Donos de Jeep apontam falha que destrói câmbio e custa fortuna para arrumar
Proprietários de automóveis Jeep e Fiat equipados com motor flex e câmbio automático têm relatado o mesmo problema: após algum tempo de uso, a transmissão deixa de funcionar e precisa ser substituída ou reparada, por meio de serviço que chega a custar mais da metade do valor do próprio carro.
Clientes com os quais UOL Carros conversou dizem que a Stellantis, dona de Jeep e Fiat, nega-se a efetuar o reparo gratuito em veículos cuja garantia já expirou - ainda que, segundo eles, o defeito seja decorrente de uma falha no projeto e todas as revisões previstas tenham sido feitas em concessionária.
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Outros afirmam que, após muita insistência, a empresa concordou em bancar o conserto, total ou parcialmente - mesmo com a cobertura de fábrica já vencida. Ao mesmo tempo, a descrição da falha não muda: devido à corrosão de uma peça denominada trocador de calor, o líquido do radiador invade o câmbio, contaminando o respectivo óleo. Procurada, a empresa alega que os clientes deixaram de fazer as manutenções programadas no prazo, o que teria ocasionado o problema (ver nota abaixo).
O trocador de calor tem a função de refrigerar o lubrificante da transmissão e é conectado ao sistema de arrefecimento, utilizando a mesma mistura de fluido e água desmineralizada que mantém o motor na temperatura ideal.
Reparo é orçado em R$ 49 mil na concessionária
Morador de Maringá (PR) e proprietário de um Jeep Renegade flex adquirido zero-quilômetro em 2017, o empresário Rafael Danilo Santos Bortoluzzi afirma que o SUV deixou de funcionar repentinamente em abril passado, sem que nenhuma luz acendesse no painel de instrumentos. Na primeira pane, ele notou que o reservatório do fluido do radiador estava vazio.
No dia seguinte, após repor o fluido, o motor esquentou e parou novamente. Dessa vez, ele percebeu que havia óleo no líquido de arrefecimento.
"Sempre segui o plano de manutenção indicado no manual do proprietário. Como a garantia já tinha vencido, levei o carro em duas oficinas multimarcas e ouvi em ambas que se tratava de um problema crônico envolvendo o trocador de calor", conta Bortoluzzi.
O empresário acrescenta que, em seguida, guinchou o utilitário esportivo até a concessionária onde foi adquirido. Lá, alguns dias mais tarde, confirmaram o diagnóstico e apresentaram, segundo ele, um orçamento de R$ 49 mil para a substituição do câmbio.
"O meu carro vale cerca de R$ 62 mil, segundo a Tabela Fipe. É inacreditável como uma peça que a Jeep sabe ser problemática não tenha sido trocada nem inspecionada nas revisões que fiz na rede autorizada".
Rafael diz que nunca mais foi buscar o carro e entrou na Justiça contra a montadora, na expectativa de que seu Renegade seja reparado sem custos.
"Tenho filha autista e preciso muito do carro. Passei um bom tempo com veículo alugado até ter condição de adquirir outro carro, compacto".
Jeep mudou plano de manutenção
Bortoluzzi acrescenta que as redes sociais têm muitos relatos como o seu e o defeito não está associado a uma quilometragem específica nem ao tempo de uso. Além disso, destaca, a partir de 2018 a Jeep mudou o plano de manutenção no que se refere ao fluido de arrefecimento, recomendando produto com outra especificação e concentração, além da respectiva troca a cada dois anos - independentemente da quilometragem.
Em modelos anteriores, destaca, o manual não traz nenhuma orientação relacionada à troca do fluido.
"Os proprietários dos modelos anteriores a 2018 seguem sem qualquer recomendação e reclamando de problemas de corrosão no trocador de calor, já que não possuem, ou não foram orientados pelo serviço autorizado durante as revisões, a informação quanto à troca periódica e à nova especificação do fluido de arrefecimento".
Já o contador aposentado Jairo Marques, que reside em Salvador (BA), também afirma ter seguido rigorosamente o plano de manutenções até que seu Renegade 2016/2017 flex apresentou o mesmo problema, no dia 22 de novembro deste ano.
"Reboquei o carro até uma concessionária, mas não deixei o Jeep lá. Conversando com um técnico, fiquei assustado com a previsão de custos para o reparo do câmbio, cujos danos estavam relacionados, segundo fui informado, ao trocador de calor".
