Fim de uma era: por que os hatches compactos estão fadados a desaparecer
A apresentação da nova geração do Citroën C3 na semana passada evidencia uma tendência que especialistas já preveem há algum tempo: os hatches compactos estão com os dias contados como os conhecemos. Pouco a pouco, eles devem se aproximar cada vez mais dos SUVs e formar uma nova categoria: a de utilitários esportivos subcompactos.
No caso do Citroën, a carroceria do hatch original ficou mais alta e encorpada, justamente para conferir ao modelo uma aparência de SUV - embora oficialmente a fabricante ainda se refira à nova geração como um hatch.
Desde o início da pandemia, em março de 2020, o preço dos carros subiu assustadoramente. Segundo informações da KBB, empresa especializada na precificação de veículos, algumas versões chegaram a ficar 50% mais caras nos últimos 18 meses. É exatamente por isso, segundo Cassio Pagliarini, sócio da consultoria Bright Consulting, que o hatch pequeno tem cada vez menos valido a pena, na opinião dos consumidores.
"Mesmo antes da pandemia, os carros já estavam ficando caros por causa da adição de novos itens, regulamentações e exigências. Entraram os air bags, freios ABS e agora os controles de tração e estabilidade. Os hatches chegam a custar mais de R$ 80 mil, enquanto os SUVs - que caíram nas graças do consumidor - partem de R$ 100 mil. Eles entendem que é melhor pagar um pouco mais pelo carro que eles desejam", afirma o especialista.
Esse comportamento já pode ser constatado por meio dos dados da Fenabrave, a federação dos distribuidores de veículos.
Segundo a entidade, em março de 2020, 32,94% dos carros emplacados eram hatches pequenos, 28,65% eram SUVs e 12,24% eram modelos de entrada (subcompactos como Fiat Mobi e Renault Kwid). Já em agosto de 2021, a participação de SUVs no mercado passou para impressionantes 49,22%, enquanto a de hatches minguou para 17,31%.
Os modelos de entrada ganharam um pouco dessa fatia: subiram para 14,43%. Evidentemente, é preciso colocar na conta a parada na produção de carros de volume, como Chevrolet Onix, por falta de componentes - o que tem feito muitas montadoras priorizar a produção, com as peças disponíveis, de modelos com maior valor agregado - e maior margem de lucro.
'Carro popular não paga as contas'
Não é apenas o Citroën C3 que se transforma para ingressar na categoria de SUVs pequenos: o esperado Fiat Pulse também vai ocupar esse lugar.
Além disso, a Volkswagen e a Nissan já trabalham em SUVs menores do que os que vendem atualmente. Um exemplo é o Nissan Magnite, lançado na Índia.
O consultor automotivo Flávio Padovan, sócio da MRD Consulting e ex-executivo da Ford e Jaguar Land Rover, explica o que o consumidor quer: carro alto por causa da visibilidade e sensação de segurança. "Essa nova categoria vai trazer exatamente o que o mercado está buscando: SUVs com preços mais baixos. O consumidor quer ter acesso a esse novo estilo de carro sem pagar muito mais por isso. Eles querem uma suspensão mais alta e uma frente mais robusta. O que a indústria pode fazer é atendê-los", argumenta.
Padovan também destaca a questão da rentabilidade para as montadoras: para ele, carro pequeno e muito simples já não paga as contas.
"Os chamados carros populares, os modelos de entrada, não oferecem margem de lucro ou têm lucratividade mínima. Não pagam as contas, mesmo com alto volume para os padrões brasileiros", opina.
De acordo com ele, a função dos automóveis de entrada é obter escala para ocupar a capacidade ociosa das fábricas, que hoje está em 50% em média. Segundo o consultor, isso ajuda a evitar ou reduzir gastos necessários para manter linhas de produção sub-utilizadas.
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