'Resto de rico': comprar carro de luxo com anos de uso é bom negócio?
Um Porsche Cayenne 2003 com motor V8 de 450 cv na faixa de R$ 90 mil, mesmo valor de um Toyota Corolla 2018 1.8 na versão direcionada para o público PCD. E aí, qual você escolheria? A proposta é realmente tentadora, e há muitos que preferem a primeira opção. Os chamados "restos de rico" nada mais são do que carros de luxo com bons anos e quilômetros rodados. Afinal, eles são uma barganha ou péssimo negócio?
Do ponto de vista de conforto, nível de equipamentos e diversão ao dirigir, pode ser uma maravilha ter na garagem o carro dos sonhos que seria inalcançável em uma versão mais nova, mas a realidade pode ser dura: devido aos equipamentos e tecnologias, a manutenção desse veículo será, pelo menos, três vezes mais cara do que a de um modelo generalista. Se esse for o único carro da família, a fantasia pode virar uma imensa cilada.
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O presidente da Fenauto (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores), Enilson Sales, explica que tem uma afirmação pessoal sobre o assunto: quanto mais caro é um carro, mais cara será a manutenção dele. E é exatamente por isso que esses modelos de luxo desvalorizam tanto com o passar dos anos, a ponto de ficarem "acessíveis": fica pesado mantê-los.
"É algo básico: o número de equipamentos faz o carro ficar mais caro. Para muitos, os olhos brilham quando veem um veículo desse ao seu alcance, mas esquecem que a revisão e as inevitáveis trocas de peças demandam muito dinheiro, no mínimo, três vezes mais, dependendo do conserto", diz Sales.
E não adianta tentar se convencer com a ideia de que "carro bom não quebra". Existem itens de desgaste natural que demandam uma substituição, como pneus, pastilhas de freio, filtros, entre outras. E, é claro, quanto mais rodado o modelo estiver, mais peças terá que trocar.
Além da manutenção
Outra questão é o seguro, que pode custar até o dobro de um carro "comum" mais novo e de mesmo preço. Para se ter uma ideia, um BMW X1 2.0 2012 custa em torno de R$ 70 mil, o mesmo que um HB20 1.6 Comfort Plus 2019, os valores do seguro completo desses carros - que cobre colisão e danos de terceiros - são de R$ 10.705 e R$ 5.390, respectivamente.
E não é um caso isolado: comparamos outra situação em que os modelos têm o mesmo preço, mas idades e padrões bem diferentes. Por R$ 75 mil o consumidor pode escolher entre um Audi A3 Sport 2.0 2012 e um Volkswagen Polo 200 TSI 2018. É preciso levar em consideração, no entanto, que o seguro do primeiro sai por R$ 10.349, enquanto o do segundo custa R$ 5.603.
Em alguns casos, como o Porsche Cayenne 2003, é difícil até achar uma empresa que assuma o risco de assegurá-lo. A Youse, por exemplo, plataforma utilizada para as simulações, não aceita modelos da marca.
Combustível
Depois de colocar o custo da manutenção e do seguro na ponta do lápis, é necessário considerar o consumo de combustível. É preciso lembrar que, na maioria dos casos, quanto mais potente um carro é, mais combustível ele precisará para se locomover.
Um V8 tem muita sede. É por isso que modelos como o Porsche citado percorrem apenas 3,7 quilômetros com um litro de combustível na cidade, enquanto carros generalistas e mais novos, que precisam atender aos requisitos da legislação quando o assunto são emissões de poluentes, percorrem, pelo menos, 10 km/l.
Para quem vale a pena?
Há casos em que dinheiro não é a única questão. Algumas pessoas passaram a vida sonhando com um carro e, anos depois, com uma situação financeira mais confortável, podem realizar o desejo antigo.
Para esse grupo, pagar mais caro em combustível, seguro e manutenção não é grande coisa perto do prazer de dirigir o seu sonho de consumo. Por isso, ninguém melhor para assumir um "resto de rico" do que outro rico.
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