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OPINIÃO

Novo Nissan Sentra: testamos o candidato a principal rival do Corolla

Nova geração do sedã médio chega ao país neste ano - Divulgação/ Nissan
Nova geração do sedã médio chega ao país neste ano Imagem: Divulgação/ Nissan

Paula Gama

Colaboração para o UOL

29/04/2022 04h00

A decisão da Honda de importar a próxima geração do Civic do Canadá - o que certamente elevará consideravelmente o preço do veículo - deixará um espaço aberto no mercado de sedãs médios: o de principal rival do Toyota Corolla. Importado do México, que possui acordo de livre comércio de veículos com o Brasil, o Nissan Sentra pode ser o candidato mais bem preparado para esse posto. Testamos duas versões na Flórida, nos Estados Unidos, onde já está sendo comercializado, e avaliamos os prós e contras do japonês que deve chegar ainda neste ano no país.

Em 2021, o Toyota Corolla teve 41.981 unidades vendidas, conquistando a posição de 13º carro mais vendido no país, mesmo em um momento em que a preferência nacional é por SUVs. O fenômeno é responsável por mais de 50% de participação na categoria de sedãs médios e o seu principal rival, que neste ano está sumido do mercado, o Civic, tem 24,48% das categorias, com quase 19 mil exemplares comercializados no último ano. Se chegar ao Brasil bem posicionado, o Sentra tem potencial para atrair clientes dos outros dois japoneses.

Novo Nissan Sentra tem design que remete a modelos fastback - Foto: Nissan | Divulgação - Foto: Nissan | Divulgação
Novo Nissan Sentra tem design que remete a modelos fastback
Imagem: Foto: Nissan | Divulgação

No mercado americano, a Sentra é apenas o terceiro sedã na hierarquia da Nissan, acima dele, estão Altima e Maxima, maiores e mais caros. Ainda assim, ele se destaca pela generosa lista de equipamentos. Testamos a versão intermediária, SV, e a topo de linha SR, que custam, respectivamente, 19.810 e 22.400 dólares. Ambas são equipadas com motor aspirado 2.0 de quatro cilindros com injeção direta de combustível movido exclusivamente a gasolina acoplado a um câmbio CVT.

Nada de tiozão

Se o Corolla GR-S mostra que os sedãs médios querem se livrar da fama de "carro de tiozão", o visual do Sentra reforça essa ideia, principalmente com as cores e opções de teto bitom oferecidas nos Estados Unidos. Se virão para o Brasil já é outra conversa?

O desafiante tem uma linha de cintura alta e, com exceção da versão de entrada, é equipado com rodas de liga de 16 ou 18 polegadas, dando um ar mais esportivo. Na traseira, bem clean, por sinal, há um aerofólio discreto, mas que não passa despercebido.

Por dentro ele mostra a que veio: é forrado com couro sintético nas áreas de contato, o material, que é macio ao toque, tem um aspecto de alta qualidade. Os encaixes são perfeitos e todos os aspectos da cabine dão a impressão de que o carro realmente vale quanto custa, impressão que não existe no líder da categoria.

A qualidade do material interno é facilmente percebida  - Divulgação/Nissan - Divulgação/Nissan
A qualidade do material interno é facilmente percebida
Imagem: Divulgação/Nissan

O veículo tem como base a plataforma modular CMF-C/D, versão para modelos médios do grupo Renault-Nissan-Mitsubishi. Com isso, ele mede 4,64 metros de comprimento, 1,81 m de largura, 1,45 m de altura e conta com 2,71 m de entre-eixos. O que resulta em um espaço interno bem interessante, principalmente para quem viaja no banco de trás. O porta-malas, no entanto, encolheu: tem 405 litros.

Conjunto motriz

O powertrain do Sentra entrega 147 cv a 6 mil rpm e 20 kgfm de torque a 4 mil rpm e se enquadra nas exigências do Proconve L7. Na prática, ele se mostra realmente econômico. No mercado norte-americano, a Nissan divulga um consumo entre 29 e 39 milhas por galão, ou seja, entre 12,3 km/l e 16,5 km/l de combustível. Em nosso teste, ficamos a maior parte do tempo pouco acima dos 16 km/l em um percurso misto, com trechos de cidade e estrada.

