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Por que a Argentina está "proibindo" a importação de carros do Brasil

Argentina é o principal cliente dos produtos nacionais - Divulgação
Argentina é o principal cliente dos produtos nacionais Imagem: Divulgação

José Antonio Leme

Do UOL, em São Paulo (SP)

19/10/2021 04h00

Na última semana, a Renault anunciou a interrupção da exportação do Kwid para o mercado argentino. O movimento segue a mesma estratégia da Fiat, que também teve que interromper as vendas de Mobi e Argo para o vizinho do Mercosul.

Isso tudo porque, em meio à crise econômica e ainda sanitária, a Argentina tenta evitar a fuga de dólares do país por meio de importação de produtos, o que afeta a chegada de diversos modelos por lá.

De acordo com uma fonte de mercado, a resposta mais simples, com ironia, seria aumentar a produção de modelos e unidades no país vizinho. O que não é algo simples e feito de uma hora para outra. Portanto, o caminho pede negociação entre as partes, o que envolve, além do governo, associações como a Anfavea, que representa as marcas que produzem no Brasil.

"O Brasil exporta muito mais do que importa", diz Cassio Pagliarini, da Bright Consulting. Ele também reforça que a paridade cambial estabelecida entre os países existe para conseguir controlar as respectivas balanças, mas que sofrem devido ao tamanho das operações fabris nos dois países, que são muito distintas.

Pagliarini lembra que "cada caso é um caso" e que há empresas que precisam encontrar um equilíbrio, enquanto para outras é fácil ter um certo balanço devido às atividades".

Hoje, a marca que mais importa ao Brasil do que exporta para a Argentina é a Ford. Isso porque ela acabou com as fábricas por aqui, mas manteve a de Pacheco, no país vizinho, de onde envia a picape Ranger para cá.

A paridade cambial que foi estabelecida no último acordo permite que um país exceda em até três vezes o total da sua importação. Isso permitiria, por exemplo, no caso do Brasil, exportar US$ 1 milhão, e que a Argentina importe US$ 3 milhões.

Mas isso não acontece, já que o Brasil exporta muito mais em volume e, consequentemente em valores, para a Argentina do que eles mandam para cá.

Em um levantamento pré-pandemia, 50% das exportações do Brasil eram destinadas à Argentina e 80% dos exportados do país vizinho vinham ao Brasil.

Uma das empresas que interromperam a exportação, a Renault foi acusada no meio do ano pelo governo argentino de não cumprir com o acordo. Hoje, não traz nenhum veículo da Argentina para o Brasil, mas manda todos os modelos daqui para lá.

O Head de Brand Fiat, Herlander Zola, disse que no caso da Stellantis "foi definida uma estratégia e que ela pode mudar a qualquer momento".

Ele citou que é preciso buscar equalizar as operações e que, por exemplo, a chegada do Fiat Pulse pode levar a uma nova estratégia.

Questionado se a escolha de parar com a importação de Mobi e Argo na Argentina foi feita para priorizar o fluxo de modelos de maior valor agregado, como os carros da Jeep e os Fiat Toro e Strada, Zola disse que "a escolha da estratégia não está atrelada unicamente à rentabilidade dos produtos, mas em melhorar a entrega para os clientes".

Zola também falou que essa equalização pode mudar a qualquer momento, também conforme a demanda dos clientes. Apesar disso, confirmou que o assunto tem sido discutido com o governo argentino, mas que não há uma decisão ou solução definida ainda.

Já a Renault Argentina divulgou uma nota: "Devido aos problemas de disponibilidade gerados pelas restrições às importações e com o objetivo de incentivar os veículos de fabricação nacional, nos vimos obrigados a tomar a decisão de deixar de comercializar momentaneamente o Kwid em nosso país. Sabemos que o Kwid é um veículo muito aceito pelo público argentino e esperamos em algum momento poder voltar a trazer ao nosso mercado, quando as condições do contexto permitam".

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