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Após prisões e apreensões, influenciadores cancelam rifas ilegais de carros

Leo Avent é um dos influenciadores investigados por rifas ilegais e lavagem de dinheiro; ele teve veículos apreendidos - Reprodução
Leo Avent é um dos influenciadores investigados por rifas ilegais e lavagem de dinheiro; ele teve veículos apreendidos Imagem: Reprodução

Paula Gama

Colaboração para o UOL

29/03/2022 04h00

Após a deflagração de duas operações policiais que investigam rifas ilegais de carros e motos promovidas por influenciadores da área automotiva - Huracán, no Distrito Federal, e Cardano, em São Paulo -, perfis no Instagram que promovem esse tipo de sorteio resolveram "esperar a poeira baixar". A estratégia escolhida para passar despercebido frente às autoridades foi cancelar os sorteios vigentes e "sumir" das redes sociais.

Até o momento, as referidas operações contra os sorteios irregulares resultaram em pelo menos uma prisão e na apreensão de dezenas de veículos de suspeitos.

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Um dos influenciadores que decidiu se resguardar foi Lucas Brandão, conhecido por seu perfil "Red Brandão", com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram. Lucas já realizou rifas de diversos veículos e cancelou o sorteio que estava vigente, devolvendo dinheiro aos compradores - segundo ele afirma. Outra estratégia foi tornar a sua conta privada, quando só pessoas previamente autorizadas podem acessar o respectivo conteúdo.

Red Brandão garantiu que não fará mais sorteios - Reprodução - Reprodução
Red Brandão garantiu que não fará mais sorteios
Imagem: Reprodução

Quem também sumiu do Instagram foi o influenciador Wesley Alemão. Antes de apagar todas as publicações de seu perfil, com mais de 900 mil seguidores, chegou a publicar um vídeo dizendo que o sorteio de um carro da marca Mercedes-Benz e de uma moto BMW S1000 seriam as últimas "ações pagas" de seu perfil.

"Vai ser a última ação que eu faço. Eu fiz umas cinco ou seis ações neste ano porque todo mundo está fazendo. Mas a gente vai encerrar porque está dando muito problema", explicou o influenciador, destacando, segundo ele, que sorteios "grátis" de outros itens vão continuar.

Por sua vez, o site "Sorteio do Ninja" também cancelou o sorteio de um Audi TT por "motivo de força maior", segundo um SMS enviado aos participantes. O dinheiro cobrado pelos bilhetes teria sido devolvido, segundo a mensagem.

Por outro lado, há influenciadores sem medo das operações, como Dan GS, que tem mais de um milhão de seguidores; Quando foi questionado por um de seus fãs, afirmou que o próximo sorteio será no mês que vem - dois carros da marca BMW e um Range Rover Evoque. Segundo ele, dessa vez, a rifa será legalizada.

Outros influenciadores que já foram denunciados por UOL Carros por realizarem rifas ilegais, como Eduardo Razuk, Luan PetrolHead e Cabelo Batateiro continuam com seus perfis ativos, mas sem falar sobre sorteios.

Como foram as operações

Dan GS diz que voltará aos sorteios no próximo mês, com rifas de BMW e Evoque - Reprodução - Reprodução
Dan GS diz que voltará aos sorteios no próximo mês, com rifas de BMW e Evoque
Imagem: Reprodução

A operação mais recente foi deflagrada na última quarta-feira (24) pelos policiais civis do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais). A operação Cardano, contra esquema de lavagem de dinheiro e jogos de azar utilizando sorteio de carros de luxo, cumpriu mandados de busca e apreensão na cidade de São Paulo e nos municípios paulistas de Guarulhos, São Bernardo do Campo, Santa Bárbara D'Oeste, Sorocaba e Votorantim.

O objetivo da operação foi apreender veículos, equipamentos e documentos de diversos influenciadores por suposto envolvimento em esquemas de rifas ilegais - dentre eles, Leonardo Pires, conhecido como Leo Avent, e Bruno Alexander, o Buzeira.

Ao todo, foram apreendidos 24 veículos, 27 motocicletas, uma moto aquática e uma lancha. A maior parte é de luxo e as equipes também recolheram documentos e equipamentos.

De acordo com a Polícia Civil, os inquéritos investigam organizações criminosas que se dedicam à exploração de jogos de azar e lavagem de dinheiro.

