Como brasileiro nos EUA abriu mão de Corvette para importar seu Opala 1988
O Chevrolet Opala é um dos carros brasileiros mais cultuados em clubes e eventos de automóveis antigos. A paixão de alguns proprietários é tanta que o clássico os acompanha até quando mudam de país.
É o caso de um Comodoro cupê modelo 1988, último ano de fabricação com essa carroceria, que desembarcou recentemente nos Estados Unidos, após cumprir uma jornada de mais de quatro meses a partir de Manaus (AM).
O Opala pertence ao engenheiro Luís Humberto Nobre Tavares, de 39 anos, que se mudou há um ano e quatro meses da capital amazonense para a cidade de Mount Juliet, no Tennessee, acompanhado da mulher e da filha de oito anos.
No último dia 2 de dezembro, Tavares finalmente reencontrou seu xodó, cuja importação custou o valor do carro no Brasil.
Ele avalia que, além da conexão afetiva, o negócio foi mais vantajoso do que comprar outro carro antigo nos EUA, mais potente e barato.
"Aqui os automóveis usados são muito baratos, porém a mão de obra com oficina é extremamente cara. Encontrei um Chevrolet Corvette do mesmo ano que o meu Opala por US$ 3,8 mil [R$ 20,15 mil], mas tinha de mexer no motor. Gastei US$ 5.000 [R$ 26,5 mil] para trazer o Comodoro, mas valeu a pena", conta o engenheiro em conversa com UOL Carros.
Ainda antes de embarcar rumo ao Tennessee, o Opala passou por uma reforma completa em Manaus. Tavares até tentou vendê-lo aqui, mas as ofertas não o satisfizeram.
Já nos EUA, ele começou a cotar o custo de uma eventual importação e finalmente decidiu trazer seu carro para o novo lar e desistir do Corvette e outros veículos. De acordo com Tavares, o Comodoro de seis cilindros, que traz visual da versão topo de linha Diplomata, é o único exemplar cupê 1988 em solo norte-americano.
Contudo, seu carro não está sozinho.
"Aqui tem muito carro brasileiro, como VW Kombi Corujinha, Brasília, Variant e Parati. E existem alguns Opalas também, todos trazidos aos EUA e ao Canadá por brasileiros que moram aqui. Existem três unidades de Opala, incluindo a minha, e uma Caravan. Neste ano, outras vão desembarcar nos Estados Unidos, importadas por imigrantes do Brasil como eu".
Luís Humberto Tavares troca informações com os demais "opaleiros" em um grupo de WhatsApp e, por conta da pandemia do coronavírus, o contato por ora tem sido exclusivamente virtual.
Como foi a importação
O engenheiro, que criou os canais Brazilian Garage no YouTube e no Instagram para relatar a sua saga, conta que o maior empecilho durante os trâmites de importação foram atrasos causados justamente pela pandemia.
Toda a logística, incluindo o desembaraço aduaneiro, foi conduzida pela empresa paulista Losada Import, que tem escritório em Miami, na Flórida.
"Meu Opala saiu de Manaus em uma cegonheira no dia 24 de julho e chegou a São Paulo, capital, em 3 de agosto, onde a importadora cuidou de todo o processo, incluindo a baixa na documentação brasileira".
O Comodoro foi, então, enviado ao porto de Santos (SP), de onde partiu em um contêiner rumo aos EUA no dia 2 de outubro, para chegar a Miami em 8 de novembro.
Para evitar uma viagem de carro com 14 horas de duração para buscar o Opala em Miami, Tavares optou por embarcá-lo em um caminhão até Mount Juliet.
"Fora alguns atrasos, deu tudo certo. Inclusive não foi necessário registrar o veículo em nome da importadora".
Reação dos norte-americanos
Já de posse do seu clássico, Luís Humberto agora trabalha para registrá-lo e emplacá-lo no Tennessee para começar a rodar com ele no dia a dia sem preocupações.
Ele planeja fazê-lo até a semana que vem e, para tal, o veículo terá de passar por um teste de emissões - exigência para regularizar automóveis produzidos a partir de 1975 naquele Estado norte-americano.
Antes da inspeção, ele teve de modificar o sistema de escapamento. Após orçar o serviço, achou o preço muito elevado e decidiu colocar a mão na massa.
"Uma oficina cobrou US$ 300 [R$ 1,6 mil] e recusei. Comprei as peças necessárias e fiz eu mesmo as modificações por US$ 112 [R$ 595]. Agora é passar pela vistoria, apresentar os documentos e fazer seguro, que é obrigatório aqui".
Após cumprir todas essas etapas, a placa é entregue imediatamente, diz.
Seu Opala, conta, gera curiosidade e algum estranhamento entre os habitantes locais.
"Em uma oficina, disseram que nunca viram nem ouviram falar. Da coluna central até a dianteira, falaram que meu carro lembra a picape Chevrolet El Camino. Do meio para trás, remete à primeira geração do Chevrolet Nova. Também estranharam o fato de trazer um motor de 'apenas' seis cilindros".
O Opala brasileiro é uma derivação do europeu Opel Rekord, da época em que a marca alemã ainda pertencia à General Motors.
No entanto, pontua, existem componentes mecânicos compartilhados com modelos antigos da Chevrolet comercializados nos Estados Unidos. O propulsor de seis cilindros em linha do Comodoro, afirma, é semelhante ao utilizado no Chevy Nova.
Já pensando na necessidade futura de manutenção, Luís Humberto tem pesquisado a disponibilidade de peças de reposição.
"Daqui a alguns dias vou consultar um mecânico para verificar se componentes da suspensão são compatíveis com algum outro modelo daqui. Algumas peças, creio, poderei ter de importar do Brasil em caso de necessidade. Gosto do meu carro, sei a condição dele e pretendo usá-lo bastante".
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