Carros inflacionados: até quando disparada nos preços deverá continuar
A disparada nos preços dos automóveis, que faz compactos zero-quilômetro como o Volkswagen Gol chegarem a custar mais de R$ 90 mil, está longe de terminar. Segundo especialistas consultados por UOL Carros, os veículos ainda continuarão encarecendo no ritmo atual por mais um ano, no mínimo.
Segundo eles, nada indica que os valores atualmente cobrados serão reduzidos, já descontada a inflação, quando uma das principais causas do sobrepreço acabar: a escassez de semicondutores, que tem paralisado a produção de carros nas fábricas e reduzido os estoques de exemplares novos nas concessionárias - não apenas no Brasil, como nos demais mercados.
- O UOL Carros agora está no TikTok! Acompanhe vídeos divertidos, lançamentos e curiosidades sobre o universo automotivo.
"Os preços continuarão mais altos, pois a demanda ainda é maior do que a oferta. A expectativa é de que leve mais um ano para que a disponibilidade de microchips seja regularizada", avalia Flavio Padovan, sócio da consultoria MRD Consulting e ex-executivo de montadoras como Ford, Volkswagen e Jaguar Land Rover.
O também consultor Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, destaca que, desde o início da pandemia, em março do ano passado, os valores cobrados por automóveis novos subiram quase 20% acima da inflação - enquanto o mercado encolheu consideravelmente no mesmo período. O mês passado foi o pior outubro desde 2016 em vendas de veículos, segundo a Fenabrave, a federação que representa as concessionárias.
"É verdade que existe demanda maior do que a disponibilidade de carros novos atualmente, mas isso é consequência da queda brutal na produção e nas vendas. Em 2019, o estoque no pátio das fábricas e nas concessionárias ficava entre 200 mil e 250 mil unidades e hoje não passa de 85 mil exemplares", alerta o especialista.
Pagliarini acrescenta que, não fosse a questão dos semicondutores, a busca por carros zero seria muito menor do que a capacidade de produção da indústria automotiva no Brasil, cuja ociosidade hoje é de aproximadamente 50%.
Devido ao baixo estoque, pontua, hoje o cliente vai até a concessionária em busca de um carro.
"Quando a loja tem o veículo solicitado, vende sem desconto, pelo preço de tabela ou até acima dele. Quando a produção for normalizada, as montadoras voltarão a conceder incentivos para a aquisição, como abatimento no preço 'cheio' e crédito facilitado. Contudo, os valores de tabela não voltarão aos patamares anteriores à crise dos microchips e à própria pandemia".
O sócio da Bright Consulting esclarece que a demora para estabilizar a oferta de semicondutores se dá por fatores como a complexidade de fabricação desses componentes.
"Hoje são investidos bilhões de dólares para ampliar o volume fabricado de semicondutores e atender a indústria automotiva. Só que montar uma fábrica de chips não é simples, há escassez de profissionais especializados e necessidade de maquinário bastante específico. Pode demorar até três anos".
Ele explica que a falta dos microprocessadores para produzir veículos é consequência da queda "colossal" nas vendas logo no início da pandemia, que levou as montadoras a cancelar pedidos aos fornecedores - que, por sua vez, passaram a direcionar a maior parte da produção a fabricantes de eletroeletrônicos, como celulares e computadores, cuja demanda estava e continua aquecida.
E os carros usados?
Não é segredo que os preços dos carros usados também estão nas alturas, a reboque dos valores cobrados por unidades zero-quilômetro.
A longa espera por veículos novos tem levado consumidores a buscar seminovos disponíveis a pronta entrega - o que tem feito com que carros já rodados estejam mais caros do que exemplares zerados, dependendo do ano e do modelo.
"Os preços dos usados e seminovos continuarão altos enquanto persistir esse cenário de restrição à oferta de produto novo", crava Flavio Padovan.
Em outubro, as vendas de veículos de segunda mão tiveram queda de 8,5% em relação a setembro. Porém, no acumulado do ano, houve aumento de 28,9% em relação aos primeiros dez meses de 2020.
Para Pagliarini, a redução nas transações no último mês é reflexo dos preços excessivamente elevados e um indicativo de que vão parar de subir.
"É verdade que, devido aos feriados, outubro teve menos dias úteis em relação ao mês anterior. Entretanto, mais importante do que isso, os preços dos usados aumentaram tanto que houve um arrefecimento do mercado. Acredito que a valorização do carro usado já bateu no teto".
Matías Fernández Barrio, CEO da Karvi, plataforma online de compra e venda de carros no Brasil e na Argentina, diz não acreditar que os usados e os seminovos voltem aos patamares anteriores à pandemia, mas concorda que os preços não devem se manter tão elevados.
"O consumidor hoje tem uma ótima moeda de troca em mãos, é o momento certo de trocar, aproveitando a alta valorização do usado".
Quer ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito? Participe do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros. Você também pode acompanhar a nossa cobertura no Instagram de UOL Carros.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.