Como caminhão zero virou poupança contra inflação e ficou 30 anos guardado
Nas décadas de 1980 e 1990, o Brasil sofria com os efeitos da hiperinflação. A desvalorização do dinheiro era tanta e tão rápida que as pessoas recorriam a estratégias hoje consideradas estranhas para manter ao menos parte do poder aquisitivo - e isso incluía comprar carros zero-quilômetro e mantê-los guardados por muito tempo, praticamente sem uso, para posterior revenda.
Muitos anos já se passaram desde então, mas volta e meia esses veículos já antigos, mas com hodômetro quase zerado, aparecem à venda. Foi o que aconteceu com um caminhão da Mercedes-Benz adquirido novo em 1990 e que, desde então, permanecia guardado e cheio de poeira em um depósito na cidade de Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo.
Com apenas 40 km rodados, o Mercedes 1618 com caixa reduzida na cor azul foi parar nas mãos do comerciante de carros antigos Reginaldo Gonçalves, o Reginaldo de Campinas - especializado em comprar e revender automóveis e utilitários originais e com baixa quilometragem.
Reginaldo conta a UOL Carros que descobriu a existência desse caminhão zerado por meio de um amigo, que é próximo do proprietário original.
O primeiro dono ofereceu o Mercedes a esse amigo, que não tinha interesse e me avisou que o 1618 estava à venda. Há menos de um mês, fui ver o veículo, ainda coberto por uma lona e todo empoeirado. A quilometragem anunciada bateu e logo fechamos negócio", conta, sem revelar o valor que pagou pelo utilitário da marca alemã.
Reginaldo diz ter ouvido do antigo dono que o Mercedes-Benz foi comprado juntamente com outro caminhão, idêntico, exceto pela pintura branca. Esse veículo até hoje pega no batente, enquanto o "irmão" azul foi preservado como uma espécie de poupança.
Já devidamente higienizado, o 1618 preserva os plásticos nos bancos de tecido xadrez, como se tivesse acabado de sair da concessionária. Volante e painel não têm marcas de uso e também dão a impressão de se tratar de um exemplar novinho - não fosse o fato de ter sido produzido há 31 anos.
De acordo com Reginaldo de Campinas, apesar de ter ficado tanto tempo parado no mesmo lugar, o caminhão azul foi bem cuidado e está em condições operacionais. Isso inclui a caixa de transmissão reduzida, acionada eletronicamente por meio de um botão na alavanca do câmbio manual de cinco marchas.
"É bater o arranque e sair rodando. O dono trocou a bateria há pouco tempo ligava o motor regularmente. A parte mecânica está em ordem".
Como bom vendedor, ele faz mistério sobre o valor pretendido pelo caminhão, que pretende anunciar em breve. O comerciante afirma que irá cobrar preço semelhante ao de um caminhão novo equivalente, fabricado nos dias de hoje.
Segundo Reginaldo, existe público para esse tipo de produto e ele é de colecionadores.
"Não vale a pena pagar muito por um caminhão antigo zero-quilômetro para sair rodando com ele. Fosse assim, o veículo perderia o que tem de especial para virar apenas um exemplar de segunda mão pouco rodado".
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