Citroën C4: testamos o substituto do Cactus que não virá tão cedo ao Brasil
Lançado no Brasil em outubro de 2018, o Citroën C4 Cactus já saiu de linha na Europa, onde acaba de ser substituído pelo novo C4.
A novidade mantém o estilo crossover adotado pelo seu antecessor, porém em tamanho maior. Aqui, não deverá dar as caras tão cedo: afinal, o Cactus ainda é um produto recente e "terá vida longa da região", de acordo com a PSA, dona da Citroën.
Enquanto isso, tivemos a chance de testar a novidade em solo europeu e contamos todos os detalhes aqui.
O novo C4, que um dia já foi hatch e sedã, marca o efetivo regresso da Citroën ao segmento C, de automóveis de porte médio. O C4 Cactus, por sua vez, era mais um hatch anabolizado do que um verdadeiro rival de VW Golf, Peugeot 308 e companhia.
Visualmente o novo C4 é daqueles carros que dificilmente geram indiferença: ou se gosta muito ou detesta, sendo um aspeto muito subjetivo e, como tal, não merecedor de grande discussão. Ainda assim, é inegável que o carro tem certos ângulos de traseira que recordam alguns carros japoneses pouco apreciados na Europa.
A plataforma do novo C4 é a CMP (a mesma dos "primos" 308 e 208/2008), tendo a distância entre-eixos sido alongada ao máximo para beneficiar a o interior.
Aliás, conforme me explica Denis Cauvet, diretor técnico do projeto deste novo C4, "é o modelo do grupo com a maior distância entre-eixos com esta plataforma, precisamente porque queríamos privilegiar a sua função de carro para a família".
Cada vez mais importante nesta indústria, esta plataforma permite também que o C4 seja um dos carros mais leves desta classe (a partir de 1209 kg).
Suspensão "engole" ressaltos
A suspensão usa um esquema McPherson independente nas rodas dianteiras e uma barra de torção atrás, voltando a contar com o sistema que usa batentes hidráulicos progressivos (em todas as versões, menos na de entrada, com 100 cv e câmbio manual): uma suspensão normal tem amortecedor, mola e batente mecânico, enquanto aqui existem dois batentes hidráulicos de cada lado, um para extensão e outro para compressão.
Nos movimentos ligeiros, a mola e o amortecedor controlam os movimentos verticais sem intervenção dos batentes hidráulicos, mas nos movimentos de maior amplitude a mola e o amortecedor trabalham com os batentes hidráulicos para reduzir as reações bruscas nos limites do curso das suspensões.
Estes batentes permitiram aumentar o curso de suspensões, para que o carro passe de forma mais imperturbável sobre as irregularidades da estrada.
Motores/câmbios conhecidos
Onde não há novidades é na gama de motores, com opções a gasolina (1.2 litros de 3 cilindros e três níveis de potência: 100, 130 e 155 cv) e o elétrico (e-C4, com 136 cv, o sistema utilizado nos outros modelos do Grupo PSA). As versões com motor a combustão podem ser acopladas aos câmbios manual de 6 velocidades ou automático de 8.
Me centrei na versão de motor a gasolina de 130 cv. Não sou apreciador das linhas exteriores do novo C4, mas é inegável que tem personalidade e consegue combinar alguns traços de crossover com outros de cupê, o que lhe pode valer opiniões mais favoráveis.
Qualidade abaixo do esperado
No habitáculo encontro aspetos positivos e negativos. O desenho/apresentação do painel de bordo não tem nada de profundamente errado, mas a qualidade dos materiais não convence, seja por predominarem os revestimentos de toque duro em todo o painel - aqui e ali com uma leve película suave tentando melhorar a impressão final - seja pelo próprio aspeto de alguns plásticos e pela falta de revestimentos nos compartimentos para guardar objetos.
A tela de instrumentos tem um aspeto pobre e, sendo digital, não é configurável no sentido em que alguns concorrentes são (o Grupo PSA sabe fazer melhor, como vemos nos mais recentes modelos da Peugeot, mesmo de segmentos inferiores, como no caso do 208).
É positivo que subsistam botões físicos, como os da climatização, mas não se entende porque o botão de ligar e desligar a tela central tátil (de 10") está tão longe do motorista - é certo que também serve para ajustar o volume do som e que o motorista tem duas teclas para esse efeito na face do novo volante, mas daí a estar em frente ao passageiro dianteiro...