"Foi criada uma modalidade de jogo de azar por meio digital. Os envolvidos utilizam plataformas de redes sociais, como Instagram e Facebook, para anunciar rifas e sorteios de diversos bens, principalmente veículos de luxo, obtidos com dinheiro de origem obscura. Os investigados multiplicam o dinheiro ilícito investido nas rifas. Os valores obtidos são posteriormente aplicados em outros investimentos, tudo com o intuito de lavar e multiplicar o dinheiro de origem ilícita", explica a polícia, por meio de nota.

Ao SBT, o delegado do Deic Fabio Pinheiro Lopes afirmou que um dos investigados, Leo Avent, tem passagens na polícia por roubo, furto e interceptação.

"Eles fazem rifas sem recolher nenhum tipo de imposto. O dinheiro não tem origem, eles compram carro de leilão por 30% ou 40% do valor original. Um carro de R$ 100 mil é vendido por R$ 1 milhão", explica o delegado, segundo o qual Avent vendia casas para lavar o dinheiro das rifas.

A outra operação aconteceu no Distrito Federal. Chamada de Huracán, levou à apreensão de nove carros de luxo, como Ferrari, Lamborghini e Mercedes, além de uma mansão no Park Way avaliada em R$ 4 milhões. Todos bens do youtuber Klebim, que tem mais de 4 milhões de seguidores em suas redes sociais, e acabou preso suspeito de exploração de jogos de azar, lavagem de dinheiro e associação criminosa. A operação ainda prendeu Pedro Henrique Barroso Neiva, Vinícius Couto Farago e Alex Bruno da Silva Vale. Todos eles foram soltos, mas com aplicação de medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica.

Em seu Instagram, Klebim afirma que todo patrimônio foi conquistado com trabalho. "Estou tentando ser forte, por todos que de verdade estiveram comigo nesses últimos dias. Não tem como dizer que estou bem, meu sonhos foram arrancados de mim, eu não quero aparecer muito por aqui no momento. Nunca fiz mal a ninguém e simplesmente vi tudo que conquistei ao longo de 12 anos de trabalho ir embora sem poder fazer nada."

Por que as rifas são ilegais?

Ostentação fazia parte do estilo de vida milionário do youtuber Klebim, que chegou a ser preso - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Ostentação fazia parte do estilo de vida milionário do youtuber Klebim, que chegou a ser preso
Imagem: Reprodução/Instagram

Segundo a Polícia Civil, uma associação criminosa era capitaneada por influencers como Klebim, que promoviam e rifavam veículos no Instagram e em canais do YouTube. Os veículos eram preparados com rodas, suspensão e som especiais e os sorteios eram anunciados na internet. Como possuíam milhares de seguidores, as rifas eram vendidas com facilidade.

De acordo com a corporação, valores angariados seguiam para contas de empresas de fachada e eram utilizados para aquisição de novos veículos, registrados em nome de "testas de ferro". Os suspeitos teriam movimentado cerca de R$ 20 milhões em apenas dois anos.

Chamados pelos próprios realizadores de rifas, sorteios deste tipo não têm registro nos órgãos competentes e se tornaram uma prática extremamente rentável.

Muitos organizadores tentam passar a impressão de legalidade ao dizer que as rifas promovidas são filantropia premiável e os sorteios, realizados pela Loteria Federal. De fato, essa modalidade de sorteio existe e nada mais é do que um título de capitalização emitido por instituições financeiras sob autorização da Susep (Superintendência de Seguros Privados), cujo resgate é destinado a entidades beneficentes.

Contudo, a prática não prevê a venda de cotas individualmente e sim a aquisição do título, que dá direito a um ou mais "números da sorte" para concorrer a prêmios.

Além da filantropia premiável, sorteios também podem ser realizados mediante certificado de autorização da Secap (Secretaria de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria), órgão do Ministério da Economia. Nesse caso, a comercialização de números, como era o caso de Klebim, também é proibida.

Conforme a Secap, é permitido a uma empresa sortear veículos e outros bens "por meio da venda de seus produtos" - ou seja, uma determinada quantia gasta dá direito a um ou mais números para concorrer aos prêmios. É o que costuma acontecer em ações promocionais de shoppings, por exemplo.

Cabe às entidades citadas fiscalizar as empresas e investigar eventuais suspeitas ou denúncias de irregularidades.

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