Xô, carroça: como Japão 'obriga' os motoristas a comprarem novos carros
O Brasil atualmente não conta com um programa de renovação da respectiva frota de veículos, tampouco promove inspeção obrigatória como condição para manter circulando unidades mais antigas e defasadas tecnologicamente.
Ao mesmo tempo, aqui os carros "velhos" deixam de recolher IPVA - em São Paulo, por exemplo, unidades com 20 anos ou mais de fabricação têm direito ao benefício fiscal.
Essa realidade vai na contramão do que fazem nações mais ricas, nas quais há subsídio para o cidadão trocar seu automóvel por outro zero-quilômetro. A justificativa é óbvia: veículos mais novos poluem menos e trazem mais segurança em caso de acidentes.
Há países nos quais o proprietário de carro antigo é, inclusive, onerado com maior carga tributária e exigências adicionais - como acontece no Japão.
Para saber mais como funciona a política local, UOL Carros conversou com Jun Yamaki, de 41 anos, proprietário da loja de veículos Intercap Automobiles, localizada em Shizuoka e que comercializa novos, seminovos e usados. Aproximadamente 30% da sua clientela, conta, é de brasileiros residentes no país asiático. Filho de japoneses, Yamaki nasceu em São Paulo, capital.
De acordo com o empresário, o custo para se manter um automóvel mais velho no Japão "é bem maior". Ele destaca que o gasto aumenta ainda mais se o carro em questão não for da categoria kei car, termo que designa os modelos compactos, com motor de até 660 cm³ - diferenciados pelas placas amarelas e que, salvo exceções, não exigem comprovação de vaga de estacionamento, como veículos de maior porte.
"O imposto anual, correspondente ao IPVA e ao licenciamento brasileiros, aumenta 24% para carros com mais de 13 anos de fabricação. A partir de 18 anos, o tributo sobe 33% para kei cars e 53% para veículos comuns", conta Jun Yamaki.
Ele acrescenta que todos os veículos registrados no país passam por inspeção compulsória a cada dois anos, chamada de shaken, para verificar se as emissões de poluentes e os itens de segurança estão dentro dos parâmetros exigidos. Carros zero-quilômetro são submetidos à primeira verificação três anos após a compra.
A cada inspeção, o proprietário precisa renovar o seguro obrigatório, que cobre danos pessoais, e pagar o imposto sobre o peso do carro - esse tributo, destaca, sobe 20% a partir do 13º ano de produção para kei cars e aumenta 39% para os demais.
"Esse imposto é bem mais baixo para veículos híbridos e com menor emissão de gases, os chamados eco cars. Tambem existem o desconto de desempenho ambiental e ecológico, cujo cálculo depende do tamanho e do tipo do motor, além do ano de fabricação e do nível de emissão de gases", acrescenta.
Yamaki explica que os benefícios citados acima são incentivos para a troca por veículos mais ecológicos, por meio de descontos tanto no imposto anual quanto nas taxas do shaken.
Independentemente da idade do carro, há outro ônus em um país com muita população e pouco espaço: as vias expressas são todas pedagiadas, inclusive em trechos urbanos, e as taxas costumam ser elevadas.
Segundo o Ministério dos Transportes japonês, o país tem hoje uma frota de pouco mais do que 80 milhões de veículos, cuja idade média é de 8,7 anos - a média de uso é de 13,5 anos - após esse período, a maioria das unidades é sucateada e reciclada.
A título de comparação, o Brasil hoje tem uma frota de aproximadamente 46 milhões de exemplares, excluindo motos, e a idade média é de dez anos - de acordo com o Sindipeças.
No Japão, carro é trocado antes dos 100 mil km
Mesmo com o custo maior, o empresário aponta que ainda existem pessoas que colecionam modelos mais antigos.
Contudo, a maioria não fica muito tempo com o mesmo veículo.
"O shaken fica mais caro pois exige a troca de peças, os impostos aumentam e começa a haver dificuldade para encontrar componentes de reposição. Aqui, as montadoras têm obrigação de manter estoque por dez anos. Quem fica com o mesmo carro por muitos anos são aqueles que gostam de carros mais diferenciados".
Segundo ele, independentemente das taxações, existe uma cultura local que vê com naturalidade a troca de um bem de consumo que, em tese, já está chegando ao fim da sua vida útil.
Do alto da sua experiência como comerciante de veículos, Yamaki diz que os japoneses troca de carro pelos seguintes motivos: quitação do financiamento, que dura três, cinco ou sete anos; batida, "ralada" ou desbotamento da pintura do carro; aumento na família; busca por veículo menor e/ou com assistência à frenagem por motoristas idosos; repasse do automóvel a alguém da família; inspeção obrigatória ficará mais cara; e quilometragem se aproximando dos 100 mil km, que desvaloriza muito o carro.
Jun Yamaki e sua mulher utilizam no dia a dia dois veículos novos com pegada mais utilitária: a microvan Honda N-Van e a minivan Toyota Noah.
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