Bem melhor a quantidade e tamanho de locais para guardar objetos, das bolsas nas portas ao porta-luvas grande, à bandeja/gaveta que tem por cima e ao encaixe para colocação de um tablet acima dessa bandeja.
Entre os dois bancos da frente (bastante confortáveis e amplos, mas que não podem ser revestidos em pele, a não ser "simulada") há o freio de mão elétrico e o seletor do câmbio com as posições Drive/Rear/Park/Manual e, à direita, o de escolha dos modos de condução (Normal, Eco e Sport).
Outra crítica vai para a visibilidade traseira a partir do retrovisor interior. O melhor mesmo é optar pela câmara de ré, pelo sistema de visão 360 graus e pela monitorização de ponto cego no retrovisor. Já a luminosidade na cabine merece um franco elogio, especialmente na versão com teto panorâmico (os franceses falam em 4,35 m² de superfície envidraçada no novo C4).
Espaço atrás convence
Já nos lugares traseiros as impressões são mais positivas. Os assentos são mais altos do que os dianteiros (provoca o apreciado efeito de anfiteatro para quem aqui viaja) e há saídas de ventilação diretas.
Este passageiro de 1,80 m de altura ainda ficou com 4 dedos a separar o cocuruto do teto e o comprimento para pernas é realmente muito generoso, do melhor que existe nesta classe (a distância entre-eixos é superior em 5 cm à do Peugeot 308, por exemplo, e isso nota-se). Em largura não se destaca tanto, mas três ocupantes podem seguir viagem bem acomodados.
O porta-malas tem acesso fácil pela ampla abertura traseira, as formas são retangulares e facilmente aproveitáveis, podendo o volume ser ampliado através do rebatimento assimétrico dos bancos da segunda fila.
Com os bancos traseiros levantados o volume é de 380 litros, igual ao dos rivais do grupo Volkswagen (Golf, Audi A3) e do BMW Série 1, maior do que Mercedes Classe A, mas menor que Hyundai i30 e Peugeot 308. Ou seja, um volume na média da classe, mas inferior ao que se poderia esperar tendo em conta as proporções do C4.
Motor pequeno, mas bem enérgico
Estes motores de 3 cilindros do Grupo PSA são conhecidos por serem bem enérgicos desde regimes relativamente baixos, e aqui a unidade 1.2 litros de 130 cv voltou a marcar pontos. Acima das 1800 rpm, "se mexe" bastante bem, com o peso contido do carro a favorecer as acelerações e retomas de velocidade. E só acima das 3000 rpm as frequências acústicas se tornam mais típicas de motor de 3 cilindros, mas sem incomodar.
O câmbio automático de 8 velocidades com conversor de torque deixa o C4 muito bem servido neste campo, sendo mais suave e progressiva na resposta do que a maioria das de dupla embreagem, que são normalmente mais rápidas, mas com aspetos menos positivos como veremos adiante.
Em vias rápidas notei que os ruídos aerodinâmicos são mais audíveis do que seria desejável.
Uma referência em conforto
A Citroën tem tradição no conforto de rolamento e com estes novos amortecedores com duplos batentes hidráulicos voltou a marcar pontos. Os maus pisos, irregularidades e lombadas são absorvidos pela suspensão, que passa menos movimentos para os corpos dos ocupantes, ainda que em solicitações de alta frequência (um buraco maior, uma pedra mais alta, etc) se sinta uma resposta algo seca do que seria de esperar.
Perante todo este conforto, em estradas normais devemos aceitar que a estabilidade não seja imaculada, percebendo-se que a carroceria adorna em curva quando dirigimos mais rápido, mas nunca a um ponto de provocar "enjoos de mar alto", seguramente não no caso de um pacato carro de família com uma motorização suficiente para desempenhar essa função.
A direção responde com precisão e os freios não são confrontados com desafios para os quais não estejam preparados para responder.
O consumo que registrei foi muito superior ao anunciado (8 em vez de 5,8 litros/100 km), sendo um ponto contra a escolha de câmbio automático.
Veredíto
O C4 aposta no gosto do consumidor por carros mais altos sem pretender ser um SUV (ainda bem, porque não é).
Consegue somar pontos em aspetos importantes como conforto, espaço na 2ª fila de bancos, cabine prática e resposta viva do motor (além, claro, do competente câmbio de velocidades), mas poderia (e deveria) ser melhor na qualidade geral de materiais usada no painel, cuja avaliação final também não é ajudada pela qualidade melhorável dos dois ecrãs.
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