Caloi com preço de carro? Como reedição de bike virou febre e inflacionou
Nos anos 80, as bicicletas do tipo BMX eram moda e faziam bastante sucesso no Brasil, após surgirem no filme "E.T. - O Extraterrestre", de 1982. Dentre as opções vendidas na época, a Caloi Cross Exrta Light, produzida com peças de alumínio, era uma das mais desejadas pelas crianças e adolescentes.
Sabendo disso, a Caloi relançou o modelo em outubro do ano passado, trazendo o humorista Renato Aragão como garoto-propaganda. A produção foi limitada a apenas 500 unidades - metade na cor vermelha e as demais 250 na tonalidade azul.
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Hoje, é quase impossível encontrar uma no varejo. Devido à elevada demanda, os poucos exemplares disponíveis dessa nova safra, sejam seminovos ou nunca rodados, são oferecidos em sites de comércio eletrônico por uma pequena fortuna - há bicicletas anunciadas por até R$ 20 mil, dinheiro suficiente para adquirir um carro usado. Detalhe: a Caloi informa preço sugerido de R$ 4.000 para a Extra Light.
Segundo colecionadores e entusiastas disseram à reportagem de UOL Carros, existem de fato pessoas que pagam tanto dinheiro pela reedição de 2021 - cujos preços superam até valores pedidos por exemplares originais da década de 1980.
De acordo com relatos, os preços inflacionados da Caloi Cross Extra Light seguem a mesma lógica de carros brasileiros contemporâneos, como VW Gol GTI, cujos preços dispararam ao longo dos últimos anos.
Tal qual o hatch esportivo, essa bike é rara e traz forte apelo emocional para quem era jovem na época do lançamento - e, já se aproximando dos 50 anos, atualmente tem dinheiro sobrando para bancar essa volta ao passado.
'Volta à infância'
Aos 45 anos, o empresário Rodrigo Freitas não adquiriu a reedição, mas possui seis unidades originais de bicicletas BMX, a maioria do modelo Caloi Cross, que ele montou com peças do tempo em que era adolescente.
Morador de Curitiba (PR), ele iniciou sua coleção há oito anos e diz conhecer gente que acumula mais de 50 exemplares da desejada bicicleta.
"Desde o início da pandemia, por conta das restrições à circulação, muitas pessoas começaram a se dedicar a hobbies, dentre eles o colecionismo. Isso fez com que itens desejados subissem de preço. No caso dos carros antigos, por exemplo, o dinheiro que se pagava em um Chevrolet Opala há dez anos hoje subiu demais. O mesmo vale para algumas bicicletas".
Freitas diz que, no seu caso, bikes antigas são uma paixão que o faz voltar à infância, enquanto para outros é um investimento, pois existem produtos cujo preço dispara com o passar do tempo.
"Existem, ainda, pessoas que não têm nenhum apego afetivo e simplesmente veem nessa onda uma fonte de renda, Buscam bicicletas e peças a preços baixos para revendê-las em seguida por valores muito maiores", afirma.
De acordo com o empresário, no caso específico da Extra Light, um pedal original pode facilmente passar de R$ 1.000 - o mesmo vale para o par de pneus coloridos de época, que, segundo ele, deixaram há muito tempo de ser fabricados para reposição.
Quanto à reedição, o colecionador diz saber de pessoas que já teriam desembolsado cerca de R$ 20 mil por um único exemplar, fazendo valer a "lei da oferta e procura" - ainda que a bicicleta lançada em 2021 não seja exatamente idêntica àquela da sua infância e adolescência.
"Muitas pessoas criaram a expectativa de que a reedição seria uma cópia fidedigna da bicicleta original e haveria novamente oferta de peças idênticas às utilizadas há mais de 30 anos. Contudo, muitas já não existem mais para venda e foram substituídas por componentes atuais, apenas parecidos com os originais. Isso criou grande frustração em muita gente".
Ele acrescenta que a baixa produção da nova Extra Light, insuficiente frente à elevada demanda, criou distorções nos preços e foi "um tiro no pé" da Caloi - após muitas reclamações, a empresa veio a público dizer que mais unidades serão fabricadas, sem especificar quando (leia mais a respeito abaixo).
Ágio elevado
No Facebook, o perfil Mardo Bikes diz ter comprado uma reedição pelo preço sugerido de R$ 4.000 "com a ajuda de amigos".
"Para mim, não é um conjunto de peças dependuradas em um quadro e sim uma simbologia que marcou uma época que tive o prazer de viver cada momento".
Segundo ele, a Caloi repassou as bicicletas aos revendedores por R$ 2,7 mil e sugeriu a revenda por R$ 3.999.
"Tirando os impostos, os lojistas ainda teriam um bom lucro. Porém, a procura por essas bikes foi muito maior que a disponibilidade e viram a oportunidade de lucrar muito em cima de cada exemplar. Brasileiro não perde a oportunidade de lucrar. Infelizmente, foi isso que aconteceu".
Caloi diz que irá 'retomar projeto'
A onda de críticas de fãs da Caloi a respeito da baixa produção e da cobrança de ágio na aquisição da Extra Light 2021 fez a marca se pronunciar nas redes sociais no fim do ano passado.
Em comunicado veiculado no perfil da marca no Instagram, a empresa se disse disposta a "consertar uma confusão" e acrescentou que "um número pequeno de bikes não foi e nunca será suficiente".
A publicação incluiu pronunciamento de Cyro Gazola, presidente da marca fundada no Brasil há mais de 120 anos e que desde 2013 é controlada pela canadense Dorel Sports - adquirida no ano passado pelo grupo holandês Pon.
"Quero deixar registrado aqui que estamos empenhados em retomar o projeto da Caloi Cross Extra Light no Brasil. Estamos sentidos com a repercussão, mas vamos transformar essa energia e paixão pela marca em uma retomada desse projeto", disse o executivo.
Nos últimos anos, além da Extra Light, a Caloi tem promovido o relançamento de modelos clássicos da marca, como Caloi 10 e Mobylette, alguns igualmente com produção limitada.
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