Ford secreto vendido como sucata rende batalha judicial para poder rodar
Antes de lançar um carro, as montadoras produzem unidades experimentais para testar diversos componentes. Esses veículos "secretos" costumam ser destruídos após cumprirem sua missão, mas o destino de um protótipo vermelho do Ford Versailles foi diferente.
O exemplar foi fabricado em 1993 com visual e equipamentos que chegariam ao mercado brasileiro somente dois anos depois. Leiloado em 1995 como sucata, apesar de ser um veículo completo e totalmente funcional, o sedã se tornou o centro de um processo judicial para poder rodar em vias públicas - o que aconteceria somente mais de duas décadas após sua aquisição.
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O veículo integrava um lote de peças automotivas arrematado em São Bernardo do Campo (SP) e que pertencia à Autolatina, empresa que uniu Ford e Volkswagen de 1987 a 1996. Versão da oval azul para o VW Santana, o Versailles estava com a documentação baixada e o código do chassi, localizado no compartimento do motor, havia sido cortado.
O carro foi repassado em seguida, nessas condições, a um amigo do advogado Dirceu Teixeira, que empreendeu a longa batalha na Justiça para legalizá-lo. Hoje, está com tudo em dia, incluindo o chassi remarcado, e pertence à dona de uma oficina mecânica de São Bernardo - que recentemente instalou placas Mercosul no veículo.
Teixeira explica como a saga teve início.
"Esse amigo recebeu o carro e me procurou para resolver a situação. A saída foi ingressar com pedido de usucapião de bens móveis, após o prazo legal de cinco anos a partir da compra ser cumprido".
Texeira ajuizou a ação em abril de 2001, na qual a Autolatina se tornou ré. Como a companhia não se manifestou, segundo ele, a sentença favorável saiu em relativamente pouco tempo, em agosto do ano seguinte. Já separada da Volks, a Ford foi intimada a fornecer uma carta-laudo para atestar a origem do carro e informar dados como códigos do chassi e do motor, bem como a data do faturamento.
Tudo parecia muito bem encaminhado para realizar a revalidação do emplacamento e a reinserção do chassi, mas a jornada ainda se prolongaria por muitos anos.
"Mesmo de posse da ordem judicial, meu cliente não foi atendido na delegacia responsável por liberar a vistoria e revalidar o emplacamento. Dessa forma, ele seguiu rodando com o carro irregular até 2015, quando deu o veículo para mim".
Foi naquele ano que o advogado desarquivou o processo para finalmente conseguir legalizá-lo, o que aconteceria apenas em 2016. Hoje, o Versailles traz no documento a informação de que o chassi foi remarcado em uma parte estrutural do veículo. Na ocasião, foi necessário quitar cerca de R$ 2.000 em débitos de IPVA atrasado, que já não é mais recolhido porque o sedã tem mais de 20 anos de fabricação.
Por que Ford Versailles secreto é único
Hoje, o Versailles tem cerca de 74 mil km rodados - uma quilometragem relativamente baixa, considerando sua idade, quase totalmente acumulada na época na qual ainda estava irregular, afirma Dirceu.
A pintura vermelha exibe sinais de desgaste e a carroceria traz alguns amassados e ralados. Contudo, o carro está íntegro e com todos os itens originais.
Teixeira vendeu a raridade há cerca de dois meses a Marcia Simone Donha, proprietária da MSD Garage, oficina de restauração.
A nova dona está ciente da importância história do veículo, devidamente documentada nos autos da ação judicial, e acabou de providenciar uma revisão completa.
"Fico encantada com o mundo do antigomobilismo por dois motivos: as histórias de cada um dos carros que restauro e a originalidade. Este veículo em especial tem muita história e muita originalidade. Tive de comprá-lo", conta a empresária.
Ela acrescenta que não pretende restaurar a parte visual, mas irá recorrer aos serviços do advogado Dirceu Teixeira: por algum equívoco, a vistoria marcou quilometragem 100 mil km acima da real. O plano é de fazer com que a empresa responsável corrija o laudo.
Equipado com o mesmo motor AP 2000 injetado do Santana, o Ford é da versão topo de linha Ghia e traz o que havia de melhor dentre os itens disponíveis para ele na sua época - além de alguns detalhes que viriam apenas anos mais tarde.
UOL Carros conversou com Andrew Bergamo, entusiasta e colecionador de Santana e Versailles, para saber um pouco mais sobre a unidade "secreta" - o especialista fez a análise com base em fotos.
Segundo Bergamo, o câmbio automático que equipa o protótipo já era opcional desde a estreia do Versailles, em 1991 - a fabricação do sedã se estendeu até 1996. Já os freios ABS do carro experimental estrearam em 1992.
"O mais curioso desse carro são os itens que ele tem e ainda não tinham sido introduzidos na linha. Apesar de ser modelo 1993, a dianteira, a traseira e o painel são do Versailles 1995. As rodas de liga leve, por sua vez, são do modelo 1994, mesmo ano em que o teto solar foi introduzido".
Em relação aos bancos de couro, Andrew destaca que esse revestimento começou a ser oferecido só em 1994.
Outro detalhe que chama a atenção é justamente o painel de instrumentos: no lugar da serigrafia convencional, os caracteres são, na verdade, adesivos colados a mão, evidenciando o caráter experimental do sedã.
"Muitos dos elementos desse protótipo são um adiantamento do que seria o Versailles 1996, a última linha do sedã, lançada em 1995", finaliza Bergamo, proprietário de um exemplar 1996 muito parecido com o carro que é tema desta reportagem.
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