Topo

Mudanças no Uber: por que usuários têm sofrido para obter corridas curtas

Uber - Mudanças agradaram parte dos motoristas, mas passageiros relatam ainda mais dificuldades
Uber Imagem: Mudanças agradaram parte dos motoristas, mas passageiros relatam ainda mais dificuldades

Paula Gama

Colaboração para o UOL

28/04/2022 04h00

Na tentativa de agradar os motoristas parceiros, há cerca de três semanas, a Uber decidiu atender a uma solicitação antiga da categoria: mostrar o valor e o destino da viagem antes de serem aceitas. O pacote de alterações também incluiu mudanças na tarifa dinâmica, quando a oferta de carros é muito menor que a procura. As novidades, no entanto, não agradaram a todos os trabalhadores e ainda desagradaram os usuários, que afirmam que ficou ainda mais difícil conseguir corridas.

UOL Carros conversou com cerca de 50 usuários ativos da plataforma, de diversas capitais do país, e a percepção é praticamente unânime: os transtornos para conseguir corridas estão ainda mais recorrentes, principalmente trajetos curtos e, consequentemente, mais baratos.

  • O UOL Carros agora está no TikTok! Acompanhe vídeos divertidos, lançamentos e curiosidades sobre o universo automotivo.

A publicitária Nathália Rocha explica que usa Uber ativamente desde o lançamento da plataforma no país, mas que esse é o momento mais crítico desde então.

"O preço mudou, claro, por conta dos aumentos dos insumos, mas a principal questão é a redução da qualidade do serviço. Virou padrão esperar mais de 30 minutos por um carro, e quando tem corrida barata eles normalmente não aceitam. Por conta disso, estou recorrendo a outros aplicativos que não usava antes", conta a moradora de Vitória.

Já a fotógrafa Beatriz Sales, da cidade de São Paulo, reclama do alto preço da tarifa 'dinâmica'. "A realidade é que eles não aceitam mais corridas rápidas e baratas, a não ser quando estão com preço dinâmico, mas são sempre valores irreais para trajetos tão curtos", argumenta.

A bancária Renata Zucchi passou dificuldades até mesmo em uma corrida considerada "boa", de Santos ao Guarujá. "Dois motoristas cancelaram, e o que aceitou escreveu por mensagem no aplicativo que para ele não valia a pena a corrida, só se eu pagasse por fora. No APP, a corrida era R$ 90,00, ele queria que eu pagasse para ele R$ 150,00", relata.

Motoristas estão divididos

Desde que começou a pandemia, e a onda de cancelamento de corridas de aplicativo cresceu, os motoristas fazem duas reivindicações: aumento dos valores recebidos e a possibilidade de ver o destino antes de aceitar a viagem. Apesar de o segundo pedido ter sido atendido, nem todos estão satisfeitos com a plataforma.

Presidente da Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo (AMASP), Eduardo Lima de Souza afirma que os motoristas reclamam de estar ganhando menos, mas estão divididos sobre as novas regras do preço dinâmico. Antes, quando havia mais clientes buscando por corridas do que carros disponíveis, a tarifa dinâmica se apresentava em forma de multiplicador, a corrida ficava, por exemplo, 1,5 vez mais cara. Com a mudança, o aumento é demonstrado com valores fixos, ela fica R$ 5 ou R$ 10 mais cara, por exemplo, dependendo do número de carros disponíveis, entre outros fatores.

"A corrida cobrada por valor fixo [outra novidade] também está gerando divisão na classe. Na prática, acontece o seguinte: a plataforma calcula um preço fechado para o destino, ou seja, se o passageiro pedir para ir por um outro caminho ou o trânsito piorar, não há acréscimo no valor. Para alguns, vale mais a pena trajetos mais longos, para outros, a mudança faz com que as corridas curtas sejam mais interessantes, pois há menos risco de andar mais pelo mesmo preço", explica.

De acordo com o presidente da associação, o principal fator para a escassez de motoristas na rua é o valor repassado pelas plataformas. "A principal reclamação é que a empresa está ficando com mais de 50% das corridas. Cobram mais caro do passageiro, mas repassam menos para o motorista. O trabalhador ganha o mesmo desde 2016, mas as corridas de aplicativo estão entre os itens que mais encareceram nos últimos dois anos."

Uber diz que não fica com metade da receita

Perguntamos à Uber se a plataforma retém mais da metade dos valores das corridas, como afirma a associação. A empresa diz que não, mas não informa quanto é retido pelo sistema:

"A informação não procede. Não houve nenhuma mudança na taxa de serviço cobrada dos motoristas parceiros pela intermediação de viagens. No passado, essa taxa era fixa em 25%, mas desde 2018 ela se tornou variável para que a Uber tivesse maior flexibilidade para usar esse valor em descontos aos usuários e promoções aos parceiros. Como esse percentual não é fixo, podem surgir dúvidas porque em algumas viagens ele pode ser maior e em outros pode ser menor. É por isso que todos os motoristas parceiros ativos recebem semanalmente, por e-mail, um compilado sobre os seus ganhos que mostra precisamente o quanto ele pagou de taxa Uber naquela semana".

Sobre a aceitação das mudanças, a empresa diz que antes da nova atualização ser expandida nacionalmente, o recurso que exibe o endereço completo de destino da viagem foi implementado em várias cidades do país e aprimorado de acordo com os resultados de diversos testes, incluindo a adição das informações complementares da viagem hoje apresentadas na tela do aplicativo.

"Ao informar na tela de solicitação o destino detalhado da viagem, a Uber atende uma demanda dos próprios motoristas parceiros e se equipara nesse particular ao que já vinha sendo praticado por outras empresas de aplicativos de intermediação de viagens", concluiu a empresa.

Quer ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito? Participe do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros. Você também pode acompanhar a nossa cobertura no Instagram de UOL Carros.