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Rally Dakar: guiamos o veículo que pode levar brasileiro ao bicampeonato

Gabriel Lima

Colaboração para o UOL

05/01/2021 04h00

No competitivo mundo das corridas há uma velha máxima que ao longo dos anos sempre foi o lema das montadoras: "win on sunday, sell on monday" (vença no domingo, venda na segunda-feira). E isso vem sendo levado à risca pela Can-Am com seu modelo de UTV Maverick X3.

Aliando a performance de um carro ao DNA aventureiro de um quadriciclo, o veículo levou o segmento de UTVs a outro patamar desde que chegou ao mercado em 2016. Ele tem sido bem visto não só por amantes do off-road que buscam diversão de fim de semana, mas também por pilotos de nível mundial.

Um deles é o brasileiro Reinaldo Varela, campeão do Rally Dakar em 2018 entre os UTVs com o X3 e que em 2021 tentará com o mesmo modelo o bicampeonato no evento - a ocorrer nos desertos da Arábia Saudita a partir de 3 de janeiro.

Com 37 anos de experiência competitiva no off-road, o piloto diz que o veículo se tornou seu favorito. Certamente seu sucesso ajuda: além de campeão no Dakar, Varela venceu duas vezes do Rally dos Sertões com o X3 e foi tricampeão mundial cross-country com o modelo da Can-Am.

E o sucesso do X3 nas competições mundo afora veio acompanhado da liderança de seu mercado. A convite da equipe de Varela, UOL Carros foi ver de perto e sentir como é andar no modelo que coleciona títulos e pode ser adquirido no Brasil próximo de sua especificação de competição.

O UTV

UTV no rally Dakar - Alain "Milka"Jody/Divulgação - Alain "Milka"Jody/Divulgação
Imagem: Alain "Milka"Jody/Divulgação

O Maverick X3 Turbo no qual Varela compete é praticamente idêntico ao que é vendido no mercado. Com 197 cv de potência a 7.250 rpm, 17,1 kgfm de torque a 6.250 rpm e tração 4x4, ele parte atualmente de R$ 157.990 - o que é caro para um brinquedo, mas barato pelas poucas modificações que são necessárias para competir em provas oficiais.

Seu motor turbo tricilíndrico possui 900 cc, o que ao lado do câmbio CVT rende um 0 a 100 km/h em bons 4,4 segundos. E com apenas 700 kg nas versões à venda no mercado, seu peso-potência forte é sinônimo de diversão.

Mas, apesar de chegar a 145 km/h de máxima, o que coloca a pimenta no Maverick X3 certamente é sua suspensão. Com curso de 61 cm ao todo, ela basicamente molda o terreno pelo qual o UTV passa, gerando estabilidade e confiança a quem dirige, algo potencializado pela distância entre eixos de 2,59 metros e largura de 1,82 metros.

Maior vencedor de etapas da categoria UTV na história do Dakar, Varela rapidamente se sentiu à vontade com o X3 quando passou a competir com o veículo - que ele julga ser mais prazeroso que um carro.

"Aqui o seu campo de visão é muito grande e a sensação de velocidade é maior", disse ele a UOL Carros enquanto apresentava o modelo."Dá para dizer que o UTV é como um kart da terra um pouquinho maior, sobretudo pela dirigibilidade - você tem o carro na mão nas curvas. A suspensão também é muito boa, então a sensação de controle nos saltos é maravilhosa. É algo prazeroso principalmente para quem gosta de andar de moto."

"Nos carros, não se vê tanto as coisas passando do seu lado. Lá você não se molha, não venta, não chove e ele é mais rápido na reta. Mas o UTV tem um melhor equilíbrio nas curvas e responde mais rápido. Mas, falando de técnica de pilotagem, a tocada não é muito diferente da de um carro. Quando você pega um carro de ponta, é igual."

Mudanças para competir

UTV no rally Dakar - Alain "Milka"Jody/Divulgação - Alain "Milka"Jody/Divulgação
Imagem: Alain "Milka"Jody/Divulgação

O Maverick X3 que UOL Carros guiou ao lado de Varela é preparado para correr eventos de cross-country no Brasil, incluindo o Rally dos Sertões. Ele pontua que alterações e acertos são pequenos no UTV perto do que se faz para adaptar um carro para as competições de rally. "O câmbio CVT que utilizamos dele é o original, porque ele já vem bem dimensionado", disse.

"Mexemos mais em suspensão e na centralina do motor de acordo com a prova - se é uma prova longa você tira potência, se for mais curta já dá para mudar isso. Mas existem categorias de entrada em campeonatos onde você pode correr com o veículo 100% original, só colocando uma gaiola de proteção. A Can-Am te entrega um UTV que você já pode sentar e acelerar."

