Caminhão mais arqueado do Brasil bomba nas redes e circula de forma ilegal
Desde que o aplicativo de mensagens WhatsApp chegou no Brasil, vem sendo uma importante arma dos caminhoneiros para driblar a solidão da estrada. Com a popularização de vídeos, fotos e discussões sobre o tema, alguns profissionais migraram para outras redes sociais, como Instagram e Youtube, se tornando verdadeiros influenciadores da categoria.
Edson Juhem, conhecido como Jaquirana GBN, é um dos caminhoneiros que ganhou fama, principalmente após aderir à moda dos caminhões arqueados, que possuem frente rebaixada e traseira elevada.
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Atualmente, tem mais de 60 mil seguidores no Instagram e é proprietário de uma carreta conhecida como caminhão mais arqueado do Brasil. O assoalho do veículo fica a mais de 3 metros do chão, tudo isso para abrigar um lameiro (placa que fica abaixo do para-choque e normalmente tem uma frase estampada) de 2,25 m.
O veículo é um Scania 114G 340, que vem acoplado em uma carreta de um eixo. Ele recebeu um suporte alongado para bolsas de ar e, segundo Juhem, um para-choque sem emendas, preparado exclusivamente para ele. Em um vídeo em seu canal no Youtube, o caminhoneiro apresenta a carreta com orgulho, mas afirma que ela não foi feita para trabalho, e sim para exposições.
"Essa carretinha eu não fiz para trabalhar. Ela vai ficar aqui em casa para curti-la, e se alguém quiser contratar para um evento. Ela ficará quase sempre parada (sic)", disse Jaquirana em vídeo.
Apesar da promessa, a carreta já foi flagrada nas ruas, com imagens publicadas nas redes sociais. Inclusive há uma foto em que um carro da Polícia Rodoviária Federal aparece próxima ao veículo.
Entre os comentários, fãs do estilo se divertem, dizendo que se a polícia apreender, basta pagar a multa, abaixar a traseira e depois levantar mais um palmo. Mas há também caminhoneiros que não concordam com a infração e alertam para o perigo. Jaquirana não comenta o assunto e já postou fotos com o caminhão em seu perfil no Instagram após o ocorrido.
UOL Carros tentou contato com Edson Juhem, mas não o caminhoneiro e influenciador não respondeu à reportagem.
Montadoras têm conhecimento do problema
A Scania, montadora de caminhões responsável pela produção do 114G 340, afirma que tem conhecimento dessas modificações e reforça que a atividade é ilegal.
"Além da legislação, esse tipo de inclinação feita é danosa ao veículo pois sobrecarrega e prejudica os componentes, além de não ser seguro por erguer o centro de massa do caminhão, podendo ocasionar tombamentos com facilidade", afirma a marca por meio de nota.
UOL Carros também conversou com outra montadora de caminhões que tem se atentado para o assunto, a Volvo. Segundo Jeseniel Valério, gerente da engenharia de vendas no Brasil, a marca chegou a fazer testes com caminhões arqueados para avaliar o desempenho, mas chegou à conclusão de que tais alterações jogam no lixo todo o trabalho da engenharia para construir um veículo seguro.
"Além do alto risco de morte de passageiros de outros veículos que venham a colidir na traseira de um caminhão arqueado, essas alterações comprometem totalmente a segurança do próprio caminhoneiro. E eles sabem disso, já que a maioria dos profissionais que conversamos assumiram que fazem o arqueamento por estética", explica o especialista.
Jeseniel Valério esclarece um mito espalhado pelos fãs do arqueamento, de que o caminhão fica mais firme.
"Rebaixar a dianteira e elevar a traseira pode dar uma falsa sensação de firmeza porque o caminhão fica sem molas, todo o sistema de amortecimento trabalha no limite, então ele não se mexe em buracos e curvas, por exemplo. Isso eleva muito o risco de tombamentos. Outro sistema prejudicado é o de freios, já que todo o peso da carga é transferido para a dianteira. O centro de gravidade do carro é outro", alerta.
A lei permite?
De acordo com a legislação vigente, veículos com Peso Bruto Total (PBT) superior a 3.500 kg (caminhões, caminhões-tratores, ônibus, reboques e semirreboques) podem até passar por alterações, mas devem atender alguns limites. O nivelamento da longarina não pode ultrapassar dois graus a partir de uma linha horizontal. Além disso, o proprietário do veículo precisa de um Certificado de Segurança Veicular (CSV) e informação no Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo (CRLV).
A Polícia Rodoviária Federal afirma que para garantir a segurança do trânsito, realiza diariamente ações de fiscalização para combater o trânsito de caminhões com alterações irregulares no sistema de suspensão.
"Além da conferência de regularidade da documentação referente à alteração (emissão de CSV e registro da alteração no CRLV), é feita também a medição da inclinação das longarinas, a fim de se verificar se esta não ultrapassa dois graus. Desta forma, caminhões com alterações no sistema de suspensão que estejam em desacordo com a resolução, são autuados pela infração tipificada no art. 230 VII do CTB (Conduzir o veículo com a característica alterada), infração de natureza grave e cuja medida administrativa é a de retenção do veículo", afirma a entidade por meio de nota.
A PRF informa ainda que veículos flagrados nessa situação são, além de autuados, retidos e recolhidos ao pátio, de onde somente são liberados após a regularização da infração (desfazimento das alterações e retorno do sistema de suspensão às condições originais).
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