Topo

Estudante usa Kombi para morar sobre rodas junto à faculdade: 'Liberdade'

Matheus Parize, de 20 anos, diz que não troca por nada a liberdade que sente por viver em uma casa sobre rodas  - Arquivo Pessoal
Matheus Parize, de 20 anos, diz que não troca por nada a liberdade que sente por viver em uma casa sobre rodas Imagem: Arquivo Pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

22/02/2022 04h00

Com o objetivo de ficar mais perto da faculdade e, ao mesmo tempo, gozar da liberdade de ir e vir sem se preocupar com contas fixas e aluguel, o estudante de psicologia Matheus Parize, 20, decidiu morar em uma Kombi, estacionada na frente da Universidade Santa Cecília, em Santos, no litoral de São Paulo.

O espaço no interior do veículo pode ser pequeno, mas atende a necessidades básicas de moradia. Entre os recursos estão fogão de duas bocas, geladeira de 12 volts, porta pote (uma espécie de banheiro químico), tomadas, plugues com USB para celulares, três caixas d'água de 17 litros cada, condicionador de ar, isolamento térmico, um sofá que vira cama para até 4 pessoas e muitas gavetas para guardar roupas e objetos.

Joelma é equipada com várias comodidades que a transformaram em uma casa sobre rodas - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Joelma é equipada com várias comodidades que a transformaram em uma casa sobre rodas
Imagem: Arquivo Pessoal

Na hora do banho, Matheus utiliza uma piscina infantil e uma cortina de lona para evitar que a água se espalhe pelo veículo. O chuveiro é uma ducha de mão, suficiente para lavar o corpo todo. A água do banho é despejada diretamente em uma boca-de-lobo.

Natural da capital paulista, a família de Matheus se mudou para Praia Grande, há alguns anos, movida pela vontade de morar no litoral. "Acho que essa ideia de viver viajando, conhecendo lugares, começou com meus pais. Eles sempre gostaram muito de fazer viagens de carro, parando nas cidades, visitando praias" contou o estudante ao UOL. "Daí eu ficava sonhando que, quando eu crescesse, ia morar numa casa sobre rodas".

Aos 16, estimulado pelos pais e pelos avós, ele começou a juntar o dinheiro necessário para a realização do sonho. O avô e o pai o ensinaram a investir na bolsa de valores e todo o dinheiro que ele ganhava dos familiares em natais e aniversários era aplicado em ações.

Os cerca de R$ 1 mil que aplicou inicialmente, mais os investimentos que realizava periodicamente, renderam dinheiro suficiente para que pudesse comprar o primeiro carro, repassado por um parente, aos 18 anos. Na ocasião, um Fiat Stilo.

Quando o tempo está firme, as refeições são feitas ao ar livre, utilizando mesa e cadeiras dobráveis - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Quando o tempo está firme, as refeições são feitas ao ar livre, utilizando mesa e cadeiras dobráveis
Imagem: Arquivo Pessoal

Com uma carteira de motorista provisória, o estudante começou a fazer corridas particulares, transportando passageiros indicados pela família e amigos. Ao conseguir a carteira definitiva, passou a trabalhar para aplicativos. Como ainda morava com os pais, todo o dinheiro que ganhava era revertido em aplicações financeiras.

Enquanto trabalhava, procurava na internet um veículo que pudesse comprar e que atendesse às exigências mínimas de uma casa sobre rodas. Em outubro do ano passado, o pai do rapaz viu um vídeo no YouTube, sobre uma Kombi amarela, toda equipada, à venda em Santa Catarina.

"Fomos então para lá. Eu, minha mãe e um amigo, de carro. Compramos a Kombi, que o dono tinha batizado de Xepa. Ela era linda, tinha tudo o que eu precisava. Meu amigo então voltou com o carro e eu e minha mãe voltamos de Kombi. A viagem dele de volta durou 8 horas. A nossa, 3 dias. Foi muito legal, paramos em vários lugares, conhecemos muitas pessoas".

Homenagem

De volta ao litoral paulista, Matheus rebatizou o veículo de Joelma, em homenagem à cantora, ex-integrante da Banda Calypso. "Ela tem uma força de superação por tudo o que aconteceu após a briga dela com o Chimbinha, uma vibe alto astral. Então eu pensei. Minha Kombi também é loira, afinal é amarela, e alto astral. Vai se chamar Joelma".

Morar em frente à faculdade tem inúmeras vantagens, segundo ele. "Eu tenho acesso rápido à biblioteca, posso dormir até mais tarde antes das aulas, sem falar na convivência maior com os meus colegas. A qualquer momento, eu posso dar a partida e pegar a estrada, isso me dá uma sensação de liberdade incrível. Não troco mais essa vida por nada".

O cãozinho Zeca, um vira-lata branco adotado por Matheus, mora com ele na Kombi - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O cãozinho Zeca, um vira-lata branco adotado por Matheus, mora com ele na Kombi
Imagem: Arquivo Pessoal

Zeca, um cãozinho vira-lata branco adotado por Matheus, vive com ele. Ele tem uma caminha só dele, água e ração à vontade e direito a ar condicionado ligado enquanto o estudante está em aula.

"Passeio com ele 5 vezes por dia. Antes de ir para a aula, no intervalo, depois da aula, no meio da tarde e à noite. Só quando estou em aula, ele fica aqui dentro, mas com o ar climatizado. Quando eu volto, ele gosta de ficar deitado do lado de fora, já fez amizade com meus colegas e com os vizinhos. Virou atração do bairro", brinca.

Matheus e o namorado, Gabriel, já fizeram várias viagens românticas a bordo da Joelma - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Matheus e o namorado, Gabriel, já fizeram várias viagens românticas a borda da Joelma
Imagem: Arquivo Pessoal

O namorado de Matheus, Gabriel, 22, aprova o estilo de vida do companheiro. Juntos, a bordo da Joelma, já fizeram várias viagens românticas, tendo como roteiro as praias do litoral. "Aqui a gente pode ter ao mesmo tempo liberdade e um espaço aconchegante para namorar. Viver de forma mais simples é imprescindível diante dos problemas que vemos no mundo, como a crise ambiental e a desigualdade social. O impacto de viver num lugar pequeno é muito menor para o planeta", declarou o estudante.

  • Veja as notícias do dia no UOL News com Fabíola Cidral: