Por que Fiat vai matar o Uno em 2021 e manter o Mobi, menor e mais barato
Em fevereiro passado, Herlander Zola, diretor de operações comerciais da Fiat, admitiu a possibilidade de a marca tirar o Uno de linha. Três meses depois, o colunista de UOL Carros Fernando Calmon cravou: o compacto deixará de ser fabricado em 31 de dezembro, juntamente com os também veteranos Grand Siena e Doblò.
Maior e mais caro do que o Mobi, com o qual compartilha mecânica e componentes estruturais, o Uno vai morrer em breve, mas seu "irmão mais novo" permanecerá no mercado. Conversamos com especialistas para saber os motivos de a Fiat tomar essa decisão - e encerrar a trajetória do seu carro mais vendido, lançado em 1984 e que ganhou segunda geração em 2010.
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Uma das razões foi apontada pelo próprio Calmon: para a fabricante do Uno, não vale a pena investir tempo e dinheiro para adaptá-lo aos limites mais rígidos de emissões que passarão a valer partir de 1º de janeiro de 2022, com a entrada em vigor do Proconve PL7 no País.
As baixas vendas do hatch não justificariam o gasto: de janeiro a setembro de 2021, foram emplacadas apenas 18.960 unidades, contra 59.221 do Mobi, que chegou às concessionárias em abril de 2016.
Quase a totalidade das vendas do Uno (97,4%) é de vendas diretas, para empresas, ante 48,7% do Mobi. Ou seja: há um bom tempo está ausente do showroom das concessionárias Fiat.
Para Flavio Padovan, sócio da consultoria MRD Consulting, a morte do Uno a essa altura não é nada surpreendente.
"O Mobi foi desenvolvido para substituir o Uno, que já cumpriu sua missão. É um dos carros mais baratos do Brasil, juntamente com o Renault Kwid, e traz mais modernidade construtiva. É um projeto consideravelmente mais novo, portanto, é natural que o substitua", analisa o consultor, ex-executivo de marcas como Ford, Volkswagen e Jaguar Land Rover.
O também consultor Cassio Pagliarini, sócio da Bright Consulting, faz coro ao colega e pondera que já não faz sentido a Fiat manter em produção três hatches compactos, em tempos de demanda cada vez maior por SUVs.
"O novo Fiat Pulse, um utilitário esportivo, consegue se equiparar, nas versões mais baratas, aos preços das configurações topo de linha dos compactos. O Mobi disputa fortemente o segmento de entrada e o Argo tem encontrado boa aceitação, tanto para empresas quanto para clientes pessoa física", afirma Paglinarini.
Ele acrescenta que o Uno já não vende como antigamente e por isso será sacado; os clientes em busca de um hatch mais espaçoso têm o Argo, que parte de R$ 69,5 mil - contra os R$ 67 mil cobrados pela única versão do Uno, tecnologicamente menos avançado. Já o Pulse começa em R$ 82,5 mil - os preços informados são referentes ao Estado de São Paulo.
Montadoras ainda precisam de compactos
Não é segredo que as fabricantes de veículos estão concentrando seus investimentos para oferecer SUVs pequenos, a exemplo do Pulse, que naturalmente vão tomar o lugar das configurações mais equipadas dos hatches.
Padovan destaca que hoje os compactos, como Mobi e Uno, não proporcionam margem às montadoras ou oferecem lucratividade mínima, mesmo com alto volume de emplacamentos.
Contudo, esclarece o consultor, é justamente a escala que garante a sobrevida dos hatches pequenos em um mercado como o brasileiro.
"O Brasil ainda precisa de carros mais simples e baratos. Ainda que sua produção e venda tragam margem nenhuma ou negativa, seu alto volume é fundamental para pagar custos fixos e garantir a operação saudável das fábricas", diz.
Ele complementa, destacando que a função dos automóveis de entrada é ocupar a capacidade ociosa das linhas de produção.
"Manter uma fábrica ativa sem produção exige gastos consideráveis. O lucro acaba vindo dos modelos mais caros, como os SUVS".
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