Fim do único dono? Como venda de carros seminovos 'enlouqueceu' no Brasil
Único dono, cores neutras, poucos quilômetros rodados? Há alguns meses, tudo o que você sabia sobre preferências de consumidores de carros usados e seminovos foi por água abaixo. Com a escassez de modelos novos e aumento dos preços, o público precisou rever suas prioridades e novos itens passaram a ver essenciais, como baixo consumo de combustível e facilidade de manutenção.
De acordo com Enilson Sales, presidente da Fenauto (federação dos revendedores de veículos) o consumidor teve que ser mais tolerante, já que a demanda por modelos de segunda mão cresceu muito.
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"O comprador quer um carro de 30 mil km rodados, mas tolera um de 60 mil. O mesmo aconteceu com as cores: preto, branco e prata deixaram de ser prioridade. As pessoas passaram a aceitar o que estava disponível. Os carros não ficam mais encalhados por detalhes", disse Sales.
Até mesmo o clichê de "único dono" caiu por terra. Segundo Sales, ele passou a ser muito mais valorizado por quem vende do que por quem compra.
"Em resumo, a condição do carro em relação ao orçamento do cliente passou a ser o mais importante. Não importa se já teve um, dois ou três donos, desde que esteja bem cuidado. As outras questões: cor, modelo, marca, quilometragem, tudo deixou de ser tão relevante quanto era antes", opina.
Consumo é prioridade
Para o presidente da Associação Oficial de Revendedores de Veículos, Ari Pinheiro, o fator mais relevante para os atuais compradores de carros usados e seminovos passou a ser o ano, seguido pelo consumo de combustível.
"Antes da pandemia, as pessoas corriam de carro 1.0, era claramente mais difícil de vender. Hoje, a busca por esses motores cresceu devido ao consumo de combustível ao ponto deles virarem o carro-chefe em algumas lojas. Com o preço da gasolina, as pessoas querem carros que bebam pouco", comenta.
Pinheiro também afirma que o custo com manutenção passou a ser um fator decisivo, o que fez a procura por modelos mais baratos crescer ainda mais. "Não existe mais isso de comprar carro e só depois descobrir que ele consome muito", pondera.
Outra mudança, segundo Pinheiro, é que, diferentemente de meses atrás, as pessoas não chegam mais às lojas com marca e modelo na ponta da língua.
"O cliente tem em mente o ano do carro que ele quer, sem se importar com o modelo. Com alta demanda, eles vêm atrás de oportunidade, não importa se é um Ford Ka, Chevrolet Onix ou Hyundai HB20, querem ver o estado do veículo e o preço. Quilometragem e cor passarem a ser questões secundárias. Estamos vendendo, sem dificuldade, até carro laranja", brinca o presidente da associação.
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