Varela afirma que as diferenças entre o modelo que compete no Brasil e o que irá levar ao Dakar são mínimas. "É o mesmo conjunto técnico. O que muda é apenas o sistema de navegação (por GPS no Dakar), mas a parte estrutural - suspensão, motor, chassi, câmbio e etc - é a mesma. O peso muda um pouco, pois lá o nosso santantônio tem mais barras, andamos com dois estepes e nosso tanque de combustível é maior."

A sensação

UTV no rally Dakar - Alain "Milka"Jody/Divulgação - Alain "Milka"Jody/Divulgação
Imagem: Alain "Milka"Jody/Divulgação

Acelerar o Can-Am Maverick X3 é bem fácil para qualquer um. Alguns minutos para se acostumar são o suficiente para ganhar a confiança, encher o turbo e começar a fazer as curvas de lado. Principalmente porque a cada mudança de direção e a cada salto o modelo te incita a acelerar mais.

Isso ocorre devido à estabilidade, uma grande aliada. O curso da suspensão e sua geometria fazem com que os amortecedores copiem as imperfeições do terreno levando o modelo a permanecer no chão o maior tempo possível. Varela também levou UOL Carros de passageiro, e com ele ao volante do UTV foi possível constatar que apesar da maior velocidade, o Maverick X3 quase não mexe.

O fato de não precisar tirar a mão do volante para mudar de marcha deixa a diversão ainda mais acessível para todos os níveis de condução. E essa foi a intenção da Can-Am no desenvolvimento do veículo, de acordo com Henrique Rosa, diretor global de marketing da marca.

"A Can-Am já produz UTVs há muitos anos, e foi identificada uma lacuna entre o segmento recreativo e o de competição", falou. "Você tinha um veículo de US$ 20 mil e o seguinte custava US$ 400 mil."

"Assim, a ideia foi desenvolver um veículo com a capacidade técnica de um trophy truck norte-americano de competição, mas com um preço de UTV. O resultado é o Maverick X3: um veículo de recreação, que você pode se divertir nas dunas e nas trilhas, mas que também tem uma veia de competição."

E o modelo vem cada vez mais conquistando adeptos entre os mais exigentes pilotos do mundo. Os últimos foram os ex-Fórmula 1 Nelsinho Piquet e Rubens Barrichello, que correram pela primeira vez o Rally dos Sertões em modelos da Can-Am em 2020.

"É um carro que foi capaz de conquistar ex-pilotos de Fórmula 1, incluindo o Nelsinho Piquet que fez o Rally dos Sertões pela nossa equipe Can-Am Monster Energy, comandada pelo Reinaldo Varela", seguiu Rosa.

"Se uma pessoa que andou de F1 e fez uma carreira no automobilismo se diverte em um modelo como esse, dá para garantir que outras pessoas também vão se divertir. Por isso, nosso intuito é continuar investindo nessa frente de competição para mostrar as qualidades do veículo."

Presente em diversas competições off-road pelo mundo, a Can-Am venceu as últimas sete edições do Rally dos Sertões e os três últimos anos no Dakar. Em 2021, 32 dos 57 UTVs que largarão para o Dakar serão Maverick X3.

Sonho de bicampeonato no Dakar

UTV no rally Dakar - Alain "Milka"Jody/Divulgação - Alain "Milka"Jody/Divulgação
Imagem: Alain "Milka"Jody/Divulgação

Aos 62 anos, Reinaldo Varela é o único brasileiro que irá competir pilotando na classe de UTVs do Rally Dakar de 2021. Ele terá pela primeira vez o navegador Maykel Justo, 41 anos, a seu lado. Ambos vão para o décimo Dakar.

"O Maykel é experiente e vai agregar muito ao nosso esforço neste ano", disse Reinaldo. "Ao lado da qualidade técnica, a experiência é um dos valores mais importantes em uma corrida como o Dakar. E ele tem ambos de sobra."

Feliz por estar ao lado do Reinaldo em uma equipe oficial de fábrica, Justo vê o Dakar 2021 como "a oportunidade mais importante" da carreira.
"Estou muito confiante que formaremos uma dupla competitiva e vamos disputar este título com os melhores do mundo em pé de igualdade", afirmou ele.

A 43ª edição do Dakar terá 7.646 km de deslocamento total, com 4.767 km deles sendo especiais - trechos cronometrados em alta velocidade. O roteiro da prova começa e termina Jedá, segundo maior centro da Arábia Saudita.

O Rally Dakar 2021 ocorre entre 3 a 15 de janeiro e contará com 321 veículos, sendo 108 motos, 21 quadriciclos, 124 carros e UTVs e 42 caminhões.