'Ferrari brasileira' já brilhou como esportivo e fez parceria com a Gucci
Em meados da década de 1970 e nos anos 1980, a importação de automóveis novos era extremamente restrita no Brasil, abrindo espaço para o nascimento de vários carros nacionais com produção limitada, carroceria de fibra de vidro e chassi e mecânica "emprestados" de outros veículos.
Essa época gerou modelos esportivos de marcas brasileiras como Puma e Miura, para mencionar algumas das mais famosas. Contudo, uma fabricante muito menos conhecida se sobressaiu por conta do visual arrojado, inspirado em carrões europeus como Ferrari 308 GTB e Lotus Esprit, e pela dirigibilidade refinada - apesar de trazer motores modestos se comparados aos da fabricante de Maranello.
Estamos falando da Farus, fabricante mineira fundada no fim dos anos 1970 em Belo Horizonte e que teve até série especial criada em parceria com a grife italiana Gucci, antes de fechar as portas no início da década de 1990 - vitimada pela reabertura do mercado brasileiro aos veículos importados, que "matou" a maioria das fabricantes "fora de série" da época.
Fundada por Alfio Russo e seu filho Giuseppe, a Farus tem esse nome como referência à família Russo. Seu primeiro carro foi o ML 929, um cupê de dois lugares com dianteira em forma de cunha e construção refinada.
Além da aparência, o ML 929 traz características técnicas que remetem a carros contemporâneos da Ferrari, guardadas as proporções: motor instalado entre os eixos e atrás dos bancos; tração traseira; freios hidráulicos a disco nas quatro rodas; suspensão independente nos dois eixos; porta-malas na dianteira e na traseira; e faróis dianteiros escamoteáveis.
Instalado na transversal, o motor do Farus pioneiro não é dos mais fortes: 1.3 com pouco mais de 70 cv, gerenciado pela transmissão manual de quatro marchas. O trem de força é proveniente do Fiat 147 Rallye.
Um exemplar 1982 vermelho do ML 929 e outros três modelos da Farus (nenhum da série Gucci) integram a coleção particular Garage Brazil, que reúne cerca de 150 carros nacionais com carroceria de fibra de vidro em Araçariguama (SP).
UOL Carros conversou com um dos responsáveis pela coleção, que pediu anonimato. As fotos que ilustram esta reportagem são do respectivo acervo.
"É claro que não se compara Farus com Ferrari. Porém, há quarenta anos, com as importações fechadas, os veículos da marca chamavam a atenção nas ruas tanto quanto os carros da Ferrari chamam hoje, pois eram raros e diferentes. Especialmente o ML 929 é um carro bem acertado, justinho, com alavanca do câmbio em posição muito agradável. A tocada é boa, apesar do motor pequeno", diz o colecionador, empresário de 39 anos.
Outro diferencial, destaca, é que nenhum dos Farus utiliza mecânica Volkswagen refrigerada a ar, como a maioria dos fora de série daquele tempo.
O empresário também possui um Farus TS 1984 branco com teto solar, que traz motor central 1.6, com montagem longitudinal, e transmissão emprestados do VW Passat TS.
A potência já sobe para cerca de 95 cv e o visual traz pequenas mudanças na comparação com o ML - como as lanternas traseiras do Volks Voyage, que no antecessor são do Ford Corcel II.
Foi o TS que ganhou em 1982 a edição Gucci, que exibe logotipos alusivos à marca de vestuário, para-choques na cor do veículo e equipamentos como ar-quente.
A Garage Brazil tem, ainda, um Beta Cabriolet 1986, conversível, na cor prata e com mecânica 2.0 do Chevrolet Monza.
O quarto Farus, de acordo com o proprietário, é o último a sair da linha de montagem: trata-se de um Quadro 1990 cor de vinho, já com chassi tubular, motor VW AP 2.0 instalado na frente, câmbio manual de cinco marchas e quatro lugares. Já não tem o mesmo charme dos seus antecessores.
Naquele mesmo ano a fabricante foi vendida. Em 1991, encerrou suas atividades, com cerca de 1,2 mil veículos produzidos e muita história para contar.
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