Carros hackeados: veja as novas ferramentas usadas por ladrões de veículos
Os carros estão cada vez mais conectados e parecidos com smartphones, tamanha é a quantidade de componentes eletrônicos necessários para fazê-los funcionar. Enquanto a tecnologia agrega conforto aos ocupantes e novas funcionalidades aos veículos, ela também pode trabalhar a serviço do crime: bandidos têm recorrido a equipamentos digitais para "enganar" a eletrônica e explorar vulnerabilidades com o objetivo de furtar veículos.
Se antigamente o kit de ferramentas dos ladrões era composto apenas por itens analógicos, como chave de fenda, alicate e até arame, hoje ele agrega aparelhos adquiridos prontos ou montados com peças facilmente encontradas na internet, a preços relativamente baixos e de maneira legal.
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Esses novos dispositivos e métodos podem ser utilizados individualmente ou combinados para invadir um veículo e levá-lo em poucos segundos, Além disso, são constantemente atualizados para acompanhar e burlar a evolução dos recursos de segurança implementados pelas montadoras.
Confira cinco exemplos de técnicas e estratégias adotadas atualmente pelos "amigos do carro alheio".
Clonagem da chave presencial
Os sistemas keyless, que permitem abrir as portas e dar a partida no motor com a chave no bolso, tornaram-se o mais novo alvo de criminosos.
Os bandidos agem sempre em dupla: o primeiro carrega na mochila um dispositivo equipado com antenas que capta o código da chave presencial e o transmite para outro aparelho, mais compacto, que pode ser um smartphone com software específico. Com esse equipamento, o segundo bandido, posicionado ao lado do automóvel, consegue destravar as portas, entrar na cabine e escapar com o carro.
"Estou certo de que esse é apenas o início de algo que vai se tornar muito maior no Brasil. A quantidade de veículos vulneráveis a essa técnica já é grande no País e irá crescer. Hoje é mais fácil furtar um carro keyless do que um convencional e isso fomenta esse tipo de ação criminosa", destaca Ricardo Tavares, especialista em segurança cibernética.
As chaves presenciais utilizam um sinal de rádio emitido por meio de pulsos, comunicando-se o tempo inteiro com sensores instalados no veículo.
Esse sinal contém um código de segurança que deve ser reconhecido pelo automóvel para liberar a abertura das portas e a partida do motor.
Segundo Tavares, a tecnologia de chave presencial essencialmente é a mesma, independentemente da montadora, contudo algumas marcas acrescentam "camadas" adicionais de segurança e criptografia.
"Se um veículo for recuperado após essa modalidade de furto, recomendo solicitar em uma concessionária a recodificação da respectiva chave".
Existe uma solução relativamente simples e barata para se prevenir de ataques do tipo. É possível comprar na internet uma espécie de estojo no qual você coloca a chave do veículo dentro. Ele bloqueia o sinal de rádio emitido pela chave, impedindo que hackers 'roubem' o código
Outra solução, ainda mais acessível, é embrulhar a chave com papel alumínio, destaca Ricardo Tavares.
Vacina contra rastreador
Concebido para auxiliar na recuperação de automóveis e utilitários furtados, o rastreador hoje vem de fábrica em muitos modelos e é exigido por seguradoras para a contratação da apólice de alguns tipos de veículos, como caminhões e picapes a diesel.
Os criminosos sabem disso e recorrem a um equipamento conhecido como jammer ou "capetinha", que "embaralha" o sinal de rádio emitido pelo rastreador, impedindo ou dificultando a localização do bem furtado.
Basicamente, trata-se da mesma tecnologia utilizada para bloquear o sinal de celulares em presídios.
Existem variações do jammer para interferir em variadas frequências e neutralizar diferentes tipos de localizador, informa Rodrigo Boutti, gerente de operações da Ituran - empresa especializada em rastreamento veicular.
"Já vimos jammer com 16 antenas e cada antena interfere em uma frequência específica. Existem equipamentos com alcance de até 100 metros em áreas abertas, muito utilizados em desmanches de veículos para abastecer o mercado ilegal de peças", destaca Boutti.
'Vassourinha'
Rodrigo Boutti esclarece que dificilmente o responsável pelo furto também realiza o posterior desmanche.
Conforme o especialista, o ladrão costuma receber a encomenda de um determinado veículo antes de furtá-lo.
Boutti pontua que, além do jammer, cuja eficácia não é garantida, bandidos recorrem a um equipamento conhecido como "vassourinha", na tentativa de detectar o sinal do rastreador e até sua localização no carro.
"As organizações criminosas têm integrantes conhecidos como 'desliga', que utilizam a 'vassourinha' para encontrar e remover ou neutralizar o rastreador após o furto".
O aparelho é ofertado em sites de comércio eletrônico, inclusive com essa denominação, como dispositivos contra escutas e câmeras de espionagem, que também fazem uso de ondas de rádio.
Transplante de cérebro
Todo automóvel moderno vem equipado com uma ECU, a central de gerenciamento eletrônico que é considerada o 'cérebro' do motor e comanda desde a respectiva ignição até a injeção de combustível.
Após ganharem acesso ao interior do veículo, muitos criminosos substituem a ECU original, que via de regra fica embaixo do capô, por outra, hackeada.
O módulo modificado é idêntico ao original, mas costuma trazer botões físicos para injetar combustível e liberar o acionamento do motor de arranque e do sistema de ignição antes do furto ser consumado.
"Com a ECU hackeada, o criminoso consegue dar a partida no veículo sem a chave, bastando arrombar e girar o respectivo miolo, geralmente posicionado junto à coluna de direção", diz Boutti.
Rodrigo explica que os botões são necessários por se tratar de uma ECU "zerada", que ainda não identificou o combustível com o qual o veículo foi abastecido para fazer a necessária calibragem do sistema de injeção.
'Chapolin'
Criminosos também usam um dispositivo conhecido como "chapolin", semelhante ao controle remoto de portões, ou até mesmo o próprio controle, para impedir o travamento das portas do veículo.
O bandido fica escondido no estacionamento, esperando a vítima apertar o botão na chave, com a expectativa de trancar o carro. Nesse momento, o ladrão aciona o dispositivo.
Quando os dois sinais são emitidos ao mesmo tempo, a informação de travamento das portas não chega ao seu destino.
Com as portas destravadas, o ladrão abre o veículo com tranquilidade e leva os objetos de valor em segundos. Por isso, a dica é sempre checar se o carro está realmente fechado.
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