Ford: fábricas paradas há 20 dias já causam falta de peças de Ka e Ecosport
As fábricas da Ford em Camaçari (BA) e Taubaté (SP) estão paradas desde o último dia 11, quando a empresa anunciou o fim imediato da produção nacional de veículos. E isso já tem se refletido nas concessionárias. Por causa da paralisação, há relatos de falta de peças de reposição para os três modelos que a oval azul montava no País: Ka, Ka Sedan e EcoSport.
UOL Carros teve acesso à correspondência enviada anteontem pela Abradif (Associação Brasileira dos Distribuidores Ford) a todos os revendedores da marca, relatando o problema.
Na circular, a entidade afirma que suas associadas já têm recebido notificações dos Procons devido à indisponibilidade de componentes para manutenção na rede autorizada.
A associação acrescenta que cobrará da montadora orientação de como "proceder diante da nova situação por ela criada exclusivamente, responsabilizando-se por todos seus efeitos".
"A Abradif, tendo tomado conhecimento através suas associadas que os Procons locais já estão procedendo com o envio de notificações administrativas, motivadas principalmente (pelas informações que nos chegam) de que já há falta de peças de reposição e acessórios, está preparando uma nova notificação a ser endereçada à Ford", diz o texto, assinado pelo comitê jurídico que a entidade acabou de constituir.
Na mesma correspondência, a Abradif orienta os respectivos associados a apresentarem "defesa administrativa informando que a rede de concessionários não tem o controle da produção de peças e acessórios".
Vale destacar que uma parcela considerável dos itens de reposição da marca é fabricada por companhias terceirizadas, mediante contrato.
Na sexta-feira passada, a Abradif já havia notificado a Ford extrajudicialmente, discordando da proposta inicial para indenizar os concessionários que terão os contratos encerrados. Segundo informou um tradicional revendedor, sob condição de anonimato, os planos são de reduzir a rede dos atuais 283 pontos de venda e pós-venda para aproximadamente 120.
Procurada pela reportagem, a fabricante não comenta a falta de peças e afirma que "continuará fornecendo assistência total ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia para seus clientes no Brasil e na América do Sul".
No anúncio do encerramento das atividades, a montadora informou que as fábricas seguiriam ativas "por alguns meses para garantir disponibilidade dos estoques de pós-venda". A empresa até tentou convocar uma parte dos seus quadros para a retomada das atividades, sem sucesso. A entrada das unidades na Bahia e em São Paulo permanece bloqueada desde então pelos sindicatos, que cobram a manutenção dos empregos ou indenizações "justas".
Procon-SP vai se reunir com Ford
O Procon-SP ainda não dispõe de dados consolidados a respeito de reclamações de clientes relacionadas à falta de peças, desde o anúncio do fim das atividades de manufatura da Ford no Brasil.
O órgão de defesa do consumidor notificou a empresa no dia 13 de janeiro para explicar "como será feito o atendimento aos proprietários cujos veículos estão dentro do prazo de garantia; por quanto tempo e, de que forma, serão disponibilizadas as peças de reposição para os veículos que estão fora da garantia; e se o encerramento das atividades das fábricas causará impacto no prazo de entrega dos veículos novos comprados recentemente".
A Ford enviou resposta dentro do prazo solicitado, que está sob análise, e haverá uma reunião em 4 de fevereiro para tratar do tema - informa o Procon-SP, fundação vinculada ao governo de São Paulo.
O Código de Defesa do Consumidor estabelece que "os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto" e acrescenta que, "cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por período razoável de tempo, na forma da lei".
"O entendimento da fundação é de que as peças deverão ser mantidas durante a vida útil razoável do produto e, que, ainda que cesse a fabricação do produto, o fornecedor deve disponibilizar um canal de atendimento para o consumidor", destaca Guilherme Farid, chefe de gabinete do Procon paulista.
Vigília nas fábricas para impedir produção
Segundo o Sindmetau (Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região), os funcionários da fábrica do Vale do Paraíba estão de licença remunerada desde 11 de janeiro e, desde o dia seguinte, mantêm vigília ininterrupta nas portarias para impedir a entrada e a saída de qualquer peça ou equipamento - e garantir que não haja nenhuma produção.
O bloqueio é realizado como forma de pressão para retomar as negociações com a Ford em defesa dos empregos - de acordo com o sindicato, a companhia tinha firmado acordos de estabilidade com os trabalhadores das duas fábricas para pelo menos mais um ano de produção no Brasil.
A entidade sindical acrescenta que a unidade do interior paulista, responsável pela produção de motores e transmissões, não preparou um estoque de peças antes do anúncio do fim das respectivas atividades. Até o momento, não houve convocação de funcionários em Taubaté para retomar a fabricação de componentes.
Já o Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari confirma que a montadora chegou a pedir a retomada da produção de peças, parada desde 11 de janeiro. A unidade da Bahia fabricava os três carros nacionais da oval azul, bem como motores, câmbios e outros itens.
"A Ford solicitou [a volta ao trabalho], mas, como as negociações sobre uma possível indenização justa não avançaram da maneira como a gente esperava, fizemos uma assembleia. Foi decidido que que iremos travar a produção de qualquer tipo de peça enquanto houver esse posicionamento intransigente da empresa", diz Kleiton Alder Tenório da Silva, secretário de comunicação do sindicato.
Ele tem dúvidas se houve tempo para formar estoque de peças.
"Não acredito que tenha havido planejamento para formar estoque. Foi tudo muito repentino, não havia nenhuma indicação desse encerramento da produção de veículos".
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