Como é equipado com um câmbio CVT, é preciso ter parcimônia no acelerador, com um aumento gradual de velocidade, caso contrário, a média de consumo de gasolina não ficará tão interessante. Também é importante ponderar que o trânsito e as estradas americanas são diferentes das nossas, com menos obstáculos e paradas desnecessárias, o que, por si só, já ajuda na economia de combustível.

O ponto alto do conjunto motriz é a economia, mas o Sentra também é um carro agradável de dirigir, estável nas curvas e honesto na entrega de potência em ultrapassagens e retomadas. Não espere, no entanto, um nível altíssimo de diversão ao volante, apenas o que é natural para um sedã médio, nada mais, nada menos.

Para colocar um sorriso no rosto, há o modo Sport, que aprimora a resposta do acelerador e o ajuste da transmissão, mas, ao menos no mercado americano, fica devendo as borboletas para trocas de marcha manuais atrás do volante.

Conta pontos na qualidade da condução os bancos dianteiro chamados de Gravidade Zero, que são bem confortáveis. O do motorista tem ajuste elétrico até para a lombar. Porém um item decepcionou bastante: o freio de estacionamento, assim como no Toyota Corolla Cross brasileiro, é no pé. Uma solução completamente ultrapassada nos tempos de freio de estacionamento elétrico, acionado com um dedo.

Lista generosa de equipamentos

A versão topo de linha tem diversos assistentes de condução - Divulgação/ Nissan - Divulgação/ Nissan
A versão topo de linha tem diversos assistentes de condução
Imagem: Divulgação/ Nissan

Para quem busca tecnologia, a lista de equipamentos pode ser o ponto alto do sedã. Mas antes de comemorar é bom avisar: não é garantido que todos eles estejam presentes no veículo que será disponibilizado no Brasil nos próximos meses. A versão de entrada vem com central multimídia compatível com Android Auto e Apple Carplay, partida por botão, ar-condicionado dual-zone, aquecedor de volante e bancos, Wi-FI, câmera 360º e aviso de colisão frontal. Já a topo da gama, "apenas" 2.500 dólares a mais, tem uma lista enorme de assistentes de condução e conforto.

Completo, o Nissan Sentra tem assistência de estacionamento, controle de cruzeiro adaptativo, frenagem automática de emergência frontal e traseira, aviso de ponto cego, alerta de saída de faixa, farol alto automático, alerta de tráfego cruzado na traseira, leitor de placas de trânsito e sensor de fadiga do motorista.

Vai se adaptar no Brasil?

Com a atual configuração de sedãs médios do país, o Sentra tem a faca e o queijo na mão para tomar a segunda posição de vendas, mas não significa que ele terá o sucesso do Civic ou que ameaçará o Corolla - que há anos tem um recall de marca impecável. Contudo, se vier com um pacote de equipamento ao menos semelhante ao dos Estados Unidos e um preço interessante, pode ganhar espaço.

No México, de onde será importado, custa entre R$ 89,4 mil e R$ 124 mil em conversão direta, mas naturalmente os preços serão reajustados para a realidade do mercado brasileiro, incluindo também o custo do transporte. Para se ter uma ideia, a versão inicial do Toyota Corolla parte de R$ 145.350, e a do Chevrolet Cruze, outro concorrente, de R$ 137 mil.

Para evitar uma piada pronta, seria necessário incluir dois pontos. O primeiro parece um item básico, e chega a ser engraçado um carro ter tantas tecnologias, mas falhar nesse ponto, mas as exigências americanas são diferentes das nossas. Estou falando do vidro elétrico que fecha com apenas um toque e ao fechar o carro no controle remoto. Outro equipamento importante de ser incluído são as borboletas para trocas de marchas atrás do volante.

Acertando isso, a Nissan terá que trabalhar para levar a um consumidor tradicional uma opção com a qual ele não estava acostumado. Nos próximos meses, veremos como a marca se sairá.