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Ford: concessionários temem saída definitiva e querem 'passar régua'

Abradif quer encerramento imediato dos contratos e indenização bilionária devido a temor de adeus definitivo em 2 anos - Divulgação
Abradif quer encerramento imediato dos contratos e indenização bilionária devido a temor de adeus definitivo em 2 anos Imagem: Divulgação

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

01/02/2021 04h00

Após a Ford anunciar o fim da produção de veículos no Brasil, a rede de concessionários negocia o encerramento imediato do contrato e o pagamento das respectivas indenizações.

Conforme apuração de UOL Carros, os lojistas cobram reembolso superior a R$ 1,5 bilhão antes que a montadora inicie sua nova fase, apenas com modelos importados e menos da metade dos 283 pontos de venda e assistência técnica atuais.

Conforme revendedores revelaram sob condição de anonimato, a pressa em "fechar a régua" tem duas motivações: expectativa de queda de 80% no faturamento com o fim da oferta de Ka e EcoSport e o temor de encerramento definitivo das operações da marca no País a médio prazo.

Ao mesmo tempo, a oval azul planeja reembolsar apenas os concessionários que pretende desligar e afirma, por meio de nota, que "continuará fornecendo assistência total ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia para seus clientes no Brasil e na América do Sul".

De acordo com relatos de lojistas da rede autorizada, a "nova Ford" pretende enxugar a rede atual para cerca de 120 unidades, com o objetivo de trabalhar com um portfólio com preços acima de R$ 150 mil.

A montadora tem US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 23 bilhões) alocados para encerrar as operações de manufatura no Brasil e boa parte desse montante é relacionada às indenizações de funcionários das fábricas e revendedores.

Segundo concessionário que conversou com a reportagem, as indenizações são baseadas no montante faturado por cada distribuidor nos últimos dois anos.

"Queremos receber já as indenizações. Se a Ford decidir sair de vez do País daqui a dois anos, quem ficar agora será indenizado com base em apenas 20% do que está faturando hoje, segundo projeção encomendada pela Abradif [Associação Brasileira dos Distribuidores Ford]", diz uma fonte.

Por essa razão, a associação propõe encerrar primeiro todos os contratos de concessão, para depois estabelecer novo acordo com os lojistas remanescentes. R$ 1,5 bilhão é o valor estimado de toda a rede de distribuidores.

Conforme documento enviado pela montadora à Abradif na semana passada, a marca rejeita a proposta. Há indícios de que o processo pode parar na Justiça, embora o impasse ainda não tenha sido judicializado.

Na sexta-feira retrasada, a associação dos distribuidores Ford notificou a empresa extrajudicialmente, discordando da proposta inicial de indenização.

Falta de peças

Concessionária Ford - Divulgação - Divulgação
Vendas caíram consideravelmente e vão cair ainda mais quanto acabarem estoques de Ka e EcoSport
Imagem: Divulgação

Em circular enviada há poucos dias para todas as associadas, a Abradif afirma que concessionários já têm recebido notificações dos Procons devido à indisponibilidade de componentes para manutenção na rede autorizada.

Desde o dia 11 de janeiro, quando a Ford anunciou o fim das operações de manufatura no Brasil, as fábricas de Camaçari (BA) e Taubaté (SP) estão sem fabricar peças de reposição. O acesso às unidades está barrado desde então pelos sindicados dos respectivos funcionários, que reivindicam a manutenção dos empregos.

A associação acrescenta que cobrará da montadora orientação de como "proceder diante da nova situação por ela criada exclusivamente, responsabilizando-se por todos seus efeitos".

"A Abradif, tendo tomado conhecimento através suas associadas que os Procons locais já estão procedendo com o envio de notificações administrativas, motivadas principalmente (pelas informações que nos chegam) de que já há falta de peças de reposição e acessórios, está preparando uma nova notificação a ser endereçada à Ford", diz o texto, assinado pelo comitê jurídico que a entidade acabou de constituir.

Na mesma correspondência, a Abradif orienta os respectivos associados a apresentarem "defesa administrativa informando que a rede de concessionários não tem o controle da produção de peças e acessórios".