Nada de fake news: esclareça 5 lendas urbanas envolvendo o seu carro
Quando o assunto é manutenção do carro, não faltam "entendedores" para dar opinião.
A verdade é que nem sempre frases feitas e recomendações amplamente divulgadas condizem com a realidade.
Por isso, separamos cinco lendas urbanas sobre automóveis que só prejudicam o seu veículo e, muitas vezes, o seu bolso.
1- É necessário esquentar o motor do carro antes de sair
De acordo com o engenheiro Clayton Zabeu, membro do Comitê Técnico de Motores Ciclo Otto da SAE Brasil, a prática, que era válida para modelos anteriores à injeção eletrônica, não proporciona benefícios quando se trata de veículos modernos.
"Se for um veículo fabricado 20, 30 anos atrás, a prática de esquentar o motor é muito mais necessária e aplicável do que em modelos atuais. Hoje, componentes como cilindros, bielas e pistões trazem folgas muito mais justas e são muito mais duráveis do que há três décadas", destaca.
Segundo Zabeu, os motores e os respectivos lubrificantes hoje são projetados para lidar sem problemas com a fase fria, na qual as peças metálicas ainda não se expandiram e o lubrificante ainda não aqueceu adequadamente. "Prova disso é que hoje todos os motores que equipam automóveis novos são testados, no fim da linha de montagem na fábrica, ainda frios e com rotação máxima", exemplifica.
2 - Limpeza de bico injetor deve ser feita regularmente
É comum, a cada revisão periódica do veículo, o cliente receber a oferta de limpeza dos bicos injetores. O argumento é que a remoção de sujeira acumulada pela queima do combustível evita obstruções no bico - capazes de causar funcionamento irregular do motor.
No entanto, esse serviço "adicional" na maioria das vezes é desnecessário, de acordo com engenheiro Erwin Franieck, mentor em engenharia avançada da SAE Brasil.
O especialista explica que essa cultura da limpeza vem do tempo do carburador, quando era preciso remover o depósito de resíduos que se formava.
"Com a melhora na qualidade do combustível, o surgimento da injeção eletrônica e a evolução dessa tecnologia, a limpeza em intervalos regulares já não é obrigatória, a não ser que o motor apresente falha de funcionamento comprovadamente causada por bico entupido", afirma.
3 - Comprar carro menos rodado é o ideal
Quando um carro mais antigo rodou muito pouco, ele provavelmente permaneceu parado por longo período. Isso é algo até desejável para quem busca um veículo de coleção e está disposto a pagar bastante por um exemplar totalmente original. Contudo, colecionadores em geral sabem que, após a compra, terão de abrir ainda mais o bolso para colocar o automóvel em boas condições de rodagem.
Erwin Franieck alerta: carros foram feitos para rodar e, se permanecerem muito tempo desligados, uma série de componentes se deteriora. Dependendo do tempo de inatividade, os efeitos mais óbvios são a descarga da bateria e o esvaziamento e a deformação dos pneus. Porém, problemas ainda mais graves podem surgir.
"Água e outros fluidos parados durante muito tempo no mesmo lugar aceleram processos corrosivos e contribuem para o ressecamento de borrachas, mangueiras e dutos em geral. É comum a corrosão formada dentro do tanque soltar resíduos que vão parar na bomba de combustível, danificando-a", ensina o engenheiro da SAE Brasil.
Também é problemático rodar pouquíssimos quilômetros com um carro diariamente, pois ele nunca chega à temperatura adequada para o motor.
4 - Óleo do câmbio automático dura a vida toda
Muitos acreditam que o câmbio automático não requer manutenção regular e essa crença pode gerar prejuízos pesados se a transmissão quebrar. Especialmente na configuração dotada de conversor de torque e engrenagens, o câmbio, da mesma forma que outros componentes mecânicos, requer lubrificação.
As especificações e os prazos para troca do fluido são indicados no manual do veículo e devem ser respeitados. A troca do óleo, inclusive, pode ser antecipada dependendo das condições de uso do automóvel.
Vale destacar que, de fato, alguns modelos não trazem a recomendação de troca de óleo, que supostamente dura por toda a vida útil do veículo. No entanto, isso não significa que a transmissão automática esteja livre de problemas de lubrificação.
"Pode acontecer algum vazamento, o que reduz o nível do lubrificante, elevando o atrito entre partes internas e elevando a temperatura, que é uma grande vilã quando se trata de carros automáticos", alerta o engenheiro Edson Orikassa, diretor da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva).
O especialista destaca que, além da redução no nível, o óleo pode receber algum tipo de contaminação por agentes externos, o que reduz a sua eficiência.
"Vale verificar o óleo durante as revisões. Se apresentar uma aparência escurecida, isso pode sinalizar que já não apresenta as características necessárias de lubrificação", informa Orikassa.
Problemas com o óleo apresentam sintomas comuns, como trancos na troca de marchas. A transmissão também pode "patinar", ou seja, ao acelerar o carro demora alguns instantes para tracionar as rodas.
5- Carros antigos são mais bem construídos
Você já deve ter ouvido a frase "carro bom não quebra" ou "os carros de hoje em dia são mais frágeis". É verdade que os carros atuais se deformam bem mais em acidentes e batidas do dia a dia, mas isso não significa que os antigos são mais bem construídos - pelo contrário.
Os carros de hoje são fabricados com chapas bem mais finas e muito mais plástico, mas não é uma questão de economia na produção.
Na verdade, os veículos atualmente são feitos com materiais mais finos, com deformação programada, para absorverem mais o impacto e, com isso, preservar o máximo possível a integridade dos ocupantes. É muito mais fácil que os passageiros saiam intactos, ou com ferimentos leves, de um modelo atual do que de um antigo, produzido com materiais que "não quebram".
Isso sem considerar os equipamentos de segurança inexistentes nos veículos de décadas atrás, como airbags, freios ABS e controles de tração e estabilidade.
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