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Fim das 'máquinas de matar'? Por que caminhão arqueado caminha para o adeus

A ordem é que a PRF fiscalize todos os caminhões de traseira alterada - Reprodução/Youtube
A ordem é que a PRF fiscalize todos os caminhões de traseira alterada Imagem: Reprodução/Youtube

Paula Gama

Colaboração para o UOL

08/02/2022 04h00

A febre dos caminhões arqueados parece estar com os dias contados. No YouTube, ambiente onde a moda ganhou força, são inúmeros os vídeos de caminhoneiros contando que tiveram seus veículos retidos nas últimas semanas devido à suspensão alterada. Eles ainda mostram pátios cheios de caminhões nas mesmas condições.

Isso porque, após a sequência de denúncias de UOL Carros, acompanhada por outros órgãos de imprensa, a Polícia Rodoviária Federal direcionou esforços específicos para a fiscalização desse grupo. Como consequência, os proprietários de cargas estão preferindo não aceitar mais esse tipo de veículo, com medo de a mercadoria ficar presa na estrada.

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"Não podemos correr risco. Está difícil. Esses caminhões muito erguidos e altos estão dando problema para nós. Os caras estão reclamando que a batata não chega", diz o áudio de um carregador de batatas que viralizou entre os caminhoneiros. Ele explica que, devido à fiscalização da PRF, os veículos irregulares estão sendo retidos e muitas cargas chegam atrasadas. Outras, por sua vez, nem chegam ao destino.

Rodolfo Rizzotto, fundador do SOS Estradas, programa voltado para segurança nas rodovias, explica que esse comportamento dos donos de carga é muito importante para a sociedade e vem crescendo desde que a fiscalização se intensificou.

"Nunca vimos isso antes. Esses fornecedores não estão entregando a carga porque não podem correr o risco de ficar com a mercadoria parada no meio da estrada. Além disso, sabem que esses veículos estão mais sujeitos a acidentes. Esse é um grande passo para um transporte socialmente responsável", opina.

Influenciadores em "baixa"

Com a forte pressão da polícia, a saída encontrada por muitos influenciadores, que outrora exibiam e se gabavam de seus caminhões de traseira levantada, é voltar às configurações originais, ou pelo menos à altura permitida por lei, que é de 3,5 cm de inclinação a cada metro de longaria.

Conhecido como Jaquirana GBN, proprietário do caminhão mais arqueado do Brasil com mais de 3 metros de altura, foi um dos primeiros a abaixar a traseira.

O caminhão mais arqueado do Brasil já teve a sua traseira rebaixada novamente - Reprodução - Reprodução
O caminhão mais arqueado do Brasil já teve a sua traseira rebaixada novamente
Imagem: Reprodução

Carlinhos 262 é um dos youtubers que resolveram acertar o caminhão devido à fiscalização. O "Sedução", apelido dado ao veículo, que possui uma inclinação 1,5 cm superior à permitida por lei. Segundo ele, se fosse retido, o prejuízo - contando com multa, regularização, perda do frete e entrega da carga para outro motorista - seria em torno de R$ 10 mil.

"Melhor fazer tudo dentro do que o Inmetro permite e andar com dignidade. Quem não vive disso faz caminhão para exposição, tem condição de ir para o pátio, abaixar e levantar de novo", afirmou em um dos vídeos em seu canal com 211 mil seguidores.

Murilo GBN relata ter sido alvo de uma fiscalização da Rotam (Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas) devido à traseira arqueada de seu caminhão.

"As polícias estão 'tudo louca'. A Rotam parando caminhão, nunca vi isso na minha vida. Os guardas estão incomodando demais mesmo, pelo jeito os caminhões altos vão acabar" (sic), relatou Murilo em seu canal. O youtuber também afirmou que trabalhará com o caminhão na configuração original "pelo menos até passar essa onda".

PRF fecha o cerco

O policial rodoviário federal Sousa Dantas, chefe da divisão de Policiamento Trânsito de Brasília, afirma que a PRF enviou orientação para que todas as unidades do país redobrem a atenção com esse tipo de veículo. Ele esclarece que, para estar dentro da lei, a elevação da traseira do caminhão não pode ultrapassar dois graus (ou 3,5 cm) de inclinação a cada um metro de longarina.

Acidente entre pai e filho com caminhões arqueados, no Paraná, colocou o risco desses veículos em evidência - Reprodução - Reprodução
Acidente entre pai e filho com caminhões arqueados, no Paraná, colocou o risco desses veículos em evidência
Imagem: Reprodução

Além disso, a alteração deve constar no Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV). Por isso, ao abordar um caminhão arqueado na estrada, o primeiro passo é conferir a documentação, mas isso não basta.

"A gente sabe que muitos fazem a alteração permitida, procuram o Detran para ajustar a documentação, e depois da vistoria elevam mais. Por isso, além de conferir o CRLV, fazemos uma medição da seguinte forma: marcamos dois pontos na longarina do caminhão com um metro de distância entre eles, para respeitar o limite de dois graus, a altura da parte mais alta deve ter, no máximo, 3,5 cm a mais", afirmou.

Há algum tempo, havia duas formas de conduzir a situação: se na medição a altura passasse de 3,5 cm por pouco, o caminhão era liberado, a multa de R$ 195,23 era aplicada, o documento era retido e o motorista tinha um prazo para regularização. Se a diferença representasse um risco para a segurança viária no entender do policial, o veículo era retido até o ajuste. Mas isso mudou.

"Agora, os colegas recolhem qualquer altura fora do previsto por lei, mesmo que passe por pouco. Quando você retira o veículo de circulação por alguns dias, o motorista infrator fica mais pensativo e não repete a conduta", avalia o policial rodoviário.

Diante dos policiais, os motoristas infratores usam todo tipo de argumento para tentar fugir da multa. "Eles alegam até mesmo que elevaram a traseira porque vão carregar muito peso, mas esbarram em outra infração, por excesso de carga. A verdade é que, influenciado pelas redes sociais, eles fazem isso porque acham bonito", lamenta Sousa Dantas.

Risco elevado

Sobre os perigos que esses veículos criam nas estradas, a PRF destaca que "o trânsito de caminhões com a traseira elevada constitui grave risco à segurança viária. A prática altera a estabilidade do veículo, aumentando o risco de tombamentos e saídas de pista. Além disso, reduz a eficiência do para-choque traseiro em caso de colisões traseiras, agravando as lesões e aumentando a probabilidade de morte de ocupantes de veículos que sigam à sua retaguarda, pelo chamado 'efeito guilhotina'."

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