Recall: 770 mil carros foram convocados em 2021 e adesão foi de apenas 2,2%
As campanhas de recall de veículos podem evitar milhares de acidentes e prejuízos materiais e um número assusta: apenas 2,2% dos mais de 770 mil carros convocados em 2021 foram submetidos aos reparos necessários. Isso significa que mais de 754 mil veículos continuam circulando com defeitos de fábrica capazes de colocar em risco a integridade física dos ocupantes e de terceiros.
A causa da baixa adesão seria problema de comunicação, da parte das montadoras, ou negligência do consumidor?
Regulamentado no Brasil de 1990, o recall é um instrumento de defesa do consumidor destinado a resolver defeitos de fábrica de produtos que já foram colocados no mercado. O recall automotivo é, de longe, o mais conhecido, responsável por 71% dos chamados em 2021. Contudo, nem todos os proprietários de veículos chamados estão dispostos a levá-los para conserto - que, por sinal, é gratuito.
Os dados são do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que lança amanhã (15) o boletim "Consumidor em Números 2021", por meio da Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor). Quando o assunto é recall, em 2021 foram realizadas 126 campanhas, independentemente do tipo de produto. Dessas, 90 foram direcionadas para o setor de automóveis.
Os números revelam um crescimento de campanhas no setor automotivo em relação ao ano passado, mas uma redução de veículos envolvidos: em 2020, foram 84 campanhas de recall e mais de 1 milhão de pedidos. No entanto, o cenário foi ainda mais preocupante, em 2020, apenas 199.398 mil foram verificados pelas empresas automotoras.
"O recall busca resguardar a saúde e a segurança do consumidor, razão pela qual não se trata apenas de um procedimento de comunicação de defeito de produtos e do respectivo recolhimento. Trata-se de instrumento para proteger direitos essenciais dos consumidores, como a saúde e a segurança. A Senacon considera que o defeito expõe consumidores a riscos de acidentes, com ameaça de danos à saúde e à segurança", analisa a Senacon, por meio de nota.
Dados sobre recall de meios de transporte em 2021:
+ Automóveis
Número de campanhas de recall: 90
Unidades afetadas: 770.966
Unidades atendidas: 16.861
Porcentagem de atendimento: 2%
+ Motocicletas
Número de campanhas de recall: 5
Unidades afetadas: 3.376
Unidades atendidas: 111
Porcentagem de atendimento: 3%
+ Bicicletas
Número de campanhas de recall: 2
Unidades afetadas: 491
Unidades atendidas: 0
Porcentagem de atendimento: 0
+ Motos aquáticas
Número de campanhas de recall: 1
Unidades afetadas: 68
Unidades atendidas: 17
Porcentagem de atendimento: 25%
Problema de comunicação?
A Senacon reconhece a falta de eficácia na comunicação com o consumidor como uma das questões para o baixo número de atendimentos dos veículos chamados, mas afirma que há uma melhora gradual.
Segundo o departamento, após a publicação da Nota Técnica nº 4/2020/CCSS, há dois anos, houve uma evolução significativa de diferentes setores no que diz respeito à comunicação do recall ao consumidor. O documento estabelece parâmetros a serem utilizados pela Coordenação de Consumo Seguro para a análise do pedido de dispensa da utilização de meios de mídia ou da necessidade de inclusão de outros diversos aos apresentados pelo fornecedor, considerando as diferentes variáveis como nível de rastreabilidade, perfil do público-alvo, além de eventuais indutores comportamentais e canais de divulgação mais compatíveis com os produtos afetados.
"A Senacon tem buscado formas para tornar o recall mais efetivo, com a finalidade de melhorar a comunicação aos consumidores, bem como os índices de atendimento, inclusive com busca de alinhamento de suas políticas com as da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Com isso, mais acidentes de consumo podem ser evitados e, consequentemente, direitos essenciais dos consumidores resguardados. Sabe-se, contudo, que os desafios de aperfeiçoamento persistem", afirma, por meio de nota.
Negligência do consumidor?
Para o consultor automotivo Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, que já passou por diversas montadoras, há mais um elemento a ser analisado nessa questão: a negligência do consumidor. "O consumidor não está muito preocupado em levar o veículo para recall, pois eles são anunciados em grandes veículos de comunicação, via mala direta, e-mail, entre tantos canais. Há casos em que a montadora oferece brindes para o consumidor que apresentar o veículo para ajuste, mas nem assim consegue atingir números satisfatórios", exemplifica.
Pagliarini explica que a falta de interesse com a manutenção no veículo vai além dos chamados de recall. "Para se ter uma ideia, em veículos com 3 anos de garantia, nem 60% dos proprietários levam para a segunda revisão. Ou seja, o consumidor perde um direito, algo que já é dele, como a garantia de fábrica, por falta de interesse. Quando o assunto é segurança, durabilidade e economia, que é o caso das substituições de recall, o engajamento é ainda menor."
Como saber se meu veículo foi chamado?
Por lei, os chamamentos para recall devem ser amplamente divulgados na mídia e nos mais diversos canais de comunicação. Mas se você perdeu o chamado, também pode consultar no site da montadora, onde é obrigatório constar a informação. Segundo a Senacon, os detalhes precisam estar em uma aba de fácil acesso, "a informação deve aparecer em até dois cliques, nos termos da nossa Portaria."
A Lei nº 14.071/2020, que entrou em vigor em abril de 2021 em todo o País, trouxe novas determinações sobre o recall, que passou a ser obrigatório. Desde então, o veículo somente será licenciado mediante comprovação do atendimento às campanhas de chamamento. Ou seja: pare ter o veículo licenciado anualmente, os proprietários serão obrigados a atender ao recall em até um ano a partir da data do início do chamado, e incluir essa informação no CRLV do veículo. Essa medida foi estipulada principalmente devido ao descumprimento da grande maioria dos condutores em realizar o recall.
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