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Bugatti que ficou 75 anos submerso após jogo de pôquer volta a ser exibido

Nada de restauração: Bugatti é exibido nos EUA da forma como saiu do fundo de um lago - Reprodução/Bonhams, Michel Zumbrunn/AP
Nada de restauração: Bugatti é exibido nos EUA da forma como saiu do fundo de um lago
Imagem: Reprodução/Bonhams, Michel Zumbrunn/AP

Rodrigo Lara

do UOL, em São Paulo

17/05/2021 04h00

Quando carros antigos são encontrados abandonados, o que ocorre normalmente é um longo e difícil processo de restauração para que o clássico em questão ganhe uma segunda vida.

Se esse costuma ser o "caminho normal" até mesmo para carros mais simples, é de se supor que o restauro seria algo obrigatório quando falamos de veículos de grande valor histórico - e financeiro -, não é mesmo?

A história de um modelo da Bugatti de 1925, no entanto, subverteu essa lógica. E, mais do que isso, é recheada de fatos curiosos.

Falamos aqui de um Bugatti Type 22 Brescia Roadster, modelo que era uma evolução do segundo carro fabricado por Ettore Bugatti, o Type 13, de 1910. Quando esse modelo 1925 foi produzido, a Bugatti já tinha fama no automobilismo por construir modelos que não apostavam em força bruta, mas sim em leveza e dirigibilidade. E, com isso, empilhava conquistas em provas ao redor da Europa.

Esse exemplar, especificamente, pertencia a um piloto, o francês René Dreyfus. Você pode não conhecer esse nome, mas Dreyfus era considerado um herói das pistas nas décadas de 1920 e 1930. A habilidade que ele tinha nas pistas, aparentemente, não se repetia em outro campo de disputa: a mesa de pôquer. E isso acabou sendo decisivo para o destino desse carro.

Aposta acabou mal

Bugatti resgatado do fundo de lago - Reprodução/Bonhams, Michel Zumbrunn/AP - Reprodução/Bonhams, Michel Zumbrunn/AP
Imagem: Reprodução/Bonhams, Michel Zumbrunn/AP

Há algumas versões para essa história, mas a mais aceita e replicada pelo local onde o carro está exibido é a de que o seu destino foi selado em uma mesa de pôquer de Paris, em 1934, na qual Dreyfus encontrou o playboy suíço Adalbert Bodé. Partida vai, partida vem - não seria surpresa alguma se a jogatina não estivesse sendo acompanhada de uma ou várias doses de álcool -, Dreyfus resolve apostar o seu carro. Perdeu, provavelmente voltou a pé para casa e o episódio fez de Bodé o mais novo dono de um Bugatti.

Bodé encerrou sua passagem por Paris e retornou para a Suíça dirigindo o seu novo carro. A viagem, porém, não acabaria bem - ao menos para o carro.

Na fronteira com seu país natal, o playboy se viu em uma enrascada. Parado pela fiscalização, foi constatado que o carro estava, na verdade, sendo importado para a Suíça naquele exato momento. E, para entrar na terra do fondue, Bodé teria que pagar uma taxa de importação.

Acontece que o playboy provavelmente gastou toda a sua grana na temporada parisiense e estava sem um tostão no bolso. Resultado: o carro, que na época não valia muito, acabou sendo apreendido pelas autoridades. Bodé, por sua vez, decidiu que não valia a pena voltar e pagar pela liberação do veículo.

Ao invés de remover o carro para um galpão, os oficiais suíços decidiram por dar um fim ao veículo. Não desmontaram o carro, não atearam fogo, tampouco não transformaram ele em uma pilha de sucata na base da marretada: o destino foi o fundo do Lago Maior, que fica na fronteira entre a Itália e a Suíça.

O Bugatti ficou no fundo do lago e acabou virando uma espécie de mito local, ganhando até apelido: a Dama do Lago. Isso até 1967, quando o local onde o carro estava afundado foi localizado. Acabou virando uma atração para mergulhadores amadores, que desciam nas águas do lago para dar uma olhada no veículo.

Demorou bastante, no entanto, até que o Bugatti pudesse viver - ou ter os seus restos mortais, convenhamos - na superfície. Isso aconteceu em 12 de julho de 2009, quando um clube de mergulho das redondezas do lago resolveu remover o carro de lá e decidiu fazer um leilão beneficente. A causa era o combate à violência entre os jovens e o que motivou isso foi uma briga que acabou com uma pessoa morta na região.

O leilão ocorreu em 2010 e o comprador foi Peter Mullin, que desembolsou US$ 368.320 para levar o carro.

Exibição gloriosa

O carro foi parar no museu de Mullin, o Mullin Automotive Museum, na Califórnia, Estados Unidos. O local é especializado na exibição de carros franceses e a Dama do Lago é uma das principais atrações, tanto que conta com uma área de exposição reservada do restante dos carros.

Isso vale especialmente porque Mullin decidiu não restaurar o carro. Sendo assim, o Bugatti é exibido da mesma forma que foi retirado do lago: repleto de ferrugem e bastante detonado.

Apesar de ser uma atração bastante chamativa, a Dama do Lago passou alguns meses sem ver ninguém. Não, ela não retornou para o fundo de um lago, mas o museu fechou suas portas temporariamente devido à pandemia de Covid-19. As atividades no local retornaram apenas no último dia 9 de abril e, novamente, essa obra de arte criada pela lendária fabricante francesa de carros e finalizada - ainda que sem intenção - pela natureza poderá ser vista pelos visitantes do local.