Carros icônicos de Fittipaldi têm 'jogo de esconde' para fugir de credores

Quando o assunto é automobilismo, o bicampeão da F-1 Emerson Fittipaldi é um dos principais nomes da história do Brasil. Igualmente icônico é o acervo de veículos que marcaram a vitoriosa carreira do ex-piloto. A lista inclui modelos Copersucar da equipe fundada por ele e o irmão Wilson Fittipaldi Jr, além de exemplares da Penske, com os quais Emerson ganhou duas vezes as 500 Milhas de Indianápolis na Fórmula Indy.

Esses veículos estão no Brasil e têm valor inestimável, mas andam escondidos para fugir de credores de Emerson, que hoje mora em Orlando (EUA) e acumula mais de R$ 55 milhões em dívidas no País. O primeiro piloto nacional a faturar o título da Fórmula 1 responde a pelo menos 145 processos judiciais para cobrar esses débitos.

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Segundo apuração de UOL Carros, há cerca de quatro meses a coleção estava guardada nos fundos do galpão da fábrica de veículos Athos by Chamonix, em Jarinu (SP), coberta por lonas. No entanto, os carros já foram retirados do local e hoje têm paradeiro desconhecido.

Esse é apenas mais um capítulo do verdadeiro "jogo de esconde-esconde" envolvendo o acervo. Em dezembro de 2019, UOL Carros conferiu de perto os veículos, que na época estavam reunidos por Paulo "Loco" Figueiredo, antigomobilista e amigo da família Fittipaldi, em um imóvel na região central da capital paulista.

A visita ao museu informal, denominado "Espaço Fittipaldi", contou com as presenças do próprio Emerson, do irmão Wilson e de familiares - e rendeu reportagem publicada por UOL Carros em 5 de fevereiro do ano seguinte.

Na ocasião, Figueiredo disse à nossa reportagem que havia reunido e restaurado os carros e que buscava patrocínio para transformar a coleção em museu. Assim que a matéria foi ao ar, a polícia procurou o responsável pelo espaço para solicitar a verificação dos veículos - que em seguida foram retirados do local.

Questionado por UOL Carros sobre a localização atual dos carros, Figueiredo diz não saber nada sobre o assunto. "O galpão não existe mais. Os carros foram reunidos para uma festa que eu fiz e os devolvi logo após o evento", afirma o antigomobilista, que foi intimado pela Justiça em março de 2021, em favor de um banco credor de Emerson, a revelar o paradeiro de dois automóveis da coleção então penhorados - ou seja, que deveriam ser retidos judicialmente para pagamento dos débitos.

Proprietário da Athos by Chamonix, Newton Masteguin, filho do falecido Milton Masteguin, sócio-fundador da extinta Puma, confirma que os veículos do "Espaço Fittipaldi" estiveram sob sua guarda "por algum tempo", mas "já retornaram para ele [Fittipaldi]".

Dívidas em profusão

Além de sua trajetória no esporte, Emerson, hoje com 75 anos, tem uma carreira como empresário, durante a qual acumulou muitas dívidas. Com o intuito de reaver o dinheiro, credores buscam a penhora de bens em nome de Fittipaldi, incluindo ao menos parte da coleção de carros históricos.

A lista de credores inclui a Sax Logística de Shows e Eventos, que cobra uma dívida de cerca de R$ 416 mil do ex-piloto. No ano passado, a empresa teve uma importante vitória: conseguiu que a Justiça penhorasse 14 veículos "comuns" de Emerson para pagamento da dívida: três motos, três caminhões e oito automóveis, incluindo um Mitsubishi Pajero e um Pontiac.

No entanto, segundo Paulo Carbone, advogado da companhia, foram encontrados apenas dois Chevrolet Astra e um Monza no local onde estariam os bens.

"Os veículos penhorados foram encontrados em nome de Fittipaldi no sistema Renajud, mas isso não significa que estivessem em poder dele. Na prática, Emerson está escondendo os carros dos credores, já que no Brasil não é crime deixar de apresentar o bem penhorado. Os credores ficam buscando", disse o advogado.

Carros históricos já foram apreendidos

O UOL Carros procurou a defesa de Emerson Fittipaldi para perguntar sobre a situação dos carros. O advogado Donato Santos de Souza disse apenas que, em 2016, a Justiça decidiu que os veículos não podem ser penhorados porque não pertencem ao ex-piloto, e sim a um museu vinculado a ele e atualmente inativo.

A decisão, de fato, existe e faz parte de um processo movido pelo Banco ABC, que chegou a levar à apreensão do Copersucar Fittipaldi de 1977 (Fórmula 1) e do Penske Chevrolet de 1989 (Fórmula Indy). A penhora, no entanto, foi cancelada.

De acordo com decisão do juiz Rogério Marrone de Castro Sampaio, os carros de Emerson agora pertencem ao Museu Fittipaldi e essa situação impede que eles sejam vendidos para obter lucro. Segundo a decisão, alguns deles passaram por um acordo específico com a Receita Federal para entrar no País - e vendê-los seria entrar em situação fiscal irregular.

A decisão, no entanto, é válida apenas para esse processo específico. Outras ações têm autorização ativa de penhora de alguns dos carros históricos.

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