Como brasileiro dobrou preço e potência da 'pior Ferrari do mundo'
Morador de Atlanta (EUA), o brasileiro Anderson Dick garimpou uma Ferrari F355 Spider 1998 que estava largada havia dez anos a céu aberto no pátio de uma oficina perto de casa.
O empresário diz que fechou negócio em dezembro do ano passado por US$ 31 mil (R$ 167,2 mil), menos da metade do preço de um exemplar em bom estado. Não era o caso do esportivo italiano com pintura amarela: trazia registro de sinistro, problemas hidráulicos no câmbio automatizado, capota de lona rasgada e até fezes de rato no compartimento do motor.
Com a ajuda de amigos e o gasto de aproximadamente US$ 30 mil (R$ 162,1 mil) em novas peças, Dick não apenas devolveu o conversível à velha forma, como também aumentou, e muito, a performance original: a potência saltou de 380 cv para 800 cv e o preço subiu para US$ 80 mil (R$ 432,6 mil) - de acordo com sua avaliação.
Tudo isso durante apenas 30 dias, aproveitando as horas vagas.
Não bastasse o "lucro" estimado em quase US$ 20 mil (R$ 108 mil), Anderson conta que ainda pode faturar mais US$ 10 mil (R$ 54 mil) com a venda de peças originais Ferrari que retirou do veículo durante a reforma e a preparação.
Ele diz que não tem a intenção de vendê-lo, mas pode mudar de ideia se aparecer uma "proposta irrecusável".
"Que os puristas me perdoem, mas essa F355 era o que eu estava procurando. Uma Ferrari estragada que fosse barata para consertar e customizar. Não faria todas as modificações que fiz em uma que estivesse perfeita".
'Pior F355'
Os problemas e os desafios do projeto eram muitos, a ponto do youtuber Ed Bolian, que tem mais de 1,3 milhão de seguidores no canal VINwiki, referir-se ao carro como "a pior F355".
Na verdade, Bolian estava interessado na Ferrari, mas acabou perdendo a disputa para o brasileiro. Em publicação feita no Instagram há cerca de duas semanas, ele chegou a colocar em dúvida a capacidade do novo dono de trazer o bólido de volta à velha forma e deixá-lo ainda melhor.
"Estou na busca para comprar a pior F355 que seja ao menos parcialmente funcional. Achei o exemplar perfeito algumas semanas atrás, mas, infelizmente, alguém que não sabe no que está se metendo fez oferta melhor", disse.
Mais tarde, Bolian editou a publicação, parabenizando o novo proprietário e dizendo que Dick teve "as ideias certas" para aquele exemplar.
Ele até convidou o brasileiro para falar a respeito da sua jornada com a Ferrari no VINwiki.
Provavelmente, antes de se retratar ele assistiu ao primeiro vídeo que Anderson postou no YouTube sobre o projeto.
Ferrari vira vitrine
Conforme UOL Carros contou há cerca de duas semanas, em apenas quatro dias o empresário e amigos conseguiram fazer a F355 Spider voltar a rodar e já subir de valor.
Todo o trabalho foi realizado na oficina que a FuelTech mantém em Atlanta, o que economizou uma boa soma de dólares em mão de obra.
Uma das primeiras modificações foi a que talvez mais valorizou o conversível: a troca do câmbio automatizado defeituoso por uma transmissão mecânica, bastante cobiçada nessa Ferrari.
Pesquisando em fóruns na internet, Anderson encontrou um kit de conversão para manual, que conseguiu trocar pau a pau pelas peças originais. A embreagem, por sua vez, veio do Brasil.
Quanto à capota, cujo mecanismo de abertura também estava avariado, a saída que encontrou foi simplesmente deixar a operação 100% manual, reduzindo o peso do veículo em aproximadamente 20 kg. Também encaminhou o conserto da parte rasgada.
"Somente a conversão para transmissão mecânica valorizou a Spider em uns US$ 10 mil. Já as peças da abertura da capota eu irei vender por cerca de US$ 2 mil [R$ 10,8 mil]".
O trabalho incluiu higienização completa, polimento da pintura e reforma do interior. Após a remoção do cocô de rato, o motor 3.5 V8 recebeu novos fluidos e correias - serviço que sai por cerca de US$ 10 mil em uma oficina autorizada e custou US$ 1,4 mil (R$ 7,6 mil).
A partir desse ponto, começou a transformação para deixar a Spider mais funcional e com 800 cv.
Dick aproveitou a empreitada pessoal para converter a Ferrari em uma vitrine da sua empresa.
Todo o sistema original de injeção foi trocado por kit da FuelTech.
"Além do ganho de performance, o carro ficou mais confiável e agora é flex, abastecido com o etanol E85 utilizado nos EUA. Se for preciso fazer algum diagnóstico, agora não dependo mais de uma autorizada Ferrari. Além disso, a nova ECU viabilizou "remapear" o motor para instalar turbo", relata.
Anderson Dick instalou uma turbina Garrett "de última geração" na sua F355, com direito a válvula de alívio de pressão eletrônica e intercooler.
Para completar, o escapamento original foi substituído por outro de titânio e itens de acabamento interno e do compartimento do motor passaram a ser de fibra de carbono - alguns com logotipo da empresa do brasileiro.
Agora, faltam só os acabamentos finais e a entrega das novas rodas, inspiradas nas peças da Ferrari F40 - já encomendadas.
"Todo o processo foi de aprendizado, muitos macetes eu aprendi pesquisando vídeos do YouTube e fóruns especializados. Se eu fosse encomendar a customização aqui, não sairia por menos de US$ 60 mil [R$ 325 mil]".
A empreitada já está repercutindo nas redes, mas a "prova de fogo" será no mês que vem, quando Dick levará sua F355 pronta a um tradicional evento de carros exóticos clássicos em Atlanta.
"A participação foi aprovada com menção de honra. Vou até instalar umas câmeras dentro do carro só para ver a reação dos fãs de Ferrari ao meu projeto".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.