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Último carro pilotado por Senna no Brasil vai parar 'sem querer' em coleção

José Antonio Leme

Do UOL, em São Paulo (SP)

27/04/2021 04h00

Às vezes tudo que nós precisamos na vida é sorte e um pouco de coincidência. E talvez fosse esse o resumo de como o Audi S2 das imagens, um dos últimos carros guiados por Senna no Brasil antes da sua morte em 1º de maio de 1994, foi parar na mão de um colecionador que nem sabia desse histórico do carro.

Por uma sequência de coincidências, o carro que antes era parte da coleção por ele gostar dos modelos da Audi do início da década de 90, se tornou um objeto raro, especialmente para ele que é um fã assumido de Ayrton Senna.

"A minha história com esse Audi S2 começou por um anúncio de venda na internet. Eu estava procurando um RS2 Avant na verdade, mas os preços estavam inflacionados, então vi o S2. Ele era parte de uma coleção muito grande, mas o antigo dono era mais focado em carros americanos, então resolveu vender e eu acabei comprando", diz o colecionador que prefere não se identificar.

A história que parece longínqua aconteceu em 2019. Até então, o Audi S2 pilotado por Ayrton Senna estava por aí mais pela raridade que tem - foram produzidas apenas 306 unidades da versão sedã - do que por ter estado nas mãos do tricampeão mundial de Fórmula 1 no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.

"Quando eu peguei o carro não tive muito tempo de curtir porque de cara mandei fazer uma revisão profunda, o que acabou deixando o modelo parado por cerca de seis meses", diz o atual dono.

A revisão trouxe, além da garantia de que todo o carro estava em ordem, afinal eram 25 anos de existência, algumas melhorias no sistema de freio, que foi melhor dimensionado para a potência do carro e a troca da turbina, uma vez que a antiga estava "fumando".

"Até então, tudo que eu sabia era que o carro foi um dos primeiros a chegar no Brasil por causa dos carimbos de revisão da Senna Import, que foi quem trouxe a Audi ao Brasil, em fevereiro de 1994, mas não que ele tinha pilotado essa unidade", afirma.

O caminho da descoberta

Foi nesse ínterim da revisão, em meio a pandemia, que ele recebeu um contato de uma pessoa interessada em comprar o carro. "A pessoa tinha interesse no carro, mas não tinha muito conhecimento técnico e mecânico então me colocou em contato com um jornalista que ela conhecia e que tinha conhecimento do carro, o Douglas Mendonça", conta.

E nessa troca de informações entre eles foi que surgiram as primeiras informações. Mendonça, à época da chegada da Audi ao País, era diretor de redação da revista Quatro Rodas - motivo pelo qual Ayrton Senna pilotou esse carro em Interlagos: uma matéria da publicação falando da chegada da marca no Brasil.

Com fotos do carro em mãos e que tinham a placa à mostra, Douglas Mendonça contatou alguns amigos da época da Quatro Rodas que confirmaram que aquele era o mesmo carro que Ayrton Senna tinha pilotado para a matéria na revista.

Um dos procuraoos foi o consultor de comunicação, Eduardo Pincigher, que na época era o editor-chefe da revista e que foi até a pista para acompanhar Ayrton Senna nos testes. "Na época, o Ayrton foi para a pista e levamos o S2 e também o S4, eram as duas versões esportivas do Audi 80 e do Audi 100", relembra.

A fatalidade de 1994

A matéria e as fotos de Ayrton Senna com os carros em Interlagos nunca foram publicadas. Programada para a edição de maio da revista, teve antes dela o acidente em Ímola, em 1º de maio de 1994, que tirou a vida do piloto brasileiro a bordo do carro da Williams, na curva Tamburello.

"Na época, a direção da revista entendeu que seria muita exploração em cima da imagem do ídolo nacional e que tinha morrido de maneira trágica naquele feriado do dia do trabalho", conta Pincigher.

"O episódio fez com que a revista imprimisse, às pressas, outra capa para a edição, e retirasse a reportagem prevista com sete páginas para a edição", completa Douglas Mendonça.

Está à venda?

O atual proprietário do S2 diz que como fã da marca, de Fórmula 1 e do Ayrton Senna, saber que o tricampeão pilotou aquele carro obviamente coloca mais valor histórico sobre o modelo que ocupa sua garagem.

"Meus amigos dizem que se eu vender sou louco. Eu digo para eles que não é um carro que não tem preço, mas que se chegar um xeique dos Emirados fazendo uma ótima oferta eu posso considerar", conta rindo.

Ainda assim, ele reforça que, como não tinha interesse em vender na época em que foi procurado, também não está pensando nisso agora, mas agradece que tenha acontecido o contato que levou a descobrir a história por trás do carro.

Audi S2

O Audi S2 era a versão esportiva do Audi 80. Além da versão sedã, o modelo teve também uma versão perua e cupê com mecânica mais "nervosa". Dessa base surgiu também o primeiro "Audi RS", a perua RS2 Avant, que é cultuada até hoje.

Sob o capô, o três volumes trazia um motor cinco cilindros, turbo, de 2,2 litros. Com 20 válvulas e duplo comando, o propulsor rendia 230 cv a 5.900 rpm e podia chegar a 255 cv com a função overboost ativada. O câmbio é manual de seis marchas.

Na época, como inovações tinha freios ABS, barras de proteção lateral nas portas, airbags dianteiros, estrutura colapsável em caso de colisão dianteira, ajuste de altura e distância do volante, bancos dianteiros com ajuste elétrico, entre outros itens que hoje são normais em grande parte dos veículos.

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