Marques diz nunca ter sido alertado nas revisões periódicas sobre necessidade de troca do fluido a cada 24 meses. Por conta do preço proibitivo, e já que seu veículo não está mais coberto pela garantia de fábrica, decidiu repará-lo em uma oficina independente, especializada em transmissões.
"Disseram que não poderiam estender a garantia, então levei em outra oficina e o prejuízo foi de R$ 15 mil", relata. Seu Renegade está com cerca de 53 mil km rodados.
Um grupo no WhatsApp com mais de 200 participantes trata especificamente do defeito envolvendo o câmbio, fornecido pela empresa Aisin, e traz outros relatos semelhantes.
O dono de um Renegade 2017/2017 que prefere não se identificar diz que a pane aconteceu com cerca de 40 mil km e a Jeep aceitou substituir a transmissão, mas foi necessário pagar cerca de R$ 5,5 mil para que o reparo fosse realizado "em cortesia".
Stellantis nega que clientes tenham feito as revisões
Procurada, a Stellantis diz que se responsabiliza pelos reparos de veículos que ainda estejam cobertos por garantia. Além disso, enfatiza que os casos citados neste texto e outros que nossa reportagem encaminhou à companhia não foram precedidos pela realização de todas revisões programadas. A Stellantis também admite que houve alterações no plano de manutenção no que se refere ao fluido de arrefecimento.
Confira a íntegra da nota enviada:
"A Stellantis esclarece que se responsabiliza por inconvenientes que ocorram dentro do período de vigência da garantia contratual. Os veículos mencionados não realizaram o plano de manutenções programadas, conforme previsto no Manual do Proprietário.
A regular utilização do automóvel demanda a realização de manutenções preventivas e/ou corretivas. Nos casos em análise não há qualquer evidência que aponte para uma falha ou um defeito de qualidade nos veículos mencionados.
A Stellantis aproveita a oportunidade para informar que alterações em fluidos, peças de desgaste natural e/ou acessórios são processos evolutivos em respeito ao cliente e que podem impactar na periodicidade, no uso e na aplicação dos componentes envolvidos após as suas implementações".
Procon-SP notifica Stellantis sobre eventual recall
Órgão de defesa do consumidor vinculado ao governo paulista, o Procon-SP informa que neste ano, até julho, recebeu seis reclamações relacionadas ao defeito no câmbio automático de veículos Jeep e Fiat.
A fundação informou hoje (6) que notificou a Stellantis a prestar esclarecimentos sobre o problema, incluindo a eventual necessidade de realizar um recall - caso haja constatação de risco à saúde ou à segurança dos ocupantes dos veículos. A notificação aconteceu após a publicação desta reportagem.
"A empresa deverá informar quantos atendimentos foram realizados nas concessionárias relacionados ao sistema de arrefecimento ou a problemas de vazamento no radiador, quais desses atendimentos foram efetuados nos modelos em garantia nos anos de 2020 e 2021 e detalhar os atendimentos por Estado, cidade, modelo, ano de fabricação e se houve a troca ou reparo do item avariado", diz nota enviada a UOL Carros com exclusividade.
O Procon-SP também questiona os critérios para a troca do líquido utilizado no sistema de arrefecimento em modelos posteriores e as medidas que irá adotar para atender os consumidores.
A Stellantis, por sua vez, informa que aguarda o recebimento formal da notificação e, "tão logo isso aconteça", prestará os "esclarecimentos necessários" ao órgão.
Guilherme Farid, chefe de gabinete do órgão de defesa do consumidor, diz que a empresa poderá ser multada em até R$ 11 milhões se for constatada negligência.
"Temos relato de um caso, relacionado ao trocador de calor, no qual o veículo teria pegado fogo. Isso já é suficiente para questionar a fabricante sobre a possibilidade de convocar os clientes para a realização dos reparos necessários, sem custo", pontua.
Ele acrescenta que o fim da garantia não exime, necessariamente, a Stellantis de responsabilidade.
"Mesmo que o vício seja verificado após o término da garantia, se não for decorrente de desgaste natural e sim consequência de algum problema de engenharia, projeto ou construção, a empresa continua responsável. Nesse caso, o prazo de garantia passa a ser contado a partir da constatação do defeito pelo consumidor".
Farid orienta os clientes a registrarem a reclamação no Procon-SP.
"Assim, poderemos agir para esclarecer as causas do defeito e, se for necessário, cobrar providências".
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