Estão sobrando carros: com zero km encalhados, preços devem cair?
O primeiro mês de 2022 se consolidou como o pior janeiro em 17 anos quando o assunto é volume de vendas de carros novos. De acordo com dados da Fenabrave (Federação dos Distribuidores de Veículos), houve uma queda de 39,75% nas vendas de automóveis e comerciais leves em relação a dezembro. O resultado leva o consumidor a se questionar: já que os carros estão encalhados, será que os preços vão baixar?
Cassio Pagliarini, consultor automotivo, afirma que não vê a tabela de preço dos carros baixando oficialmente, mas se a situação continuar como está, março pode ser um mês de descontos e incentivos de vendas.
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"Precisamos de um pouco mais de tempo para ver como as vendas vão se comportar. Se continuarem em baixa em fevereiro, vejo um mês de março com incentivos de venda e descontos. No período de escassez de veículos não havia muita negociação, mas agora será diferente, as montadoras devem incorporar esses incentivos no preço para fechar negócio", analisa o consultor.
Pagliarini vê o momento com preocupação, já que, para ele, a queda nas vendas não reflete apenas problemas externos, mas também a falta de interesse do consumidor.
"Se você olhar o estoque que tínhamos no fim de dezembro e comparar com o fim de janeiro, verá que é absolutamente o mesmo. As vendas caíram muito. Sim, tivemos falta de componentes, problemas com a covid-19, férias, entre outras situações, mas a preocupação hoje é com a demanda. Até então, estava muito claro que faltavam componentes, mas agora a coisa começa a migrar para o lado da falta de demanda. Não está faltando mais veículo, com exceção de algumas marcas, modelos e versões", opina.
Entidades listam motivos
Para o presidente da Fenabrave, os resultados não refletem, necessariamente, que o brasileiro não quer ou não pode comprar carro, mas diversos motivos que convergiram no mês de janeiro.
"O resultado é conjuntural e acontece, principalmente, em função dos baixos estoques das concessionárias em dezembro, da persistente falta de produtos e da sazonalidade do período. Além desses fatores, a alta nas taxas de juros restringiu a aprovação de crédito para financiamentos e tivemos queda na renda do consumidor pelo aumento da inflação, em que pese tenhamos tido melhora dos níveis de emprego no país", explica José Maurício Andreta Jr., presidente da entidade.
Sobre a economia, Andreata Jr. também informa que houve maior seletividade na aprovação de crédito.
"Incertezas sobre a economia, as altas nas taxas de juros, com maior seletividade para a oferta de crédito afetam as condições de financiamento, e a falta de produtos, somada à piora dos índices da pandemia e às intensas chuvas em algumas regiões, provocaram queda na passagem de loja", analisa Andreta Jr., que afirma que a taxa de aprovação dos financiamentos gira em torno de 68% das propostas.
Já a Anfavea, associação dos fabricantes de automóveis, informou que, neste janeiro, a produção de automóveis foi de 145,4 mil unidades, 27,4% inferior à de janeiro de 2021. A entidade diz que as vendas também sofreram as consequências da falta de oferta e de problemas no varejo
"Foi um mês de recorde nas infecções por covid-19 no país e de chuvas acima da média para o período, o que afetou a produção dos fornecedores e dos fabricantes de veículos, e ainda afastou clientes das concessionárias", destacou o presidente Luiz Carlos Moraes.
O que é preciso para o carro baixar?
Para o Moraes, a única forma de fazer o preço do veículo baixar é o Brasil passar por mudanças estruturais. "Para trazer o consumidor que tem interesse em comprar um carro zero novamente para o mercado, estamos lutando por uma reforma tributária mais moderna e parecida com países desenvolvidos. O imposto representa entre 40% e 50% do valor de um carro, a média entre os países desenvolvidos é de 20%. Atualmente, o imposto tira do consumidor a possibilidade de comprar um carro", opina o executivo.
Moraes também explica que é preciso novas regras para o financiamento de automóveis que, segundo ele, tem problemas estruturais que elevam o custo da transação no Brasil.
"Para retomar um bem, por exemplo, o banco demora anos e acaba perdendo dinheiro. Estamos trabalhando para mudar algumas regras que possibilitem a redução das taxas, para que as parcelas caibam no bolso do consumidor."
Outro problema agrava a situação: a crise econômica. Com uma taxa de desemprego na casa dos 13%, o poder de compra dos brasileiros não acompanha a inflação. Por isso, a expectativa é que com o crescimento da economia e redução do desemprego, mais brasileiros possam comprar carros novos.
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