Álcool de farmácia, uísque: vale gambiarra contra combustíveis nas alturas?
O preço dos combustíveis não para de subir. A gasolina teve cinco reajustes apenas neste ano, enquanto etanol, diesel e GNV também encareceram. Para não comprometer o orçamento, muitos têm reduzido o uso do carro.
Há quase três anos, durante a greve dos caminhoneiros, o problema foi a falta do produto nos postos. Na época, as redes sociais bombaram com questionamentos sobre o uso de alternativas "domésticas" para colocar no tanque e sair rodando, como álcool de farmácia, bebida alcoólica e óleo de cozinha.
Essas opções seriam boa ideia para você usar o que tem em casa e poupar um dinheirinho com abastecimento, nem que seja para uma emergência?
A resposta é não. Ainda que algumas "gambiarras" de fato façam o motor funcionar, o risco de danos mecânicos é bastante alto. Além disso, tem a questão financeira: mesmo caros, os combustíveis "oficiais" ainda custam menos do que a maioria dos produtos que iremos listar abaixo.
"Não é recomendado utilizar nenhum combustível que não seja o especificado pela fabricante do veículo, que em tese atende parâmetros e características definidos pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) e utilizados pelas montadoras no desenvolvimento de determinado modelo", alerta o engenheiro e consultor automotivo Henrique Pereira.
Veja gambiarras que você deve evitar.
1 - Álcool em gel ou de farmácia
Seu uso não é indicado por conta da alta concentração de água, inclusive em carros a álcool ou flex.
"Até pode fazer o motor funcionar, ainda por cima se for diluído ao etanol que ainda está no tanque. O etanol hidratado com o qual você abastece na bomba traz 7% de água, enquanto o álcool de limpeza pode ter 50% ou mais", aponta Pereira. "É como se você abastecesse com álcool 'batizado', porém com muito mais água", destaca o engenheiro.
De acordo com Pereira, a água em excesso pode até causar calço hidráulico no motor, especialmente quando ele é ligado ainda frio:
"A água pode estragar pistões, bielas e até danificar o bloco do motor, além de prejudicar a lubrificação e elevar o consumo".
Para quem for se aventurar, a despeito das recomendações do especialista, prefira o produto com teor GL acima de 90º, que até fará o motor funcionar. E nada de álcool em gel, daqueles usados para higienizar as mãos em tempos de pandemia, devido às substâncias nele contidas que dão a respectiva consistência, mas não fazem bem ao automóvel.
De acordo com Henrique Pereira, a regra vale para outros tipos de álcool, ainda que alguns mais puros, como o 96º GL, o farmacêutico e o anidro (sem água), aquele adicionado à gasolina, de fato façam o carro andar.
No entanto, pontua, o risco não compensa.
"Metanol, por exemplo, já chegou a ser usado oficialmente nas bombas no passado, em tempos de falta do etanol. Porém, é um produto perigoso à saúde, com comércio controlado", explica.
2 - Uísque e outras bebidas destiladas
Colocar pinga, uísque ou bebida alcoólica também é uma furada.
"Além do maior teor de água, que inclusive pode impedir a queima do álcool presente na bebida, existem na sua composição outras substâncias que não combinam com um motor a combustão", aponta Pereira.
Açúcares das bebidas, por exemplo, formam uma "goma" na parte interna do propulsor sob temperatura elevada, danificando componentes.
3 - Óleo de fritura e óleo de mamona
Quanto ao uso de óleo de cozinha ou óleo de mamona no lugar do diesel, Henrique Pereira lembra que esses óleos de fato são utilizados para produzir biodiesel, mas in natura não têm as especificações de queima e viscosidade adequadas - a não ser que haja uma adaptação no automóvel para "beber" especificamente esses produtos.
O uso desses itens só é possível após passarem por um processo de transformação química, esclarece. Mesmo misturados no diesel, esses óleos não vão queimar da forma esperada, trazendo risco elevado de entupimento de bicos injetores.
"Vale lembrar que o percentual de biodiesel processado não passa de 20% na mistura com o diesel convencional", calcula o engenheiro.
4 - Querosene
Misturar querosene à gasolina no tanque ou mesmo enchê-lo com esse produto é uma opção a ser considerada?
Não. O querosene que você compra para diversos serviços é um solvente, bem diferente do querosene de aviação.
Portanto, abastecer o carro com solvente equivale a deliberadamente adulterar o próprio combustível.
"Postos irregulares fazem exatamente isso para aumentar o volume de gasolina comprada da distribuidora e assim ampliar os lucros. O querosene e outros solventes danificam várias peças, especialmente borrachas e plásticos, que são corroídos, além de aumentar o gasto do combustível", lista Henrique Pereira.
"Tem gente achando que o querosene comprado em ferragens, por exemplo, é o mesmo usado em aviões, mas não é verdade. Não dá para trocar a gasolina por ele".
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