Ford para poucos: novo SUV posiciona montadora entre marcas de luxo
Depois do lançamento da Ranger Black, o primeiro da 'nova' Ford após fechar fábricas e virar apenas importadora de veículos no Brasil, a empresa começa a revelar oficialmente o Bronco Sport - esse sim um produto inédito no País.
Criado como um produto global, vem importado do México e tem uma missão um pouco indigesta: provar que a marca do oval azul continuará a ser competitiva fora dos segmentos de compactos.
Na atual gama de produtos da marca, o Bronco Sport se situará acima do Territory e abaixo do Edge ST se considerarmos apenas a categoria SUV. Em preço, a expectativa é que ele se aproxime da versão de topo da picape Ranger, que hoje bate nos R$ 255.900.
Com isso, a tendência é que ele seja razoavelmente mais caro que o Jeep Compass, líder absoluto de mercado entre os SUVs médios, em sua versão de topo Trailhawk 2022 a diesel, que está em pré-venda por R$ 224.304.
Isso, porém, não parece ser um problema para a Ford. Pelo contrário, evidencia a nova estratégia da montadora no Brasil: deixar de lado seu passado 'popular' e se inserir na briga entre as marcas de luxo.
O desafio, porém, não é simples. Sem carros de volume, a Ford precisa mostrar que tem tecnologia para brigar com modelos de luxo no mesmo preço, às vezes menos equipados ou com potência inferior.
Se no acabamento o nível de luxo não é o mesmo de SUVs de Audi, BMW, Land Rover ou Mercedes, a Ford precisa cravar que virá mais equipada a um preço melhor - mesmo que a "bolachinha" no capô não crie essa relação direta na cabeça do consumidor, que estava acostumado a ver o oval no Ka, por exemplo.
Dependendo do que o consumidor procurar, o Bronco Sport será sim uma boa opção. Um trunfo seria o atual câmbio com o dólar nas alturas, fator que ajudaria a Ford e sua produção mexicana, com impostos menores.
Em um breve comparativo, Audi Q3 e BMW X1 partem de R$ 228.990 e R$ 256.950, respectivamente. Land Rover Discovery Sport sai por R$ 293.950. Na Mercedes-Benz, o GLA custa R$ 325.900, enquanto o irmão maior de sete lugares, GLB, feito também no México, parte de R$ 264.900.
Entre todos, apenas o Land Rover oferece tração integral como o Bronco Sport e motor acima dos 200 cv (250 cv). Os demais usam apenas tração dianteira e tem motores mais fracos em termos de potência. São 150 cv, 192 cv e 163 cv respectivamente.
Vender carro 'de luxo' é diferente
Especialistas do setor e consultores concordam que a Ford, para adentrar a esse segmento, precisará apostar especialmente no custo-benefício que o modelo pode vir a oferecer ao cliente.
"Ainda que a rede de concessionários vá diminuir muito, ainda será mais abrangente que a maioria das marcas de luxo. Isso pode ser um ponto a favor", diz uma das fontes.
Com uma boa diferença, a Ford terá que aprender a lidar e atender o cliente de luxo que não quer uma picape, assim como a Fiat teve que descobrir os hábitos de um consumidor que está disposto a gastar mais dinheiro quando colocou a Toro no seu portfólio de produtos.
"O cliente que gasta cerca de R$ 250 mil em um SUV não é o mesmo que comprava Ecosport ou Ka. E toda a rede que restou terá que aprender a lidar com isso. Vender um Edge nunca foi fácil por isso: o cliente disposto a desembolsar R$ 300 mil é diferente do que garantia as vendas do mês".
O aprendizado com o Ford Mustang, que é carro de nicho e não tem a obrigação de fazer volume, pode servir para ajudar a Ford a trilhar o caminho com o Bronco, mas ainda assim ele pode ser tortuoso. Afinal, mesmo seu rival mais comum, o Compass, vem de uma marca que é vista como de luxo pelo cliente, não como a "irmã da Fiat".
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