Fake ou verdade? Anúncios prometem carro movido a água contra gasolina cara
Com o preço da gasolina e dos demais combustíveis nas alturas, não faltam anúncios de acessórios que prometem reduzir o consumo de veículos. A lista inclui a conversão de automóveis convencionais em carros "movidos a água", por meio de um produto conhecido como kit de hidrogênio.
A alegada tecnologia é oferecida nas redes sociais e sites de comércio eletrônico com preço inicial inferior a R$ 200, podendo passar de R$ 1.000, dependendo da marca e da configuração. Uma coisa é sempre igual: o equipamento supostamente utiliza a eletricidade do alternador para extrair hidrogênio da água, que é armazenada em um tanquinho.
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Inflamável, o hidrogênio então é direcionado para o sistema de admissão de ar do motor, para gerar combustão interna em conjunto com gasolina, etanol ou diesel. Alguns sites prometem redução superior a 80% no consumo graças a esse kit. Mas será mesmo que funciona ou é uma roubada?
Para esclarecer a questão, UOL Carros conversou com Everton Lopes, mentor em energia a combustão da SAE Brasil. Segundo o engenheiro, adquirir os tais kits de hidrogênio equivale a jogar dinheiro fora, pois a quantidade de gás gerada é insuficiente para causar mudança significativa no consumo do motor.
"A conta não fecha. A eletricidade necessária para extrair o hidrogênio da água com esses kits é maior do que a energia que o gás resultante é capaz de gerar no motor", destaca Lopes.
Ele acrescenta que as diferentes variantes do acessório não são homologadas pelas montadoras e sua instalação traz risco de danos ao propulsor e outros periféricos, como a própria bateria do veículo - sem contar a provável perda da garantia de fábrica.
"Por conta das leis cada vez mais exigentes quanto às emissões de poluentes, as montadoras investem bilhões de dólares para tornar os veículos mais eficientes em apenas alguns pontos percentuais. É para você desconfiar de uma tecnologia relativamente simples e acessível que traz a promessa de redução superior a 80% no consumo".
Lopes pontua que, "se a conta fechasse", carros abastecidos com água para gerar hidrogênio e movimentar as respectivas rodas já seriam uma realidade nas concessionárias. Contudo, o alto custo para se produzir quantidade suficiente de hidrogênio a partir desse líquido, em um processo conhecido como hidrólise, ainda é um importante obstáculo.
"Sem dúvida, o hidrogênio e suas diferentes aplicações terão um papel importante na mobilidade. Países como a Alemanha têm direcionado muito dinheiro para desenvolver e aprimorar a tecnologia de uso do gás como forma de reduzir e, futuramente, cortar a dependência dos combustíveis fósseis. Já existem há um bom tempo centenas de estudos e patentes nesse sentido, mas ainda há muito o que ser desenvolvido e aprimorado".
Hidrogênio é o combustível do futuro?
A Alemanha fez uma aposta no hidrogênio como peça estratégica rumo a um futuro de mobilidade limpa.
O gás tem alta densidade energética e, de fato, pode ser usado como combustível em motores convencionais - abastecidos diretamente com hidrogênio, produzido externamente ao veículo, inclusive de outras fontes que não sejam água, como gás natural, por exemplo.
Tudo isso com uma grande vantagem: o subproduto da queima do hidrogênio é água.
Além disso, existem outras formas de utilizar o gás em veículos.
Uma delas é combinar hidrogênio e dióxido de carbono para fabricar combustível sintético, sem a necessidade de petróleo.
Empresas como Audi, Bosch e Porsche têm investido nessa tecnologia. De acordo com Everton Lopes, os combustíveis sintéticos têm a vantagem, como o etanol, de "neutralizarem" o carbono resultante de sua queima, além de aproveitarem a infraestrutura de abastecimento.
Também conhecido como e-fuel, pode ser extraído na forma de gasolina ou diesel e, portanto, não exige alterações nos motores atuais a combustão.
"O combustível sintético já era usado pela Alemanha na época da Segunda Guerra Mundial e desde então as pesquisas têm evoluído. Porém, sua extração ainda é muito cara na comparação com o petróleo, que ainda é muito mais fácil e barato de obter e refinar", explica o especialista.
"Para compensar a grande quantidade de eletricidade necessária para separar o hidrogênio presente na água, essa energia deve preferencialmente ser de origem limpa, como solar, eólica ou de hidrelétricas", pontua.
Além de servir para sintetizar combustível líquido, o hidrogênio também é visto como alternativa às caras e pesadas baterias de veículos a propulsão elétrica. Por meio das chamadas célula de combustível, incorporadas a automóveis, o gás é utilizado para gerar a eletricidade necessária para a propulsão das rodas.
Modelos como o Toyota Mirai, comercializado no Japão e alguns outros poucos mercados, já trazem essa tecnologia e são abastecidos com hidrogênio.
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