Sucessores do VW Gol GTI? Kadett e outros esportivos nacionais inflacionam
Quanto você pagaria para estacionar um Chevrolet Kadett GSi na sua garagem? Se a ideia é achar uma unidade em excelente estado e origial, prepare-se para desembolsar por volta de R$ 70 mil.
Esse foi o valor - mais precisamente, R$ 71.888 - de uma unidade conversível ano 1993 na cor azul, vendida no final de semana passado em um leilão online. Nós já falamos aqui sobre o alto preço cobrado por esportivos nacionais da virada dos anos 1980 para a década de 1990 e a tendência é que os valores elevados se mantenham ou subam ainda mais.
"São carros que eram sonhos de consumo de quem tem entre 40 e 50 anos de idade hoje, então há uma valorização natural", explica o colecionador de carros e empresário Alexandre Badolato.
É importante ressaltar que, aqui, falamos de modelos que estão em perfeitas condições. É possível encontrar unidades de Volkswagen Gol GTI, Ford Escort XR3 e até do Kadett GSi por preços bastante razoáveis, mas que vão acabar demandando um investimento considerável para ficarem em bom estado.
"No fim, paga-se pouco pelo carro em si, mas o valor gasto com peças de reposição e outros itens faz com que o investimento fique próximo do feito por quem compra o carro pronto", ressalta Badolato.
Kadett GSi em alta, mas Gol GTI é imbatível
Lançado em 1992, o Kadett GSi tinha como grande novidade a adoção de injeção eletrônica em seu motor 2.0 - o Kadett GS, lançado em 1989, ainda contava com carburador.
Além disso, o carro também passava a contar com uma versão conversível, cuja produção era absurdamente complexa: a estrutura do modelo era feita no Brasil e, após isso, o carro ia para o Estúdio Bertone, na Itália, para ser finalizado e enviado de volta ao Brasil.
Passados 30 anos, essa versão conversível é a mais valorizada. Mas mesmo a configuração fechada deu um salto recentemente. "Há dois anos, o Kadett não estava nessa faixa de preço. Considerando o modelo fechado, um GSi em bom estado era encontrado por cerca de R$ 20 mil há um ano e meio ou dois. Agora, é comum encontrar o carro com preços em torno de R$ 40 mil", explica o leiloeiro Joel Picelli, um dos responsáveis pelo arremate do último fim de semana.
Para Picelli, enquanto os Gol GTI e GTS explodiram por volta de 2013, agora é a vez de outros carros da época, que não eram muito notados ou queridos, estarem em uma crescente de preço.
Isso indica que o esportivo da Chevrolet poderá tomar o lugar do Gol GTI em termos de valorização no mercado de clássicos?
"Não vejo a possibilidade de outros carros da época chegarem no patamar de preço do Gol GTI. Isso porque o carro ficou em linha, ainda que com carrocerias diferentes, por mais tempo. Além disso, a sigla GTI nos Volkswagen acabou ocupando um espaço mais valioso, como objeto de desejo, e foi usada em outros modelos da marca alemã", argumenta Picelli.
Importados no caminho
Há boas chances de que a trinca formada por GTI, GSi e XR3 seja a última de carros antigos nacionais a ganharem status de estrelas dos leilões.
O motivo para isso foi a abertura do mercado brasileiro às importações, em 9 de maio de 1990. Nessa onda, pouco a pouco os esportivos nacionais foram dando lugar como objetos de desejo aos modelos importados, que iam de esportivos, como o Mitsubishi Eclipse, até modelos mais luxuosos de marcas como BMW, Mercedes-Benz e Audi.
"Alguns carros, como o Vectra GSi, eram espetaculares, mas acabaram eclipsados por modelos importados, especialmente logo após o Plano Real. Isso acabou pulverizando muito os sonhos de consumo. Eu acredito que a próxima onda de interesse para colecionadores e a consequente valorização será de carros importados dessa época, que fizeram a cabeça de quem a viveu", diz Badolato.
O empresário justifica essa expectativa ao trazer uma análise de como tem funcionado o mercado para colecionadores de carros antigos ao citar que esses momentos de valorização ocorrem entre 30 e 40 anos após o auge de um modelo.
Daqui poucos anos, portanto, essa "janela para o passado" vai apontar na metade dos anos 1990. "É um período que o Brasil já passava por uma desindustrialização e esses sonhos de consumo vinham de fora, ao invés de serem carros fabricados aqui", complementa.
Picelli concorda com o argumento e vai além. "Isso já está acontecendo. Esportivos importados da época já estão nessa fase de colecionáveis e têm tido uma alta de preço", diz.
O maior entrave aqui, no entanto, é que modelos que chegavam via importação já traziam muita eletrônica embarcada. Com o tempo, manter esses carros vira uma tarefa mais complicada e cara, o que pode fazer com que as atenções de colecionadores ainda se mantenham voltadas aos carros nacionais - via de regra mais simples -, por mais tempo.
Anos 1970: os mais valorizados
Por mais que os esportivos nacionais da virada dos anos 1980 para a década de 1990 tenham se valorizado nos últimos tempos, dificilmente eles alcançarão o status de outros modelos feitos por aqui: os esportivos da década de 1970.
"A trinca Opala SS6, Maverick GT V8 e Charger R/T hoje é vendida por preços em torno de R$ 250 mil. Duvido muito que os preços de esportivos nacionais mais recentes cheguem próximos disso", diz Badolato.
Há vários motivos para isso, mas um dos principais é a raridade: encontrar unidades desses modelos em bom estado é uma tarefa complicada e, geralmente, são carros que já passaram por algum tipo de restauro ou tratamento estético. Ou seja: que já receberam uma boa dose de investimento e, até mesmo por isso, são vendidos por preços mais altos.
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