Sai Ka, entra Bronco: por que nova Ford tira sono dos seus concessionários
A decisão anunciada pela Ford de encerrar a produção de veículos no Brasil e focar exclusivamente modelos importados está tirando o sono dos seus 283 concessionários.
Prestes a perder os compactos Ka e EcoSport, os produtos de maior volume da marca, a rede de revendedores autorizados teme pelo futuro e projeta queda de 80% no faturamento nessa nova fase.
Além disso, conforme noticiado com exclusividade por UOL Carros na sexta-feira passada, a Abradif (Associação Brasileira dos Distribuidores Ford) contesta a proposta inicial de indenização feita pela montadora aos concessionários que serão desligados, como parte da reestruturação da operação local da companhia.
No mesmo dia, a associação notificou a empresa extrajudicialmente.
Já prevendo a queda drástica no faturamento da "nova Ford", a entidade pleiteia o desligamento imediato de toda a rede e reembolso superior a R$ 1,5 bilhão antes que os lojistas remanescentes sejam recontratados.
Oficialmente, a oval azul não se manifesta. No entanto, tivemos acesso à resposta enviada ontem pela montadora à Abradif, na qual diz ter recebido a notificação com "estranheza" e pontua que "serão conduzidas as negociações com condições isonômicas para toda rede, em patamares superiores aos previstos em lei e pagamentos ágeis".
Sob condição de anonimato, um tradicional concessionário diz que a Ford pretende enxugar a rede para aproximadamente 120 pontos de venda e pós-venda, ao passo que estudo encomendado pela associação de concessionários aponta que o número ideal, de forma a garantir um negócio rentável aos lojistas, seria "de 40 a 50 distribuidores".
O mesmo estudo aponta a expectativa de queda para 20% do faturamento atual com a chegada do Bronco e dos demais veículos que passarão a compor o portfólio da companhia no País.
'Vira-lata contra pitbull'
Conforme a fonte entrevistada, embora a nova gama de produtos tenha preço bem mais elevado que o dos compactos que estão saindo de linha, proporcionando maior margem por veículo vendido, o temor é de que o volume a ser comercializado seja insuficiente para proporcionar a lucratividade necessária.
"Segundo informações internas obtidas com funcionários da montadora, o Ford Bronco chega até abril com uma ou duas versões, custando cerca de R$ 280 mil. Esse e outros produtos virão para concorrer na mesma faixa de marcas premium já consolidadas. A Ford está com um vira-lata na mão e quer brigar com pitbull", pontua.
Ao mesmo tempo, a Ford diz, na carta endereçada à Abradif, que "o modelo de negócio reestruturado é o caminho para um futuro sustentável e lucrativo. A perspectiva de melhores margens e lucratividade se baseia no plano de produtos globais de maior valor agregado, áreas de atuação e densidade de concessionários para venda e pós-venda revistas, além de novas condições operacionais e políticas de incentivo".
A Abradif indica não estar convencida da promessa e o embate com a Ford poderá se tornar uma disputa judicial.
Carro barato dá prejuízo?
Para Flavio Padovan, que trabalhou durante 30 anos na oval azul, ocupando cargo de direção, e hoje é sócio da consultoria MRD Consulting, carros baratos não são rentáveis para montadoras em geral, embora estivessem sustentando parte considerável dos lucros dos distribuidores Ford - segundo eles próprios.
"Os chamados carros populares, modelos de entrada, não oferecem margem de lucro ou têm lucratividade mínima [para as fabricantes]. Não pagam as contas, mesmo com alto volume para os padrões brasileiros. Há muitos anos a Ford vinha operando no prejuízo", opina.
Os modelos mais sofisticados das montadoras em operação no País, incluindo a Ford até a decisão de encerrar a manufatura local, são na maioria trazidos de fora. Já a produção nacional prioriza veículos mais acessíveis.
"As montadoras ganham dinheiro, de fato, com os modelos mais caros".
Ao mesmo tempo, Padovan questiona o sucesso do novo modelo de negócio da sua antiga empregadora.
"Tenho dúvidas sobre a rentabilidade, pois todos os carros serão importados, sujeitos à flutuação do dólar. É preciso ver a estratégia relativa ao México, país com o qual o Brasil tem acordo de livre comércio de automóveis e comerciais leves".
O Bronco virá do país norte-americano, sem incidência de imposto de importação. A Ford já traz a Ranger da Argentina, que também exporta para cá com isenção do tributo, limitada por cotas.
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