Como está a situação da Ford no Brasil um mês após fechar fábricas
Na quinta-feira passada, o anúncio de fechamento das fábricas de veículos da Ford no Brasil completou um mês. Desde então, o processo de reestruturação da montadora no País continua com muitas questões indefinidas.
Ainda falta negociar o desligamento dos mais de 5.000 funcionários diretos da empresa e saber como ficará o tamanho da rede de concessionários nessa nova fase, na qual a Ford passará a comercializar somente modelos importados.
Tanto os trabalhadores das fábricas quanto os revendedores de veículos aguardam pelo pagamento de indenização em clima tenso, enquanto os clientes estão sumindo dos showrooms e as vendas da marca, despencando.
Veja tudo o que precisa saber a respeito da situação atual da Ford.
1 - Fábricas seguem paradas
Ao anunciar no dia 11 de janeiro o fim das operações locais de manufatura, a montadora informou que manteria as fábricas de Camaçari (BA) e Taubaté (SP) funcionando por mais alguns meses a fim de produzir peças de reposição para os modelos nacionais Ka, Ka Sedan e EcoSport.
Além disso, a companhia anunciou a continuidade da fabricação do jipe T4 em Horizonte (CE) até o quarto trimestre de 2021, enquanto busca um possível comprador da Troller.
No caso das fábricas baiana e paulista, no entanto, as atividades continuam paradas - os funcionários mantêm vigília nas portarias, impedindo a entrada e a saída de pessoas e componentes.
De acordo com os sindicatos, a iniciativa serve para pressionar a Ford a negociar condições melhores para efetuar o desligamento dos trabalhadores.
Enquanto isso, a Justiça do Trabalho decidiu, em caráter liminar, proibir a demissão de funcionários das duas fábricas enquanto não houver negociação com os respetivos sindicatos.
Além disso, a Ford fica impedida de suspender o pagamento de salários e licenças remuneradas enquanto os contratos de trabalho estiverem em vigor, bem como de fazer propostas de forma individual aos trabalhadores. A fabricante recorreu.
2 - 'Guerra' com concessionários
A decisão de fechar as fábricas em território brasileiro pegou de surpresa não só os funcionários, como também a rede de concessionários.
Desde então, a relação da Ford com seus revendedores autorizados azedou e há indícios de uma provável disputa judicial.
De um lado, a Abradif (Associação Brasileira dos Distribuidores Ford) considera que a interrupção "unilateral" da produção local de veículos representa quebra de contrato e reivindica cancelamento imediato do vínculo da montadora com todos os 283 concessionários.
Conforme apuração de UOL Carros, a associação deseja que a totalidade dos distribuidores seja indenizada antes que a Ford defina quantos deles irá manter na nova fase - a expectativa é de que a rede seja enxugada para cerca de 120 pontos de venda e pós-venda.
Do outro lado, a oval azul sustenta que os contratos anteriormente firmados seguem valendo e que irá indenizar apenas os revendedores que não irão permanecer.
A montadora dispõe de US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 22,6 bilhões) contingenciados para bancar o fechamento das fábricas, incluindo as indenizações a trabalhadores e distribuidores.
A Abradif também afirma, em documentos aos quais tivemos acesso, que já existe falta de peças em consequência do fechamento das linhas de produção - algo que a Ford negou ao Procon-SP.
3 - Possíveis compradores
O destino das três unidades fabris que a companhia norte-americana mantém em território brasileiro continua em aberto.
O governo da Bahia divulgou que está sondando potenciais compradores das instalações de Camaçari, incluindo fabricantes chineses, indianos, sul-coreanos e japoneses.
Enquanto isso, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, fundador e proprietário do Grupo Caoa, avalia a aquisição da fábrica da Ford na Bahia - conforme noticiado com exclusividade pelo colunista de UOL Carros Jorge Moraes.
Sindicalistas defendem, por outro lado, que o governo federal e os próprios trabalhadores assumam a operação das unidades, mantendo a produção dos automóveis que a Ford montava no País.
4 - Participação de mercado já caiu
Conforme esperado, após o anúncio do fechamento das fábricas as vendas da Ford caíram consideravelmente.
Em janeiro, a participação de mercado da companhia em relação às vendas de automóveis e comerciais leves foi reduzida para 5%, o que deixou a Ford em oitavo lugar no ranking de montadoras.
A título de comparação, no ano passado a empresa ficou com 7,14% de market share, na quinta posição.
A expectativa de distribuidores ouvidos pela reportagem, sob condição de anonimato, é de que a participação de mercado da "nova Ford" despenque para 1,4% na melhor das hipóteses, ao comercializar exclusivamente veículos de "maior valor agregado" - com preços acima de R$ 150 mil.
5 - Renovação da linha de produtos
Segundo concessionários disseram logo após o anúncio de 11 janeiro, os estoques de Ka, Ka Sedan e EcoSport eram suficientes para mais 40 dias de vendas, no máximo.
Se for confirmada a projeção, portanto, em breve o trio sairá de linha no Brasil.
Ao mesmo tempo, a Ford prepara a renovação da sua linha de veículos, com foco em SUVs, picapes e modelos eletrificados.
Ao tornar pública a decisão de fechar as respectivas linhas de produção em solo brasileiro, a montadora confirmou as vindas da nova geração da Ranger, trazida da Argentina; do Bronco Sport, importado do México; da Transit, montada no Uruguai; e do Mustang Mach 1, que virá dos Estados Unidos.
De acordo com concessionário ouvido por UOL Carros, o Bronco Sport estreia aqui até abril, com preço médio de R$ 280 mil. Também em 2021 desembarcam Mustang Mach 1 e Transit. Já a nova Ranger pode estrear no ano que vem, enquanto a Maverick, futura rival da Fiat Toro, também está prevista para 2022, com preço de aproximadamente R$ 130 mil.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.