat conta com 522 revendedores autorizados.
208 seria a 'bala de prata'
Na mesma petição, as associações pontuam que "Citroën e a Peugeot são as marcas de automóveis que mais perderam mercado desde 2014, sendo hoje marcas sem notoriedade, de pouquíssimos carros".
Essa afirmação é apenas um exemplo da relação nada harmoniosa entre as partes.
Em outras correspondências, enviadas para a diretoria da PSA, não faltam críticas inclusive aos produtos que os próprios concessionários PSA comercializam.
Com data de 26 de novembro, documento intitulado "Manifesto Rede Peugeot", encaminhado pela Abracop à montadora, trata especificamente do lançamento do novo 208, realizado em setembro.
A entidade aponta que a rede "buscou e disponibilizou recursos financeiros para aumentar suas linhas de crédito, conforme foi solicitado pela Peugeot, e contratou e treinou novos colaboradores" com a promessa de dobrar o volume de vendas com a novidade.
No entanto, a Abracop classifica os emplacamentos do hatch compacto como "inexpressivos para um lançamento tão esperado e importante" e muito abaixo das projeções feitas pela montadora.
Na carta, os concessionários Peugeot dizem que os volumes atuais de vendas de toda a gama "não são suficientes para sustentar os elevados custos fixos das operações e as exigências da marca, dificultando a rede de obter o lucro saudável à altura de se capitalizar".
"Recordamos as falas da diretoria da Peugeot de que o lançamento do novo 208 era a "bala de prata" que iria provocar uma revolução positiva para toda a rede. O frustrante lançamento fez com que as vendas caíssem ainda mais, o que revela que as previsões e estratégias da Peugeot foram equivocadas", argumentam.
Dentre as críticas, a associação aponta "o preço acima das expectativas", a "motorização antiga", vendas a locadoras "em detrimento dos concessionários" e baixo investimento em publicidade.
"Na marca Peugeot, o lançamento do novo Peugeot 208 tem se revelado muito inferior às expectativas. Enquanto esse produto é aclamado pela crítica no mercado europeu, seu alto preço, motorização sem novidades e com uma campanha de lançamento rarefeita faz com que sejam limitados os clientes brasileiros dispostos a considerá-lo em seu shopping list", reclamou.
Fim do C4 Cactus PCD
Em ofício encaminhado para a cúpula da Citroën em 8 de setembro, a Abracit faz queixas semelhantes, mencionando queda de 80% nas vendas desde 2011.
"Na marca Citroën, o C4 Cactus é o único produto VP à disposição e encontra-se desposicionado em preço e desconhecido dos consumidores. Apesar de suas grandes qualidades, o resultado em vendas mostra-se insuficiente para sustentar a rede até que novos produtos sejam lançados", argumenta.
A entidade reclama também da redução na margem bruta em troca de maior competitividade de preços - objetivo que não teria sido alcançado, responsável por "deteriorar permanentemente a rentabilidade da rede".
Preços "excessivamente conservadores" estariam forçando os concessionários a praticar descontos, situação agravada pelo portfólio reduzido.
A associação também destaca o fim da oferta da versão PCD do C4 Cactus com isenção total de ICMS e IPI - os clientes portadores de deficiência, segundo ela, são responsáveis por 50% dos emplacamentos do modelo.
"Cerca de 35% das vendas da Citroën em 2020 têm sido através do canal PCD, enquanto, para outras montadoras, o volume PCD é marginal para alavancar o volume total".
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